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Preenchendo as páginas…

Preenchendo as páginas…

 

Você já percebeu que eu gosto muito de uma boa conversa. Já deixei de fazer alguma tarefa só para ficar conversando. Posso me ver como um amante do ouvir e dizer. Tenho um amigo escritor e criador do canal “Um pouco de prosa”. É um grande incentivador da palavra escrita e da palavra falada. Campista Cabral foi quem me convidou há muitos anos a publicar meus textos em um site brasileiro e em outro português com fórum bem movimentado. Fiz muitos amigos por lá, mesmo com o Atlântico impedindo abraços de confraternização.

Contei muitas histórias e ouvi outras tantas. Brasil, Angola e Portugal todas as semanas na minha tela. Era prosa pra mais de milhares de quilômetros. Às vezes, saía por aí sem freios descendo ladeira abaixo em rolimãs, pedalando montanha acima, costurando no asfalto. Cruzando mares sempre e nunca navegados, descendo cataratas num barril e quebrando gelo. Voando alto, voando rasante, rasgando o espaço. Transportando-me e aparecendo de pé ou estrebuchado no chão só com a poeira da história. E vou viagem adentro! Ô trem bão, sô!

Não sou mineiro, mas garimpo pelas Gerais, uai! Vivo numa terra quente, por isso preciso do tempo e do vento minuano para trazerem as letras até mim.  No caminho, um engarrafamento de palavras. Uma parada no Ibirapuera e o fôlego retorna. Já estamos em casa. Você já consegue ouvir o chiado. A panela está no fogo com cuscuz! Tem bolo de rolo com cravo e canela. Se a pimenta arde, um pedaço de queijo ajuda. Se o pequi, machuca o céu da boca, as Estórias da Casa Velha da Ponte nos levam além da dor. Será Bonito como alma pantaneira. O berrante chama para a sobremesa: açaí e outras frutas incríveis! Uma rede balançando a bordo sobre águas barrentas e negras, na terra das amazonas.

A luta diária do homem enfrentando a imensidão do vazio (inimigo implacável de quem escreve) me leva aos diferentes campos de batalha. A janela ficava atrás de mim. Ao lado e a frente, muitos livros. Meu primeiro conto publicado saiu do meu quarto. Anteriores a ele, somente as redações da escola ou os manuscritos dos momentos secretos especiais. Quase todos se foram num incidente doméstico. Precisava recorrer à memória para refazer minhas palavras. A emoção se incumbia de modificar tudo! Outras batalhas vêm sendo travadas em outras frentes. Agora mesmo, estou diante dum laptop apoiado na mesa da sala. Uma tela do Mário Cândido a minha frente traz até mim a Matriz de São Gonçalo. À direita estou com a minha Primavera (uma das obras da coleção “As quatro estações”). Na tela TV desligada, pode-se ver o reflexo do quadro Pangonça. Tela real em pinceladas de óleo encarando tela de imagens virtuais. Os livros estão nas laterais trazendo reforços de todos os mundos enquanto os parentes e amigos me olham presos nos porta-retratos.

A guerra contra o papel e a tela vazios se dá em outros campos. Na beira do rio ao som das águas e com as investidas dos mosquitos eu consegui escrever. Na areia da praia, ao final da tarde, a caneta deslizava no caderno espiral. Durante engarrafamentos, surgem alguns registros intermitentes. Ultimamente, tenho traçado estratégias infalíveis para aplicar duma vez. Gravo minhas ideias no supermercado, na pausa do treino musculação, na corrida de aplicativo (se o motorista não estiver conversando comigo), enfim… Vou acumulando palavras enchedoras dos nadas, que são tudo.

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