Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIANotícias

Mata a paca e mostra o pau: um paradigma de fala em Niterói

Série: Histórias de Arariboia

Não é de hoje que os sons engraçados das nomenclaturas do município de Niterói me atraem tanto assim. Um dos campeões nesse quesito fonético dos registros territoriais está ligado ao bairro Matapaca. Sim, lógico, desnecessário explicar o motivo. Qualquer falante abrupto do nome perceberá a pronúncia engraçada do animal brasileiro: Ma – ta – pa – ca. Pois é, hoje a captura desses mamíferos da fauna local constitui crime inafiançável. Porém, séculos atrás, quando se caçava esse ser de pequeno a médio porte com fins de alimentação, jamais se vislumbrava a ideia de que as quatro sílabas abertas seriam motivo de fundação do respectivo logradouro. Incrível, registro territorial com jeito de paradigma linguístico. E vamos ao caso, Matapaca, um lugar de Niterói.

O bairro em questão está situado bem próximo do Largo da Batalha, pertinho da Estrada Caetano Monteiro. Contudo, noutros tempos, ainda em vias de colonização do Brasil, as cercanias eram ocupadas pelos índios tamoios. Claro, nativos aos montes espalhados pelos arredores niteroienses. Impossível aos naturais daqui não se alimentarem do que a terra oferecia. Vida simples, caça, pesca, coleta de frutos e sementes. Um dos mamíferos mais constitutivos da dieta dos indígenas de cá se revelaram as nutritivas pacas pardas. Exato, daquele tipo mesmo de roedor ainda a zanzar no parque do Campo de São Bento, bem ali pertinho, na praça em Icaraí. As pacas eram muitas, competiam em sabor com as cutias e as pequeninas preás. Tudo da mesma família, roedores rasteiros, bichos do mato mesmo, delícia de alimento.

O contato direto do homem branco com os naturais da terra logo ofereceu a eles esse hábito saudável porém atualmente proibido. A simples observação de que consumir a proteína do animalzinho os matinha saudáveis chamou a atenção. Isso mesmo, deu-se aí então o lugar de caça Matapacas, dito e feito.

Fontes históricas apontam o estabelecimento de alguns fidalgos no lugar. Exatamente, o típico fazendeiro de outrora, recebia autorização do governo (ou não) e lançava alicerces no território. Quer saber onde foram parar os nossos antepassados índios? Bem, qualquer sensibilidade dará respostas. Donos de terra é que nunca se tornaram, nunquinha. Dizem os estudiosos que a grandessíssima viúva do famoso Marechal Hermes obteve o seu quinhão de hectares pela cercania de Niterói. Não sei, confesso nada de fidedigno poder afirmar sobre a viúva de Matapacas. Ressalta-se, ainda, outro caso mais importante e contemporâneo: a fundação do Atlético Futebol Clube niteroiense, bem ali juntinho da estrada principal. Sem contar as igrejas de São Lázaro e São Sebastião onde romeiros frequentes se espalham em época de aniversário santo.

Pois bem, eis aí um lugar singular, Matapacas. Porque aqui em nossa coluna sobre a cidade de Niterói é assim, mata-se a história da paca e mostra o pau.

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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