Sublime sim, recalque não: a arte e os sentidos a favor
Há dentro de cada um a cobiça de atender desejos primários que vão além de necessidades fisiológicas. Os sentimentos são fluídos, constantes, imparáveis e entre as janelas da realidade e a imensidão do ser as vontades são criadas. Na maioria das vezes essas vontades não são atendidas – seja pela natureza, condição ou probabilidade. Viver é experimentar todo o tipo de pensamento e é impossível para todos nós não sentir raiva, desprezo, gula, ganância, luxúria e demais pecados capitais. Na filosofia de Bauman então, tudo isso foi amplificado no mundo líquido pois tudo ficou inconstante e nada é feito para durar – inclusive as vontades. Ocorre que tentar sufocar os desejos apenas por parecer que sejam impossíveis ou inviáveis transforma a nossa percepção e diminui o alcance das potências do ser humano.
Então como seria possível transcender de um estado reduzido para alcançar a realização sem quebrar regras?
Quando os seres humanos estabeleceram controle sobre a produção e a comunicação várias regras foram estabelecidas para que fosse possível o convívio em sociedade, mas a criação surge exatamente no espaço compreendido entre seguir as regras e quebrá-las e, deste processo surgiram as artes, as manifestações naturais do que é o bem, belo e verdadeiro. Foi explorando a dor da perda e do inatingível que Shakespeare concluiu o romance mais conhecido no mundo e é dessa forma que saímos do recalque, da supressão dos impulsos de forma negativa para a sublimação: o impulso inconsciente positivo.
Não podemos quebrar regras a todo momento mas atender a desejos é uma necessidade. Não podemos atravessar a tela do celular e migrar para a condição ideal da vontade, todavia, é possível e necessário sublimar através da manifestação das principais potências humanas: o intelecto, a memória e a aspiração. Pelo intelecto, compreendemos uma sinfonia, entendemos os arranjos do artesanato, interagimos com os ritmos das danças e compreendemos um quadro. Esta interação é percebida pelos nossos sentidos e assim memorizamos a emoção quando uma música toca ou quando o desfecho de uma trama de um filme nos surpreende. Essa troca entre as regras estabelecidas e as memórias registradas positivamente nos permite seguir com as vontades e aspirações.
Sublimação – do inconsciente primitivo para a valorização do ser consciente
Para não se perder com desejos não atendidos, o novo deve ser instigado já que aprender a aprender é a melhor maneira de atender a vontades que são criados pela busca. As grandes navegações não aconteceram apenas por um impulso frívolo ou mecânico, não foi a rotina que levou o homem à lua nem foi a escola que produziu a Divina Comédia. A realidade pode parecer cruel, entretanto nossos sentidos podem ser aguçados pelo intelecto, pela memória e pela vontade, irrigados pela admiração do que é o bem, belo e verdadeiro.
Os valores do ser humano podem ser expandidos se a sua orientação for modificada, subtraindo os mecanismos de defesa criados pela frustração de não conseguir ou possuir algo por ações, obras e movimentos que o elevem. Uma garrafa de vinho, uma visita inesperada, um momento de contemplação do sagrado ou uma simples corrida nos permite registrar as memórias das nossas vontades atendidas positivamente na realidade.
Te convido a se arriscar, a explorar o novo, a usar os sentidos a seu favor e sublimar. Há um mundo de possibilidades na realidade.
(Esse texto é de Carlos Eduardo, consultor, acelerador de empresas e pessoas por vocação. Ele estuda filosofia e psicologia por paixão, já fez mapa astral e sublima todas as vontades arriscando desejos ou bebendo vinho. Instagram: @cassduardo)
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Luiza Moura.