A pequena Pomerânia de Santa Maria de Jetibá
Série: Histórias do Brasil (conto VI)
Buscando saber narrativas interessantes sobre lugares, entrei em contato com pesquisadores do instituto de história de uma certa universidade do Espírito Santo. Enveredei pelos antigos documentos de um velho navio de imigrantes alemães chegados ao Brasil em tempos remotos. Um desses estudiosos do assunto, Fabiano Pobanz, se tornou especialista da colonização do lugar por causa da própria origem dos antepassados europeus. Pois é, foi ele mesmo, o neto daqueles imigrantes pioneiros das terras espirito-santenses, quem me ofereceu o material resumido e narrado aqui pra você. Conheça agora o que um dos representantes contemporâneos da família Pobanz me permitiu saber.
Os registros escritos em língua alemã apontavam a chegada (na Serra do Sudeste brasileiro) de mais de uma dúzia de famílias oriundas da antiga região da Pomerânia. Famílias bonitas, fugidas da guerra e da precariedade de se viver na Europa. A cultura desse empenhado povo não era alemã na concepção exata do termo. Constituíam-se todos de europeus de força e coragem de outro território e traziam juntos, além do entusiasmo, uma das mais ricas culturas ocidentais.
A Pomerânia pertencera à Prússia, e já vai lá um século e meio de história desde que seu povo fincou raízes no Brasil. A maioria do território pomerano se situava onde é atualmente a Polônia, embora um parte menor estendia sua cultura por terras da Alemanha. Aqueles imigrantes advindos das cercanias de Pobadz obtiveram em seus registros o nome de onde provinham. De Pobadz, município de Tychowo, Pomerânia ocidental (Polônia), vieram os Pobanz cuja descendência ajudou a construir a cidade hoje conhecida como Santa Maria de Jetibá.
Lá na Serra do Espírito Santo os pomeranos preservam ainda suas lindas tradições. Dá gosto de ver, recomendo. Há registros de que na região Sul do Brasil eles também fundaram colônia, mostram atualmente inteligência e bravura na lida do campo. E hoje fazem parte também da nossa tradição, por que não viajar até lá e conhecer? Em dias especiais há festas e comemorações de fazer o visitante chorar. Eu mesmo marejei os olhos, claro, impossível não me envolver. É como se os milenares cânticos em língua tradicional de lá pegassem carona do tempo e me fizessem sentir os campos europeus em época da colheita das beterrabas e das cerejas. Divino! Aqui no Brasil, as cabecinhas loiras das crianças de origem pomerana se somavam ao bailado do bater dos pés no assoalho de pau de ubá, e relembravam a dança nativa de um povo esperançoso em terra recém-chegada.
Que coisa linda a nossa mescla cultural! Impossível não se sentir encantado. Quando Fabiano Pobanz me serviu de guia pela cidade orgulhosa de ser a segunda maior produtora de ovos do Brasil, entendi o motivo das lixeiras espalhadas pelo distrito terem seus formatos ovais. Sim, exato, lixeiras temáticas mostrando o sucesso na produção avícola. Ademais, as construções arquitetônicas do município em estilo enxaimel revelavam lindas estruturas compostas de encaixes em madeira e que constituíram um convite às fotografias. Dá gosto mesmo admirar. Recordo que Fabiano Pobanz se afastou de repente e ficou um tempo a contemplar a cidade dos seus antepassados.
— Tudo bem aí rapaz?
Ele fez que sim com a cabeça e retornou para o carro sorrindo.
— Tá na hora, caro Erick, gosto de pegar a estrada cedo.
E foi assim, querido leitor, de quando conheci a pequena Pomerânia brasileira. É hora do Brasil valorizar a si mesmo e preservar a humanidade que existe por trás da história de cada um de nós. E viva Santa Maria de Jetibá, viva as raízes pomeranas.