Erick BernardesNotícias

A árvore vermelha de Guarapari

Série: Histórias do Brasil (Conto IX)

Esta narrativa me foi oferecida pela amiga Fernanda, uma professora gonçalense nata e residente hoje no estado do Espírito Santo. Segundo ela, Guarapari é uma cidade deliciosa, de clima salubre e gente muitíssimo acolhedora. E vamos direto ao texto.

Assim que conversei com Fernanda, a primeira história que nos surgiu foi sobre a semelhança de uma certa lenda (ou não) originada de um inusitado cemitério de Guarapari. Nada de narrativa macabra, claro que não, o que temos à mão é uma baita de uma paródia da cidade de Sucupira, que faz lembrar a antiga novela global “O Bem Amado”. Já uma outra história toma como foco certo equívoco sobre a origem da palavra Guarapari e me fornece material propício para essa nossa explicação. Pois sim, o significado da nomenclatura Guara + pari também deu mesmo o que falar.

Dizem que em Guarapari tão logo o cemitério da cidade fora posto a serviço dos seus habitantes, algo essencial para dar sentido à inauguração não veio. Por incrível que pareça, na cidade ninguém morria. Morador algum falecia nas redondezas e dava vazão ao ciclo natural da vida. Nada de óbitos. Resultado? Os antigos moradores juram ainda hoje que o prefeito espirito-santense obrigou os seus assessores a buscar falecidos nos bairros vizinhos só para a tal inauguração. Seria ele um sósia do Odorico Paraguaçu da tal novela famosa de antigamente? Não sei, confesso que essa história me soa mais como brincadeira do que relato histórico. Certo mesmo é a narrativa que fala do nome da cidade. Isso sim tem mais lógica. Exato, sobre o real significado do nome Guarapari é bem melhor de narrar.

Bem, por longo tempo afirmaram que uma espécie de ave avermelhada chamada guará, de penas rubras por causa do carotenol contido nas cascas dos crustáceos com os quais esse animal tem por hábito se alimentar, teria servido de motivo ao registro do nome da região. Pois é, guará + parim, significaria lança de caçar guará, explicativo do registro de nomenclatura. Mas errou quem acreditou. Não precisavam matar os guarás para retirar suas penas. Jamais um adereço indígena serviu de motivo à mortandade das aves rubras. Isso aí, as penas sempre foram usadas de forma inteligente sem levar sofrimento aos guarás . Retiravam sem exagerar, usavam técnica sem machucar. Nada de destruir a fauna.

O leitor confuso então perguntará: qual portanto o real motivo do nome? Simples assim, a tal cidade litorânea deriva da palavra “guara” que, verdadeiramente, nos remeterá à palavra “vermelho”. Isso aí, avermelhado. Por que tanta confusão então? Explico, “Guara + pari”, em verdade, na língua tupi, estaria ligando à toda cor rubra encontrada em certas árvores. Quer um exemplo do que o vermelho é capaz de fazer com a língua portuguesa do Brasil? Guaraná (olhos vermelhos), lobo-guará (lobo vermelho), guara-parim (pau vermelho), e muitas outras explicações.

Desenho de Erick Bernardes

Com isso, fica-nos uma dúvida: seria o nosso famoso pau-brasil um dos primeiros materiais explorados em nossa terra também um tipo de “guara-pari”? Lembremos que as praias de Guarapari serviram como uma das paragens inaugurais aos colonizadores. O nosso Brasil é brasa, é vermelho na memória, no sangue dos nossos guerreiros nativos derramados em defesa da terra.

Enfim, nada de novela global com o protagonismo de prefeito exótico. Deixemos a ficção do “Bem Amado” de Sucupira pra lá, pois foi a árvore nativa extraída aos montes o nosso primeiro tesouro. Está aí, portanto, em vez de conclusão, um viés de pesquisa que ofereço a você. Por que ninguém fala sobre isso? Guarapari, indiscutivelmente um enredo fascinante.

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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