Mata a paca e mostra o pau: um paradigma de fala em Niterói
Série: Histórias de Arariboia
Não é de hoje que os sons engraçados das nomenclaturas do município de Niterói me atraem tanto assim. Um dos campeões nesse quesito fonético dos registros territoriais está ligado ao bairro Matapaca. Sim, lógico, desnecessário explicar o motivo. Qualquer falante abrupto do nome perceberá a pronúncia engraçada do animal brasileiro: Ma – ta – pa – ca. Pois é, hoje a captura desses mamíferos da fauna local constitui crime inafiançável. Porém, séculos atrás, quando se caçava esse ser de pequeno a médio porte com fins de alimentação, jamais se vislumbrava a ideia de que as quatro sílabas abertas seriam motivo de fundação do respectivo logradouro. Incrível, registro territorial com jeito de paradigma linguístico. E vamos ao caso, Matapaca, um lugar de Niterói.
O bairro em questão está situado bem próximo do Largo da Batalha, pertinho da Estrada Caetano Monteiro. Contudo, noutros tempos, ainda em vias de colonização do Brasil, as cercanias eram ocupadas pelos índios tamoios. Claro, nativos aos montes espalhados pelos arredores niteroienses. Impossível aos naturais daqui não se alimentarem do que a terra oferecia. Vida simples, caça, pesca, coleta de frutos e sementes. Um dos mamíferos mais constitutivos da dieta dos indígenas de cá se revelaram as nutritivas pacas pardas. Exato, daquele tipo mesmo de roedor ainda a zanzar no parque do Campo de São Bento, bem ali pertinho, na praça em Icaraí. As pacas eram muitas, competiam em sabor com as cutias e as pequeninas preás. Tudo da mesma família, roedores rasteiros, bichos do mato mesmo, delícia de alimento.
O contato direto do homem branco com os naturais da terra logo ofereceu a eles esse hábito saudável porém atualmente proibido. A simples observação de que consumir a proteína do animalzinho os matinha saudáveis chamou a atenção. Isso mesmo, deu-se aí então o lugar de caça Matapacas, dito e feito.
Fontes históricas apontam o estabelecimento de alguns fidalgos no lugar. Exatamente, o típico fazendeiro de outrora, recebia autorização do governo (ou não) e lançava alicerces no território. Quer saber onde foram parar os nossos antepassados índios? Bem, qualquer sensibilidade dará respostas. Donos de terra é que nunca se tornaram, nunquinha. Dizem os estudiosos que a grandessíssima viúva do famoso Marechal Hermes obteve o seu quinhão de hectares pela cercania de Niterói. Não sei, confesso nada de fidedigno poder afirmar sobre a viúva de Matapacas. Ressalta-se, ainda, outro caso mais importante e contemporâneo: a fundação do Atlético Futebol Clube niteroiense, bem ali juntinho da estrada principal. Sem contar as igrejas de São Lázaro e São Sebastião onde romeiros frequentes se espalham em época de aniversário santo.
Pois bem, eis aí um lugar singular, Matapacas. Porque aqui em nossa coluna sobre a cidade de Niterói é assim, mata-se a história da paca e mostra o pau.