Giovanna Bayona

A Menina Medrosa

Há uma parte em mim que eu sempre quis deixar escondida, talvez por este motivo ela sempre se fez tão presente, falo da menina medrosa que vive em mim.  Essa menina é o meu eu pequena, que não cresceu pois se achou errada demais pra se estar nesse mundo, ela se escondeu e só causou medos e mais medos dentro de mim. Quase todos sabem que eu tenho medo de escuro, de tempestades, mas apesar de apavorantes não são esses os medos que me paralisam. Sim, me paralisam de verdade, inclusive me afetam fisicamente, mas tenho vergonha de falar sobre, pois são experiências vistas pela maioria como frescura ou fraqueza. Então nunca revelo a verdade por trás de tanta ansiedade, pois eu também chego achar que é ridículo o tanto de vezes que o medo domina minha mente.

Os medos são sobre a vida, o simples viver cria muito deles, o medo de ficar sozinha por ser incompreendida muitas vezes, o medo de não conseguir uma estabilidade que tanto me faltou, o medo de não ser talentosa em alguma coisa, esses são só alguns exemplos. Esses medos criam empecilhos gigantes na minha cabeça para não realizar muitas coisas, e na hora eu acho justificável, mas quando vem a consequência o arrependimento brota, e eu grito com aquela menina medrosa, como ela pôde me dominar outra vez? Não é culpa dela, eu que incentivei ela ficar por ali, a cada vez que regava uma insegurança, a cada vez que eu desistia, e quanto mais tentei esconder, mais forte ela ficou. Esconder nossas vulnerabilidades é criar uma arma poderosa contra nós mesmo.

Quando somos crianças falamos de nossos medos com mais facilidade, pois seremos acolhidos, afinal é normal, por tudo ser muito novo ao nossos olhos, mas quando somos adultos enfiamos eles debaixo do tapete, porque somos acostumados que coragem é não ter medo de nada, na realidade é totalmente ao contrário. Tem uma animação da Disney chamada O Bom Dinossauro, a qual não consigo assistir sem chorar, pois o personagem Arlo é muito “medroso”, ele passa por uma jornada onde enfrenta seus maiores medos, quando eu assisti pela primeira vez eu enxerguei a menina medrosa, me reconheci ali.  É normal ter medos sim, ser dominada por eles não, isso é infantilidade da minha parte, infantilidade que trato de reverter toda vez que noto.

É difícil ainda pra mim perceber quando é o medo falando, quando é a menina medrosa aparecendo, por muito tempo eu deixei de ter fé, e não falo isso só no sentido religioso, mas sim no sentido geral, a fé de acreditar em si mesmo, a fé de encarar o desconhecido porque é só assim que se vive, fé de que o bem sempre prevalece ao mal.  Agora, tenho recuperado aos poucos essa fé, porém o tempo perdido não perdoa, e mesmo com tantos aprendizados me sinto pequena nessa imensidão de possibilidades, de escolhas quando a vida me pressiona, aí que está o perigo, o gatilho aciona e a menina medrosa está ali me fazendo encucar com tudo, tirando meu sono, acelerando meu coração, batendo na porta com força pra deixar ela entrar.

Hoje estou sendo corajosa eu acho, porque expor essa minha vulnerabilidade até pra muitos que nem conheço deixa a menina medrosa enlouquecida, mas cansei de dar força pra ela, e pra ela ir embora é um longo processo, mas quero começar com a parte principal, acreditando que ela não faz parte da mulher que sou, porque a mulher que sou tem uma imensa vontade de viver, é verdadeira consigo mesma e faz seu melhor a cada dia.

Quis escrever pra quem um dia se sentir ou se sente com medo e pequeno, você não está sozinho(a) no mundo como todos querem que você pense, você não é anormal nem nada disso, você só é humano, e ser humano é ser vulnerável e sentir medo, o que se pode fazer de diferente é escolher o que fazer, vai dar poder a seu menino(a) medroso ou vai dar poder a sua fé?  Não se esconda, só viva, falo isso por mim, para mim e para vocês, é nosso acordo aberto pra num futuro não muito distante eu postar outra crônica dizendo “eu consegui dizer adeus a quem não me pertencia, o MEDO”.

 

Meu Instagram: @giovanna.bayona

Fontes: 

Imagem destacada e imagem interna: Foto de MART PRODUCTION no Pexels – https://www.pexels.com/pt-br/foto/sozinho-solitario-ansioso-angustiado-8458809/

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Giovanna Bayona

Giovanna Bayona escreve desde dos 16 anos para se encontrar e entender seus sentimentos, porém só com 22 anos se reconheceu como escritora e começou a divulgar suas crônicas e algumas poesias nas redes sociais, o que abriu portas para alguns projetos literários como a participação no quadro Saideira (2020) e no Sarau das Mulheres (2021) ambos no Canal Literaweb no Youtube. Possui participações em duas antologias da Editora Psiu e também participou da primeira edição da Coletânea Palavra em Ação da Editora Jornal Alecrim (2021). Agora também colunista da Revista Entre Poetas & Poesias pretende continuar expandindo sua escrita para todos que assim com ela são apaixonados por palavras.

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