Elias Antunes

DOBAL, O POETA DO PIAUÍ

  1. DOBAL, O POETA DO PIAUÍ

 

Por Elias Antunes

 

Falar que um poeta pertence a uma gleba é uma espécie de provocação, claro, todavia, a despeito da liberdade do poeta em transcender as fronteiras geográficas, quero dizer apenas que a localidade de nascimento importa sim, para a criação poética.

  1. Dobal, profundamente consciente da realidade social, humana e cultural do Piauí, transpôs para os seus versos toda uma carga lírica-social do homem e da terra.

É, apesar de morto, o maior poeta de seu Estado e um dos mais brilhantes poetas do país.

Sua linguagem, às vezes seca, dura como o chão calcinado pelo sol, se abre em uma beleza ímpar:

 

“CAMPO MAIOR

 

Ai campos do verde plano

todo alagado de carnaúbas.

Ai planos dos tabuleiros

tão transformados tão de repente

num vasto verde num plano

campo de flores e de babugem.”

 

(DOBAL, 2002, p. 21)

 

Essa transposição poética de uma realidade dura, faz com que se descubra um local geográfico pela arte do escritor fenomenal que é H. Dobal (perdão pela rima).

Havia uma disputa (no campo hermético da poesia) entre H. Dobal e João Cabral de Melo Neto. Acredito que em duelos tais não há vencedores, nem perdedores. Os leitores acabam sempre ganhando.

 

“A MORTE

 

A morte aparece

sem fazer ruído.

 

Senta-se num canto

fica indiferente

com seu ar de calma

absoluta.

Mira longamente

o quarto o retrato

a cama os remédios

postos entre os livros

sobre a mesa escura.”

 

(DOBAL, 2002, p. 43)

 

Em “Gleba de ausentes, uma antologia provisória” há uma seleção do melhor que H. Dobal havia publicado até então, sobressaindo-se, assim, uma poesia lúcida, bela e criativa de um dos nomes mais eloquentes de nossa poesia.

 

Fonte da imagem: Foto do autor.

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Elias Antunes

Filho de um dos trabalhadores pioneiros que construíram Brasília, Elias Antunes nasceu em Goiânia, em 1964. Trabalhou como servente de pedreiro, vendedor ambulante, contínuo. Depois, entrou na Secretaria de Segurança de Goiás, por concurso. Bacharel em Direito, UCG, Mestrado (incompleto) em Teoria Literária, UnB. Em 1993, por concurso, entrou no Tribunal de Justiça do DF, passando a morar no Distrito Federal. Concomitantemente, foi professor do ensino médio e universitário de História da Filosofia, de Redação, de Direito e Legislação e de Teoria Literária. Seu livro de poemas “Chamados da Chuva e da Memória” ganhou o prêmio da Funarte de Criação Literária e o prêmio “il convívio”, na Itália (1º lugar). Seu romance “Suposta biografia do poeta da morte”, ganhou os prêmios: Hugo de Carvalho Ramos, 2008 (1º lugar), Prêmio Jabuti, 2011 (finalista), prêmio “il convívio”, na Itália (1º lugar). Tem 20 livros publicados e ganhou mais de 300 (trezentos) prêmios. Participa de mais de 100 antologias e obras coletivas no Brasil e no exterior. Cocriador das revistas O artesão, Rotina, Flor & sol e Linhas & Letras e dos jornais Tempoesia, Jornal de Poesia e Artefatos. Tem poemas traduzidos para os idiomas: espanhol, francês, inglês, esperanto, galego, romeno, italiano, catalão, alemão, sueco, russo e hindi. Com publicações nos países: Rússia, Itália, Argentina, Portugal, França, Estados Unidos, Espanha, Romênia, México, Suécia, Vietnã, Índia e Venezuela.

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