Erick BernardesNotícias

A fonte do amor de São José do Calçado

Série: Histórias brasileiras

Semana passada, nós encerramos a novela O picadeiro das cinzas. Hoje começa outra coisa, iniciamos uma série de contos sobre diferentes lugares do Brasil. São histórias narradas por gente das regiões das quais as narrativas foram ouvidas. Umas com base em acontecimentos históricos, outras totalmente lendárias, contudo, todas elas são escritas com total carinho e desejo de agradar a você. Seja bem-vindo às nossas Histórias brasileiras, divirta-se conosco e aprenda um pouco mais sobre nossa gente e nossa terra.

Há quem defenda a ideia de que todas as histórias de amor derivam dos contos de fadas europeus. Pergunto: o que fazemos então com a linda narrativa acerca de uma fonte aquífera, no Sul do Espírito Santo, que remete à lenda dos índios brasileiros em três pequenas cidades? Pois é, eis então uma bela história de amor. A história sobre a fonte de água mineral no centro da cidade de São José do Calçado me foi narrada pela inteligente Rannya Amaral que tem só 9 anos, aluna do professor Carlos Henrique, vulgo Maestro, na Escola Municipal Manoel Franco, no Espírito Santo. Pois é, foi em chão capixaba onde isso aconteceu.

Reza a lenda que duas tribos rivais disputavam o mesmo espaço de terra no Sudeste do Brasil. Após algumas batalhas e perdas de ambos os lados, estabeleceu-se que cada povo indígena ficaria em uma parte do rio. Para além das ocas dos guerreiros Puris, os portugueses denominaram de Bom Jesus do Itabapoana. Já do lado dos criativos índios Capixabas, batizaram a região de Bom Jesus do Norte. Bem, estaria estabelecida a rivalidade e a história de guerra, acaso dois corações juvenis não resolvessem falar mais alto. A humanidade, o desejo, a paixão, esses foram fatores que deram o ar da graça nas terras virgens do Brasil. Isso mesmo, caro leitor, era uma vez uma história brasileira, de quando o amor brotou da terra nativa.

Imagem Pixabay

A lenda se concentra na explicação do tempo em que a paixão proibida entre duas tribos rivais tomou as rédeas da razão. Convenções sociais, acordo entre etnias? Nada disso teve valor quando o amor resolveu aparecer. Exato, desnecessário explicar, um namoro indevido entre aldeias rivais veio à superfície do mundo — e a índia Puri, filha do cacique capixaba, enamorou-se perdidamente pelo mais belo guerreiro adversário.

Contam que índia atravessara inúmeras vezes a correnteza para viver uma intensa paixão. Só ela aprendeu a nadar. Vezes sem conta atravessou com braçadas fortes as águas revoltas. Os dois se amaram noites sem conta. Porém, certo dia, o agressivo cacique, pai da índia Puri, tomou conhecimento do caso. Jurou de morte a filha, assassinou o jovem guerreiro e obrigou a índia apaixonada a chorar tristezas bem longe dali. Que pena! Sentimento mais puro foi castrado, felicidade amputada por causa de uma guerra sem sentido entre as tribos – e aconteceu assim, era uma vez um tempo em que uma jovem eternizou a sua dor.

Confesso ser esta uma história triste, sim, reconheço. Todavia a lenda dá ensejo à mais bela explicação sobre a fonte de água potável da cidade de São José do Calçado. Exatamente! O esconderijo eterno escolhido pela índia apaixonada foi nada menos que um buraco de tatu. Isso mesmo, ela mergulhou para sempre na toca do bicho de carapaça. Incrível não é? Retirou o tatu do lugar e se enfiou lá no fundo para nunca mais querer voltar. Resultado disso? Bem, de acordo com a minha narradora mirim, a doce Rannya Amaral, a lenda diz que índia se disfarçou de uma linda flor e chora até hoje a saudade do amado. Exatamente, bem do interior da terra as lágrimas de amor eternizam essa história.

E lá se vão os calçadenses encher os seus galões na fonte de água mineral, ou melhor, vão beber da torrente de lágrimas que jorra dos olhos de uma índia apaixonada.

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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