Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIA

O Morro do Vintém e a macabra história da máscara de chumbo

Pixabay

Série: Histórias de Arariboia

O Morro do Vintém é menos famoso por seu surgimento histórico do que devido a certo fato misterioso há tempos veiculado nos jornais. Aliás, misterioso é pouco, a história esquisita vai além de qualquer interpretação, pois pesquisadores da Nasa, revistas sobre alienígenas, gente do mundo andou dando as caras por Niterói. Refiro ao “caso da máscara de chumbo”, acontecimento estranho, uma daquelas narrativas capazes de servir de enredo aos mais criativos filmes de ficção.

Seria fácil inventar abertura de narrativa que beire o gênero fantástico de HQs coloridos. Sim, eu poderia criar enredos absurdos tendo o Morro do Vintém como contexto geográfico. Isto é fácil, “molezinha”, em tempos de fake news um acontecimento qualquer aumentado, acrescido de uma ou duas mentirinhas, ofereceria ao leitor aquele terreno fértil para fazer germinar a imaginação. Mas não, juro que não, caro leitor. O cronista aqui só reproduz o que de fato aconteceu. Não acredita? Vai lá na internet e depois me diga, surpresa é pouco. E vamos ao assunto:

Certa vez, em 20 de agosto de 1966, em pleno sábado, dois técnicos de rádio e televisão foram encontrados mortos no alto do Morro do Vintém, no Bairro de Santa Rosa, em Niterói. Os cadáveres não continham marca alguma de violência. Estavam emparelhados os dois mortos, arrumadinhos, um do lado do outro, em posição decúbito dorsal e sobre uma camada fofa de palha da palmeira de pindoba. Eram homens de respeito, gente querida, técnicos de eletrônica residentes em Campos dos Goitacazes, região Norte Fluminense, que se envolveram na mais absurda aventura. Eles venderam objetos, empenharam o fusquinha precioso, compraram mantimentos e se meteram na estrada até chegar ao cume do Vintém. Para que fizeram isso? Ninguém sabe, é esse mesmo o ponto alto do mistério. Exatamente. Perguntei ao senhor Nepaminondas, morador de Santa Rosa, o que presenciou na época:

— Bem, nem tem como esquecer aquele troço macabro. Os moços usavam ternos chiques e capas de chuva. Arrumadinhos. Quem encontrou os dois corpos morava aqui do lado, oh! Ali no portão verde. Ele me contou, na época achou os moços em estado de decomposição. Nojento, cheiro horrível. Havia uma máscara dessas de chumbo usadas anos depois nas usinas da Eletrobrás. Eu sei porque já fui usineiro na década de noventa, disso eu sei. Agora, o objeto estranho de cimento, garrafa de água mineral com magnésio, eu não sei pra que serve. Isso não dá pra dizer. Até um copo feito de papel alumínio tinha lá. Mais macabro ainda foi um chumaço de papel repleto de equações básicas de eletrônica e um bilhete com assunto de ciências.

Bem, está claro, depois da narrativa do velho morador, o cronista aqui foi logo conferir nos arquivos digitais. E qual não foi a minha surpresa? Pois é, em vez de esclarecimento, a confusão aumentou. Sim, que enredo, pessoal! E isso só me fez crescer a curiosidade. Na foto do bilhete, lia assim:

[16:30 hs. – estar no local determinado.

18:30 hs. – ingerir cápsula após efeito,

proteger metais e aguardar sinal máscara.]

Pois é, absurdos à parte, não fossem os registros fotográficos e a reportagem da emissora de tevê do capeta, na época, isso jamais repercutiria tanto – e decerto o acontecimento entraria para as calhas da história. O assunto se apagaria, tudo isso sumindo da memória fluminense. Mas não, desta vez não. Tanto bafafá da mídia trouxe pesquisadores do mundo todo em busca do seu quinhão de explicação. “Incrível”, diria o jornalista britânico. “Coisa de extraterrestre”, afirmaria o astrônomo uruguaio. Mas razão mesmo talvez tivesse o senhor Nepaminondas, o nosso já referido morador do Vintém, a fumar seu cigarrinho tranquilamente.

— É besteira, moço. Pessoal assiste televisão, se empolga e mistura história inventada com essas coisas. Que disco voador que nada! Culpa dos filmes e novelas daí. Esses homens mortos entraram no mundo da ficção e não souberam mais sair. É esse o perigo. Meteram-se com ciência e quiseram experimentar.

Ademais, ficou divulgado na imprensa que os dois homens mortos achados em Niterói se chamavam Miguel José Viana, de 34 anos, e Manoel Pereira da Cruz, de 32, dois sócios na empresa de eletrotécnica do município onde moravam.

De acordo com a Revista History: “o episódio foi avaliado pelo ex-funcionário da Nasa e ufólogo Jacques Vallée, que chegou a visitar o local das mortes, e o especialista não conseguiu chegar a conclusão alguma. O que teria acontecido com o dois amigos naquele trágico dia? Muitos ufólogos acreditam que os homens tinham conhecimento de algum contato extraterrestre e que foram ao local para realização de alguma coisa já planejada. O que se sabe é que os dois eram adeptos da realização de experiências estranhas e perigosas. Uma delas ocorreu na praia de Atafona, perto de Campos de Goytacazes. Ambos, juntos com outros dois amigos, teriam provocado no local um fenômeno que resultou numa explosão e em uma luz intensa”.

Viu aí? Se um especialista em disco voador se sente meio maluco com a tal história macabra, que dirá eu, mero colunista de revista cultural. Melhor mudar essa prosa. Porque, se bobear, acordo de noite, em meio a pesadelos, tendo por enredo o Morro do Vintém e um personagem verde com cabeça de coronavírus olhando para mim.

Pixabay

Fonte:

https://br.historyplay.tv/noticias/o-caso-da-mascara-de-chumbo-misterio-que-envolve-nasa-2-mortes-e-avistamentos-no-rio-de

http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215829,00.html

https://ufo.com.br/artigos/o-caso-mascaras-de-chumbo-revisado

Mostrar mais

Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo