Zé do Lápis e a origem do Viradouro
Série: Histórias de Arariboia
No mês passado passado, o brasileiro viu a Escola de Samba Unidos do Viradouro sair campeã do carnaval carioca. Pudera, tanto empenho e beleza transformaram o trabalho árduo somado à alegria da galera naquele majestoso desfile da vermelho e branco de Niterói. Bem, mas não é de carnaval que tratamos aqui, nem caberia, só ano que vem agora. Foi apenas um modo de entrada na crônica de hoje. Falemos da história do Viradouro, das posses de terrenos e das malandragens do quitandeiro José Lopes, mais conhecido por Zé do Lápis.
Sabe-se que o Viradouro se tornou oficialmente bairro niteroiense só em 1986. Isso mesmo, tardio esse registro, né? Concordo, embora a ocupação da comunidade seja recente (anos 40 e 50), a história é antiga, decorre de longa data. Lá mesmo nos tempos de quando ainda constituía uma extensão de Santa Rosa e onde o Zé do Lápis anotava no caderninho as compras dos moradores que tomavam posse dos terrenos e erigiam residências precárias. Exato, um prolongamento de grilagem, limítrofe com Ititioca, Largo da Batalha, Cachoeiras e São Francisco. Não tinha jeito, o povo precisava morar, ué, necessidade. Evidência desse desligamento de bairros pode ser percebido se você procurar pela história da Rua Dr. Mário Viana, antes referida como rua do Viradouro, e que constitui hoje o principal caminho de idas e vindas de Santa Rosa. Viu aí? Juntinho à Subida da Garganta, ladeira famosa de acesso ao Morro da União.
José Lopes, apelidado Zé do Lápis devido ao cotoco de ponta grossa preso atrás da orelha, ele se revelou comerciante audacioso com requintes de autoritarismo. Verdade, aproveitou-se da pobreza alheia, tornou-se um dos maiores proprietários de terra para os lados do Viradouro. Incrível, mesmo sem escritura as posses dos terrenos caíram em suas mãos. Documentos não oficiais de transferência imóvel serviam. Enricou assim, coitados dos ex-moradores. Dizem até que o velho comprou cavalos e criou gado de corte com a dívida paga dos outros. É que diante da pobreza generalizada, aqueles que se apossavam dos terrenos no Viradouro faziam suas compras de mantimentos na vendinha do Zé do Lápis, ao tradicional e falível modo fiado. Pois é, sem emprego e endividados até o pescoço nas contas da quitanda, o que você acha que acontecia? Isso mesmo, adivinhou, caro leitor, perdiam-se os terrenos apossados para o malandro quitandeiro e, mais tarde, criador de boi também.
E foi assim, mais ou menos desse jeito que o coroa José Lopes se tornou proprietário graúdo. Dizem até que tem descendente dele morando por Niterói. Mas não sei, confesso que nada posso afirmar sobre grilagem de terra atualmente. Zé do Lápis, o antigo dono do Viradouro, anote aí.
Referência: CID CAVALCANTI (org.). Lindalva. Niterói Bairros. Niterói, RJ: Cecitec Publicações, 1996