Des-con-fi-amar
Desconfio daquele que se reverbera constantemente
Com força de necessidade
Quando na prática vejo maldade
Inconstância e desnecessidade…
Desconfio de postagens narcísicas
Para provar amor próprio
Desconfio de Festas intermináveis
Para demonstrar felicidade
E da necessidade inquieta de não parar…
Seria por não suportar
Olhar pra dentro
E lá encontrar
Alguém
Que precisa se conhecer
E realmente se amar?
(Michelle Carvalho)
Desconfio de pessoas que se intitulam, se rotulam e precisam o tempo todo se afirmar. Qual a necessidade de tanta veemência, imposição, repercussão?
Seria uma afirmação para o outro ou para si próprio? Afinal, certa vez ouvi que: “uma mentira contada várias vezes torna-se uma verdade para quem a está contando”
Não há mal algum em desejar ser de uma forma e trazer isso verbalizado para atrair o que deseja, mas há uma discrepância enorme quando se verbaliza em voz retumbante, sem possibilidade de brandura, com força de necessidade de provar algo para o mundo, porque na verdade, no seu mundo, lá dentro de si, quer esconder até do seu próprio olhar que nada daquilo é real.
Quando é necessário gritar, entoar, reverberar, é porque as atitudes nunca falaram por si… E quando as atitudes não falam, não há grito que perpetue aquela mentira por muito tempo.
Desconfio de pessoas que se intitulam honestas e bradam tal informação insistentemente sem que ninguém a tenha questionado…
Olhe bem para as pessoas que se dizem santas, para as pessoas que se dizem justas, boas, as que exaltam demasiadamente a si próprias, se em atos concretos nada disso for real, o que normalmente não é, desconfie…
Desconfio porque já acreditei muito sem ater-me aos sinais e me frustrei, hoje olho com cautela.
Preste atenção nas pessoas que possuem enorme necessidade em postar fotos de si e dizer inúmeras vezes que se ama, o self love, as inúmeras selfs seguidas de #eumeamo. Estas estão em descoberta ou em um permear de enorme carência e necessidade de afirmar algo que dentro de si ainda não é um pilar de verdade.
Lógico que o amor próprio, como qualquer outro amor, necessita de cultivo diário, mas nem sempre de exposição tão intensa, porque nestes casos, nitidamente a necessidade é de apreciação e afirmação externa, e se este é o foco, é porque a interna não está sólida.
Os celulares ampliaram nossas possibilidades de olhar o mundo nas redes sociais e suas câmeras frontais nos deram a possibilidade de fotografarmos nós mesmos, olhando para si, a famosa “self”, a qual vem fazendo com que esqueçamos do resto do mundo e postemos muito de nós, no afã de buscarmos a afirmação que falta internamente, para alimentarmos o ser narcísico que se acomoda dentro do nosso ser.
Não é necessário gritar, bradar, espernear, calar o outro com sua fala ensurdecedora, se existe a certeza dentro de si de quem você realmente é, de que seu amor próprio é real e que palavras vãs alheias não o abalarão, pois a estrutura está sólida. Essas atitudes muito voltadas para o externo são a básica necessidade de que estes gritos sejam tão veementes que alcancem o ser que mora lá dentro do próprio locutor e que não acredita em nada daquilo que vem sendo falado, mas precisa ser sufocado para não atrapalhar a história criada.
Reparem também em pessoas que parecem viver em plena festa “emendada”, aquela pessoa que sempre está na balada, curtindo, bebendo, com muitas fotos e uma necessidade intensa de expor tal “felicidade”. Não estamos falando aqui de uma felicidade de momento ou perpetuada de forma natural, mas uma “felicidade forçada”.
Essas pessoas normalmente tem uma forma inquieta de não poder ficar muito tempo no mesmo lugar, precisam estar sempre mostrando como estão viajando, “vivendo”, “curtindo” e tendo a “vida perfeita”.
De que perfeição estamos falando? Seria mesmo perfeição?
O que esta pessoa sente quando precisa deitar a cabeça no travesseiro e dormir? Ou será que para que consiga dormir necessita estar envolta a subterfúgios externos como remédios, bebidas ou outras coisas para não ter tempo de pensar?
Desconfio de extremos porque os vejo muito externos, muito voltados para fora, ou muito internos, acuados lá dentro. Há tempo de sair, curtir, ser feliz, viajar, festejar, porém também há o momento de descanso, relax, interiorização, reflexão, ficar juntinho sem câmeras ou clicks. A vida é cíclica e é disso que vem o equilíbrio de ser humano.
Sabe aquela frase: O melhor da vida eu faço em off porque é tão bom que nem dá tempo de fotografar?
É disso que estou falando!
Quando você descobre que se ama de verdade, não é necessário afirmar pro mundo verbalmente ou pelas redes sociais todos os dias com selfs e hashtags porque seu olhar, seu jeito de andar e até mesmo seu sorriso falam por onde você passar.
Ao ser realmente feliz não se precisa afirmar toda hora com noitadas intermináveis e bebedeiras pelas redes sociais, porque felicidade se sente. Se ainda é muito necessário mostrar, é porque sua preocupação está mais voltada para situações alheias a si, negligenciando seus próprios momentos e possibilidades.
Ter qualidades é saber que, mesmo que te digam ao contrário, sua vida seguirá na certeza de que suas atitudes lhe precedem e permanecem pois sua verdade é real!
Michelle Carvalho
Fonte da imagem destacada: https://pixabay.com/pt/photos/a-desconfian%c3%a7a-c%c3%a9tico-emo%c3%a7%c3%b5es-teen-6618287/
e-mail: michellecarvalhoadvogada@yahoo.com.br
Instagram: @michelle_carvalho_escritora
Facebook: Michelle Carvalho Escritora
Youtube: Michelle Carvalho Escritora