SOL RIDENTE, DE PIETRO COSTA
SOL RIDENTE, DE PIETRO COSTA
Por Elias Antunes
A poesia celebra a vida de diversas maneiras. Em Sol Ridente, do excelente poeta Pietro Costa, por exemplo, forma um capítulo importante na sua trajetória de vitorioso escritor.
O livro Sol Ridente demonstra a preocupação com o alcance da poesia, a partir da própria ideia de sua construção, trata-se de uma obra bilíngue: em português e espanhol, dois idiomas irmãos.
Há sonetos, formas livres, aldrávias, haicais, sobressaindo-se o poema-homenagem que lembra muito um Manoel Bandeira, como no interessante poema:
“SUA SINA
Resistir às falanges da dor e ódio
Que aniquilam pueris balbucios
Ditam solenes, sorrateiros vazios
As autoridades do metal mórbido
E aos torpes contendores do assombro
Que tentam refrear o galope do sonho
De íris aguçada, são corvos aberrantes
Tons cinzas aterrorizam os horizontes
(…)”
(COSTA, 2023, p. 144)
Não faltam os poemas com o “maior dos temas”, mas sem um sentimentalismo piegas, utilizando de imagens e conhecimentos bem de nosso tempo:
“PÁTHOS
(…)
Sim, você é meu marcapasso natural
Inflama o coração, torna-me visceral
E as poéticas que dormitavam outrora
Exsurgem vivas, no romper da aurora
Sim, você é meu marcapasso natural
Inflama o coração, torna-me visceral
O amor a faiscar nas mentes enlaçadas
Abrasando reminiscências desnudadas”
(COSTA, 2023, p. 173)
Este livro tem uma grande força vocabular, também, com ricas expressões, palavras sofisticadas surgem durante a leitura: tépido, elucubrações, circunvagar, salvaguardar, exsurgem, fatídica, passaredos, reverbera, balbúrdias, primígena, nauseabundo, faina, esbugalhado, descarrila, exultação, dicotomias, nababescos, beligerância, propugnar, translúcidos, dentre outros exemplos.
Pietro Costa é um intelectual rigoroso e, tal um engenheiro, vai construindo seus poemas com precisão, não só com seu conteúdo, mas quanto à forma.
Seus poemas tem uma conotação abrangente, destacando-se aqueles que buscam os temas universais, bem como os escritores e poetas fundamentais dentro da melhor tradição poética:
“ODISSEIA DAS LETRAS
Na era dos devaneios farsantes,
Plangentes noites, tom escarlate,
E das ondas egóicas insinuantes
Clama-se por um bote de resgate.
Salvai-nos dos pixels em demasia,
De emoticons, trendings interativas,
Nesta dimensão rasa da existência
Não há imersão, apenas virulência!
(…)”
(COSTA, 2023, p. 197)
Há que se dizer, ainda, que Sol Ridente está entre os melhores livros do autor, com uma escrita cadenciada, bem ao ritmo do pulsar poético, digno de figurar entre os bons livros de poesias publicados nos últimos tempos.
Fonte da imagem: Foto do autor.