Giovanna Bayona

Uma garotinha autêntica.

Esses dias por causa de um meme no Facebook me lembrei de um momento meu na infância onde eu tentava lançar moda. Na realidade não era nem muito isso, eu era apenas uma criança criativa que dava um jeito de conseguir o que queria.

Todo ano na cidade em que eu morava aconteciam algumas feirinhas, nelas tinham de tudo um pouco, artesanato, plantas, bijuterias, brinquedos, decoração, e as barraquinhas que se destacavam eram a da tatuagem de hena e a do tererê no cabelo. Eu era fissurada pelo tererê no cabelo, mas não podíamos ou não tínhamos dinheiro pra ir na feirinha e quando podíamos eu estava de cabelo curto ou seja não dava pra fazer o tererê, até que eu tive uma ideia. Com ajuda da minha mãe que na época fazia bijuterias de missangas e cristais, pensamos em fazer um cordão para minhas presilhas de cabelo que eu usava para prender minha franja. Seria uma espécie de tererê e ainda seria mais “bonito”, pois era com pedrinhas brilhantes em vez de só linhas coloridas. Combinamos os tererês com as cores de cada presilha e passei a usar todo dia para ir pra escola. Algumas pessoas acharam legal, outras acharam estranho, mas eu não ligava, acho que até aquele momento pelo menos o bullying não havia me tirado ainda minha autenticidade. Digo isso, pois o tererê não foi a única coisa “original” que inventei nessa época, poderia passar essa crônica inteira contando minhas customizações na infância e adolescência.

O assunto principal não é esse, a questão é que ao me lembrar dessa situação me assustei de encontrar essa Giovanna autêntica, corajosa. Não me lembrava dela. Sempre tive de referência de mim algo mais frágil, mais cuidadosa, e teimosa também. Mas essa visão mais corajosa e determinada sempre me fugiu da mente. E pensando nisso acho muito curioso que para mim e algumas pessoas a fase mais autêntica ter acontecido na nossa infância, justo quando ainda não temos ideia de quem somos realmente, digo nossa personalidade ainda não está totalmente formada. Entretanto, acho que é exatamente esse o motivo, estamos livres das amarras, de preconceitos, de carga mental, o que sobra muito espaço para criatividade e expressão sem medo algum.

Infelizmente, sinto que eu perdi isso na minha adolescência, os episódios repetitivos de bullying me mudaram em muitas coisas. Antes eu achava que eu tinha isso como desculpa, mas com muita terapia entendo os reflexos de muitos desses episódios hoje, e ter essa visão ajuda a evitar os gatilhos, mas por hora fico feliz de lembrar dessa Giovanna desencanada e feliz, é bom lembrar que os acontecimentos ruins na escola não me engoliram por inteira. Pelo menos não naquela época. Hoje em dia adulta, sinto que já consigo ser autêntica de novo, porque simplesmente não consigo seguir o pensamento da maioria da galera “jovem “ da minha geração. Sou o tipo de pessoa que usa brincos que imitam copinhos de café e acho legal. Gosto de ter diferencial em tudo que é meu, e obrigada ao tempo por me ensinar isso.

Quando eu tinha uns 12, 13 anos, finalmente consegui fazer um tererê na feirinha, todo neon inclusive, mas no final só serviu para mim constatar que o tererê de biju improvisado da minha mãe era mais bonito e mais prático também, além de não repuxar meu cabelo. Então, o importante era o que eu sentia e fazia, não o que eu tinha ou achava que precisava ter. Lições e lembranças que mesmo fugindo da nossa mente, gravam em nossa essência fazendo a gente voltar ao encontro do caminho certo.

 

Meu Instagram: @giovanna.bayona

Fontes:

Imagem Destacada e Imagem Interna: – Arquivo Pessoal Giovanna Bayona.

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Giovanna Bayona

Giovanna Bayona escreve desde dos 16 anos para se encontrar e entender seus sentimentos, porém só com 22 anos se reconheceu como escritora e começou a divulgar suas crônicas e algumas poesias nas redes sociais, o que abriu portas para alguns projetos literários como a participação no quadro Saideira (2020) e no Sarau das Mulheres (2021) ambos no Canal Literaweb no Youtube. Possui participações em duas antologias da Editora Psiu e também participou da primeira edição da Coletânea Palavra em Ação da Editora Jornal Alecrim (2021). Agora também colunista da Revista Entre Poetas & Poesias pretende continuar expandindo sua escrita para todos que assim com ela são apaixonados por palavras.

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