Entrevista - AraçáENTREVISTAS

Conheça o escritor e compositor carioca Zé Arnaldo Guimarães

@zearnaldoguimaraes

A Revista P&P está apresentando seus novos colunistas. Conheça o professor, escritor e compositor carioca Zé Arnaldo.

1. Apresente-se

Sou Zé Arnaldo Guimarães, professor, mestre e doutor em Língua Portuguesa. Passei a escrever cotidianamente durante a pandemia, para não enlouquecer. Houve quem, nesse período, passasse a cozinhar, a costurar, a pintar, a fazer lives… Eu me dediquei à escrita. Escrevi onze contos e mais de cem crônicas, que publicava regularmente no Facebook. Em 2022, escolhi trinta delas e publiquei no livro “Crônicas atemporais”. Entre os contos, tive três incluídos em antologias, por meio de concursos promovidos por editoras e promotores culturais: “Cemitério”, “Marca do pênalti” e “Em domicílio”, que estão por aí. Os poemas, escritos ao longo da vida, publiquei por conta própria, na Amazon, sob o título “Palavra sã”. As canções, gravo no celular e me exponho no Instagram.

2.Você tem uma versatilidade na escrita, isso comprovado pelas suas publicações. Como você desenvolveu tal habilidade?

Sou professor de LP e Lit Bras, o que me obriga, prazerosamente, a lidar com textos diferentes na prática do magistério. O contato diário com crônicas, poemas, contos e letras de canção popular me tornou, acho, íntimo desses gêneros. Talvez por isso, escrever textos nesses formatos não me é, de modo algum, embaraçoso. Obviamente, há também muito esforço, muita repetição, muito treino e, sempre, muita leitura, porque eu acho que escrever é resultado dessas duas coisas: muita leitura e muita prática da escrita. Nessa ordem!

3.Você é compositor, especialmente de samba. Conte-nos um pouco sobre.

Componho desde antes de saber escrever. Na infância, fazia paródias das canções que tocavam no rádio, e versões das que eram cantadas em inglês. Aprendi nessa brincadeira a casar letra com melodia, sílaba com nota. Quando comecei a tocar violão, as primeiras músicas saíram naturalmente. Mesmo depois que me tornei professor, o instrumento foi comigo pra sala de aula. Em cursos pré-vestibulares, fazia melodias para poemas de Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Casemiro de Abreu. Tomás Antônio Gonzaga e paródias sobre os principais movimentos literários brasileiros. O samba, na minha vida, tem a seguinte explicação: na minha casa, citando Martinho, todo mundo era bamba: todo o mundo bebia e sambava, e em toda festa havia uma batucada. A vitrola tocava diuturnamente Ataulfo Alves, Nelson Cavaquinho, Cartola, Dorival Caymmi, João Gilberto, Agepê, Beth Carvalho, Clara Nunes, Paulinho da Viola, Roberto Ribeiro – os preferidos de meu pai- , quando não era o rádio que ecoava por todo canto do lar simples, de dois quatros para um casal e cinco filhos. Família grande, fundamos um bloco, que desfilava por Coroa Grande, onde passávamos as férias. Compúnhamos, eu e meus tios, sambas-enredo que cantávamos durante os desfiles. Veio daí minha preferência pelo gênero criado na Pequena África por Donga, João da Baiana e Heitor dos Prazeres. Fiz músicas para blocos e escolas de samba do Rio e de outras cidades e estados do Brasil e tenho dois cds gravados, que não têm só samba, não.

4.O futebol, outra paixão nacional, também é fonte de seus escritos. Como nasceu essa relação futebol-escrita? Quais e quantos livros você tem publicado sobre o tema? Conte-nos um pouco.

O Dicionário de futebolês nasceu durante uma partida de futebol em 2012. Zeca, meu filho, então com cinco anos, metralhava-me com perguntas sobre o velho esporte bretão. Eu ia respondendo a ele monossilabicamente, meio sem paciência, porque estava ligadíssimo no jogo, e não queria perder nenhum lance, até que a mãe, sempre atenta, me chamou a atenção: – Você queria tanto que seu filho gostasse de futebol, que assistisse aos jogos com você. Agora que ele está aí, do seu lado, fazendo perguntas, você o trata assim? Repreendido, voltei pro sofá disposto a responder calma e profundamente a todas as perguntas que o Zeca me fizesse dali por diante. Só que ele disparava um questionamento atrás da outro, sem nem me deixar respirar. Não consegui dar conta de tudo e me comprometi a lhe dar todas as respostas, até as que eu ainda sabia, no dia seguinte. Pus-me a pesquisar a linguagem desse esporte que é paixão nacional por isso, coisa que faço desde então, religiosamente. Anoto as novas expressões que ouço nas transmissões esportivas ou leio nos jornais e plataformas de notícias e acrescento ao imenso arquivo que tenho num drive. Lancei no ano passado a mais recente atualização do Dicionário de futebolês pela Editora Almedina, que está, segundo me
disseram, fazendo o maior sucesso.

5.É professor. A sua profissão influenciou na sua escrita e influenciou outros a escrever?

Como disse ali em cima, a prática docente, como professor de língua portuguesa e de literatura brasileira, deu-me o traquejo da escrita pelo alimento diário dos melhores textos em português, de todas as épocas. Convivo diariamente, há mais de três décadas, com Machado de Assis, Drummond, Vinícius, Rubem Braga, Clarice, Cecília, Gregório de Matos, Antônio Vieira, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, J.J. Veiga, João Antônio, Rubem Fonseca, Manuel Bandeira, Mário e Oswald de Andrade e, mais recentemente, com Conceição Evaristo, João Paulo Cuenca, Aline Bei, Sérgio Rodrigues, Eliane Alves Cruz, Carrascoza, Jeferson Tenório… Esse tem sido o variadíssimo cardápio literário que me abastece para que eu, em seguida, despeje o que aprendi com essa gente, nos singelos textos que escrevo para diversos fins.

6.Por que a predileção pela crônica?

Adoro uma frase do Rubem Braga sobre o gênero: “Se não é aguda, é crônica.” A crônica é o lugar do que não é eterno, mas é para sempre; do que não importante, mas, vital; do que não é peremptório, mas, necessário. Adoro escrever crônicas porque o gênero me permite falar de tudo, para todos, sempre com leveza, tomando a liberdade, às vezes, de pegar emprestado, aqui e ali, rudimentos da prosa narrativa mais extensa e, até, em certos momentos de coisas que para muitos são exclusivas da poesia. É um prato rápido, que se faz, no dia seguinte, com o que sobrou do dia anterior ou, de noite, com as sobras do almoço, mas que, com bom tempero e boa mão, fica uma delícia, além de ser bastante nutritivo.

7. Planos para o futuro e contatos.

Estou ensaiando um recital chamado Aviso à praça, em que apresento canções minhas com parceiros diversos, acompanhado de quatro músicos – piano, sopros, baixo e bateria -, e em que falo, também, alguns poemas e trechos das crônicas que escrevi nos últimos quatro anos. Aproveitarei, nos shows, para relançar os livros e os cds que ainda tenho. Pretendo inscrever esse projeto em diversos editais de cultura abertos ou por abrir. Em 2024, concluirei, finalmente, o livro de contos, “Em domicílio”. Estou terminado os dois últimos textos para apresentar a seleção para as editoras. Nas redes sociais, sou facinho, facinho: @zearnaldoguimaraes

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.

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