Fabio Rodrigo

O apelido

Arnaldo era um bem-sucedido empresário. Estudou nos melhores colégios da sua cidade e formou-se em administração em uma importante universidade. Hoje é dono de uma empresa bastante respeitada nacionalmente. É casado há 15 anos e pai de dois filhos amorosos. Tudo parece perfeito para Arnaldo. No entanto, os negócios não andam bem, a empresa passa por seu pior momento financeiro. E corre o risco de falir. Isso, por incrível que pareça, não preocupa Arnaldo. Só há uma coisa que o angustia: seu apelido de infância. Seu medo é que alguém descubra seu apelido. Isso acabaria com sua reputação.

                Ele sempre desconfia que alguém saiba seu apelido. No entanto, não toca no assunto com ninguém. Nem com sua esposa. Certo dia, viu seu apelido escrito na parede de um dos banheiros da empresa. Não passou pela sua cabeça que pudesse ser uma mera coincidência. Revoltado, chamou seu gerente administrativo e pediu que averiguasse o autor do escrito no banheiro. O gerente, mesmo sem entender de fato o motivo de tanta revolta de seu chefe, procurou descobrir quem teria feito aquilo. Encontrado o autor, certamente seria demitido. Ou melhor, será demitido. Usei o futuro do presente para mostrar que Arnaldo não irá sossegar enquanto não souber quem escreveu o apelido no banheiro. O infrator será demitido por justa causa. Sem direito a nada.

                Certo dia, ao verificar o caderno escolar de seu filho, Arnaldo viu o seu apelido de infância escrito em uma das folhas. Após jurar não ter escrito a palavra no caderno, o filho disse que um colega de classe é que havia feito. Arnaldo foi então até o colégio e exigiu da direção a expulsão do aluno. A direção tentou entender o questionamento de Arnaldo e prometeu tomar as providências cabíveis.

                Em meio a um ambiente pesado devido à crise financeira, chegou ao conhecimento de todos na empresa uma notícia bastante animadora. Ao saber da situação crítica que vive a empresa, um grande empresário anunciou o interesse em investir forte para salvá-la da bancarrota. Seria a oportunidade de não só evitar o colapso da empresa mas também permitir que ela atinja outro patamar em nível nacional e internacional. Arnaldo se mostrou favorável ao negócio. Vários funcionários comemoraram a boa notícia.

                Alguns dias depois, Arnaldo tratou de recusar a proposta oferecida pelo grande investidor. A decisão de Arnaldo causou espanto e indignação a todos na empresa. Ninguém entendeu o porquê desta recusa. Afinal de contas, era a oportunidade de ouro. No entanto, ninguém nunca saberá o que provocou a decisão. O motivo é que Arnaldo descobrira que o grande investidor foi seu maior desafeto na época de escola. Era justamente ele o autor do apelido.

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Fabio Rodrigo

Fábio Rodrigo é professor de Língua Portuguesa da secretaria de educação do estado do Rio de Janeiro e é doutorando em Língua Portuguesa pela UFRJ. Recentemente adquiriu o título de mestre em Estudos Linguísticos pela UERJ/FFP. Tem se dedicado a escrever crônicas que abordam temas do cotidiano e sua relação com a língua portuguesa e que são publicadas semanalmente no jornal Daki e no portal Entre Poetas e Poesias. Seu primeiro livro, Mixórdia e outras histórias, lançado pela editora Apologia Brasil, é uma coletânea de crônicas publicadas tanto no Daki quanto no portal. Suas crônicas, em sua maioria, são ambientadas no município de São Gonçalo, cidade em que o escritor nasceu e em que trabalha como professor. Como professor de Língua Portuguesa, Fábio Rodrigo procura aproximar o conteúdo das aulas de Português ao dia a dia, e seus textos são o resultado disso.

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