Caminhava apressado em direção à Rocinha – Gávea Rio de Janeiro – antes de subir a rua olhou-se no retrovisor de um carro estacionado. Deu um grande sorriso conferindo o implante dos caninos, estavam bem maiores e pontiagudos. Aproveitou o momento, retirou uma pequena bisnaga com gel fixador e acertou os cabelos alisando-os para trás.
Subia a viela pensando na Keith, filha do dono da escola de samba e também um perigoso bicheiro. Não sentia medo, afinal seu objetivo era ficar com a menina para sempre. Ao longe escutava a batucada e pessoas cantando e gargalhando. Embora nublado estava muito abafado. Ele suava, vestido de preto com sua capa escondida no capuz que formava um certo volume ao redor do pescoço. Só iria exibir quando a Keith chegasse. Já estava tudo planejado: ele a chamaria para dançar, e neste momento triunfal, soltaria a capa! Pensando no plano, Miro ria sozinho e suas presas brilhavam!
No alto do morro, em um terraço espaçoso, acontecia a festa. Ele havia entendido errado, não era uma festa gótica e sim um pagode gospel! Tarde demais para desistir! Olhava ao redor e ninguém conhecido. As pessoas sorriem, mesmo com um olhar reprovador para com ele. Miro com fome, aproxima-se da churrasqueira, vê um grande pedaço de carne ainda sangrando, começa a salivar! Era o suficiente até a chegada de sua amada…
De repente três seguranças do bicheiro, homens fortes, mexem no capuz dele e a capa abre. Tentando sair da empurra – empurra, vira-se e capa pega fogo ao encostar na churrasqueira. Tumulto formado! Pessoas correm, gritam! Rapidamente jogam um balde de água nele! Com os cabelos caídos nos olhos sem enxergar direito, entra em um cômodo que havia várias prateleiras com fantasias dobradas, pega a capa coberta de paetês, do mestre-sala. Coloca presa em seu pescoço e volta ao espaço dançante, não consegue entender o porquê dos aplausos. Empolgado dá uma rodada e esbarra num tabuleiro de pão de alho! Um dos pães atinge seu rosto e ele grita sentindo queimar!
Sob fortes alterações do humor, ele range alto, com os dentes expostos e bate as pernas extremamente irritado! Um pequeno grupo de adolescentes, ficam ao seu lado acreditando ser uma performance e imitam o “passinho”. Neste momento Keith adentra o recinto, Miro corre para cumprimentá-la, quando a beija sofre uma vertigem com o bafo do alho! Um dos seguranças dá um tapa para reanimá-lo, como foi forte; Miro fica caído com os caninos à mostra.
Os convidados resolvem chamar o pastor Manivela para exorcizá-lo! A música para, e um silêncio hipnótico acontece com a chegada da celebridade que caminha lentamente até o rapaz. Ele retira o paletó e deixa aberto no chão, afrouxa a gravata com um frouxo sorriso; o pastor coloca a mão sobre a cabeça do jovem, e grita repetidas vezes, palavras de ordem ao demo.
Um eclipse solar inicia e a voz do “homem santo” fica cada vez mais grave. As pessoas jogam seus pertences de valor sobre o blazer estendido. O espaço fica totalmente escuro, o Manivela dá gargalhadas e sob a escuridão desaparece!
Miro levanta-se assustado, coloca as mãos nos bolsos e fala que a carteira sumiu! Outras pessoas gritam afirmando que aconteceu o mesmo. Homens procuram pelo relógio de pulso, e a maioria das senhoras à busca de suas pequenas joias. Desapontados, todos descobrem quem era o verdadeiro vampiro!
FIM
Ivone Rosa
Obs.: ideia da narrativa construída em equipe durante a aula no curso CRIAR.NA AÇÃO – direção Ana Guerreiro
Sensacional……… Adorei o jogo de palavras e a metáfora feita na correlação dos personagens. Como sempre, você dá vida ao imaginário, fazendo com que pensemos a nossa pura realidade.