Fala aí, Juventude!- Poema “A Balada das Avenidas” – Pedro Sena
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A Balada das Avenidas
Na diáspora das ruas cinzas
Duas crianças franzinas
Dois retrovisores remendados
Uma caixa de balas murchas
Um não de face seca e cara maçada
O não que as impede de respirar.
Na alegoria dos espelhos
Vitrines sedentas e indecisas
Pessoas insatisfeitas; querer abrupto
Seres pálidos como manequins
Como os manequins
Fazem fachada
Tanta tontice que tomba o poema.
Em um cruzar de esquinas; cruzar de braços
Vinte e tantos prédios a frente
Como uma cordilheira de concreto
Guardam silenciosamente; tão amassadas
Quatro caixas de papelão desmaiadas.
Treze porcento de teor alcoólico
Vício engarrafado, mãos queimadas; unhas negras.
E desce queimando toda memória materializada
E desce mais treze horas de gandaia desvairada.
Menos treze dias nesta vida descem a rua treze a trambecar.
Mais treze andares acima e andarás na pior.
…
Num tom letrado; o teor da dúvida retórica
Como um samba sem tristeza e cadência
Desferindo golpes e goles decadentes
Numa garrafa treze vezes mais cara
Confuso entre portas, parágrafos, pontos e paradigmas.
“Cada coisa ordinária é um elemento de estima”
A garrafa, o papelão, o paletó e as meias molhadas
Tudo me caiu bem
Não coube no poema
Coube assimetricamente na balada
Como esta palavra aqui desequilibrada
Ajustou-se bela e atrevida
Na balada das avenidas.
Pedro Sena – @fotoacronica
Trindade – São Gonçalo – Rio de Janeiro