Erick BernardesNotícias

Engenhoca: lugar de memória no coração do niteroiense

Série: Histórias de Arariboia

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Fato mais do que comum antigamente era tentar inventar máquinas precárias ou equipamentos ao melhor modo do Professor Pardal. Quem nunca quis dar uma de cientista maluco? Qual cidadão não viajou no mundo da fantasia e imaginou ser um astronauta capaz de criar foguetes e acessórios espaciais? Exato, eu era assim, um tipo de sonhador inventivo, até que meu avô chamou meus preciosos inventos de engenhocas.

Bem, confesso que isso de nomear engenhoca o tal maquinário-experimento soava um tanto depreciativo. Sim, mas eu era um menino, e logo a implicância do vovô caía no escoadouro da inocência. Memória seletiva, moleque feliz, eu sabia nada sobre regiões fluminenses. Desconhecimento, ignorância no sentido de imaturidade, um garoto ainda.

Admito continuar nutrindo algum tipo de atração pela Engenhoca. A história da maquinaria na infância já era. Agora, sim, a explicação histórica é a que me cai bem. Principalmente quando o assunto sobre esse bairro de Niterói surge assim do nada. Seja num banco de ônibus intermunicipal, seja em fila de supermercado: se mencionam o lugar histórico, fico de fato interessado. Dia desses, em pleno salão da Estação das Barcas, ouvi certo cidadão referir à Engenhoca como bairro fundado há mais de 150 anos. Pronto, instalou-me a curiosidade nativa, ouvidos em pé, lógico. Imagina se eu iria perder esse momento de lição rara. E assim alguém pronunciou:

— Até que enfim a Engenhoca tem notícia merecida. Veja só, um jornal com matéria de capa sobre o velho engenho de farinha da antiga fazenda que existia ali no Barreto. Achei que ia morrer e não veria algo assim pra ler. Engenho menor; engenhoca de moer aipim e produzir rapadura. Bela reportagem, bacana e valorosa.

Bem, como se vê, nada de menosprezo desta vez. Quanto ao registro do bairro Engenhoca na prefeitura, agora sei e explico a você:

Sabe-se que a narrativa documentada sobre a Engenhoca remonta à categorização qualitativa para engenho menor. Isso mesmo, fábrica pequena de farinha e derivados, produção primitiva, mandioca torrada e moída. Vovô não estava tão errado assim. Maquinário pequeno, engrenagem e moinhos, uma verdadeira engenhoca. Antes o espaço se ligava ao engenho de Nossa Senhora das Neves (o primeiro e maior das cercanias de cá), mas desmembrou suas terras. Dizem que o responsável fundador da Engenhoca foi o Sr. Manoel José da Silva (1800-1876). Pois é, moço esperto, registrou o engenho menor, que incluía três outras importantes fazendas: Palmeiras, Madama e Fazenda do Alemão. Mas isso foi antigamente, tempos de tranquilidade.

Está aí, portanto, o caso da Engenhoca na construção da memória fluminense. Alguns moradores afirmam até haver certo poeta parnasiano paulista convivido bem aqui pelas redondezas. Mas isso serve de assunto para outra crônica. Fiquemos por aqui, pois o tempo urge, a paciência encurta, e é hora de descansar as vistas.

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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