A história do Cubango: rio de África ou paredão nativo?
Série: Histórias de Arariboia
Imagine certo vale em plena Niterói onde no passado os índios levavam suas vidas sem maiores preocupações. Pois é, esse lugar hoje constitui um bairro de considerável desenvolvimento urbano, mesclado à natureza que insiste ostentar suas marcas. Assim é o Cubango, origem nativa e de superestrato linguístico africano. Falemos então sobre isso.
Dizem que antes da chegada dos europeus por aqui, o paredão de granito negro formado pelo vale, em meio às terras niteroienses, serviu de demarcação natural às tribos temiminós daquelas redondezas. Nada de desenho, mapa ou foto com linhas de demarcação, de jeito nenhum. Pedregulho gigante de um lado, córrego ou remanso de outro. O próprio acidente natural, o tal paredão escuro, serviu de denominação do lugar, onde cortado pela rua Noronha Torrezão, descia-se até chegar próximo à Baía de Guanabara. Exatamente, contam que em língua Tupi registraram U-Bang. Quer dizer, a muralha escurecida tratada como patrimônio pelos nativos definiu o registro de demarcação.
Um bom exemplo dessa lógica de caráter linguístico e geográfico acontecia lá para os lados da Zona Oeste com o industrial bairro Bangu; em tradução nativa apelidaram de Bang-u. Dito e feito, uma coisa explica a outra, mas aqui o “U” vem primeiro. Fenômeno semelhante no idioma natural. Coisas de colonização. No entanto, comparações à parte, o espírito do escritor cronista tem suas manias de incrementar a história com alguma outra curiosidade narrativa. E eis que o complemento me aparece. Isso mesmo, em vez da nomenclatura se diluir no tempo, chegam os africanos e a história de um rio de nome similar. Exatamente, nossos antepassados de África fortaleceram o registro geográfico com um sonoro tipo de adaptação, apelidaram de Cubango, viu aí? Inegável constatação.
Hoje o bairro Cubango ostenta prédios enormes em condomínios de classe média alta. Há as tradicionais precariedades de moradia também, necessário reconhecer, nem tudo é conformidade. Eu mesmo poderia finalizar a história com algum desfecho de pensamento crítico, por causa das diferenças econômicas entre seus moradores. Uma ou outra nota de consideração política, quem sabe? Pois bem, acerca do bairro Cubango, está clara a discrepância servil numa faixa e a dos patrões em outra. Verdade, classes sociais divergentes convivem no mesmo espaço. Mas não, o espírito de fevereiro pede, ao menos por hoje, ficarmos com a unanimidade do tradicional carnaval da Escola de Samba Acadêmicos do Cubango. Lugar de alegria e descontração entre os niteroienses e os mais chegados. E é quando pobres e ricos desfilam sorrindo, fazendo de conta que os muros sociais da sua cidade jamais existiram.