O OUTRO CAMINHO, DE COELHO VAZ
O OUTRO CAMINHO, DE COELHO VAZ
Por Elias Antunes
Escritor e professor consagrado, dedicado personagem da cultura e das lides jurídicas, Coelho Vaz ergueu-se como um dos baluartes da literatura do Estado de Goiás, tendo projeção (merecida) nacionalmente.
Com o livro de poemas “O outro caminho”, título sugestivo, ganhou o Prêmio Hugo de Carvalho Ramos de 2005.
Este livro contém uma recolha de poemas que traz uma voz autêntica, traduzindo temas universais, como a morte, a memória, o amor etc.
“Ele se matou
no fim da noite quente.
E ela dançava
na praça cintilante de luz.
Desenhar o corpo,
o contorno do corpo imóvel.
E ela dançava,
rodopiava,
e a saia esvoaçava
rodava no nada.
Passado o tempo,
o sol apagou o desenho
(…)”
(VAZ, 2018, p. 21)
Alguns poemas são vibrantemente líricos, contidos, lúcidos, sem os derramamentos, com maturidade e cheios de graça e leveza.
“Tenho pés cansados
de tanto carregar
as primaveras dentro de mim
(…)”
(VAZ, 2018, p. 39)
No percurso deste trabalho, Coelho Vaz chega a dar voz ao passado e aos objetos, como no interessante poema “Piano”:
“As mãos deslizam
no teclado.
Dançam no branco
e no preto,
correm o preto
e o branco
nos sons do piano.
(…)”
(VAZ, 2018, p. 61)
Há alguém tocando o piano, uma lembrança cheia de beleza, trazendo encanto e magia à memória do poeta, evocando um amor que flutua como palpável.
Conhecedor do ofício de poeta, que tão bem sabe trabalhar o jogo de palavras, seus poemas encantam pelas evocações, as lembranças, às vezes duras, transformadas pela graça da ternura.
Não abre mão das palavras polissêmicas, como o “errei” do poema “bifurcação”, que tanto pode significar engano, como caminhar, no longo percurso que somente os poetas autênticos sabem trilhar.
“Tudo fica difícil.
O que é fácil
não sei,
não conheço.
O bom caminho
é o do rei.
Sei da bifurcação.
Na encruzilhada,
a entrada da poesia.
A indecisão.
– Eu errei.”
(VAZ, 2018, p. 83)
Há muito mais, porém a ser lido e apreciado na poética mais do que necessária do grandioso poeta Coelho Vaz.
Será que existem “spoilers” em um livro de poesias? Pouco importa isso.
Leiam o livro “O outro caminho” e cheguem às suas conclusões. Não há como escapar do fascínio de poemas de tão alto nível.
Fonte da imagem: Foto do autor.