Desabafos & DiscussõesLuiza Moura

Estupro: mais que física, é uma dor psicológica

Eu tinha seis anos de idade quando fui abusada sexualmente, lembro que “mainha” teve que viajar e eu e os meus irmãos tivemos que ficar na casa de nossa tia (que também viajou com ela). Morávamos na zona rural, nunca tinha ido à escola ou sido orientada através de um livro. Não sabia o que era aquilo (o abuso sexual) e ficamos com o nosso “tio”, marido da nossa tia. Fomos para a roça ajudar a colher feijão e voltamos “na boca da noite”, jantamos e fomos dormir. Ele se deitou conosco na cama e achei normal, afinal de contas, ele era o meu tio.

Momentos mais tarde ele pegou em meus braços e forçou a saída do vestido, tirando também a minha roupa íntima. Fiquei agoniada e pensei: “o que está acontecendo?”. Ele então tirou seu membro genital para fora e me usou para se masturbar, forçou a entrada da minha genitália e chorei porque doía e “ardia”… Ele tapou a minha boca com a sua mão e fiquei com tanto medo… tanto medo… tanto medo… Porquê? Ele era meu tio e estava me machucando… Eu não entendia o motivo dele estar fazendo isso comigo (uma criança). Ele teve seu “alívio” e eu me senti suja com a “sujeira” dele!

Saí da cama atordoada e fiquei a noite toda sentada em um banco (eu era uma menina que ainda acreditava que as crianças vinham dos ovos da amiga cegonha). Ele dormiu e eu não. No outro dia eu estava toda “inchada” de tanto chorar. Chorei porque fui machucada, só sabia que tinha sido machucada, não sabia que era crime, não sabia que ele era um pedófilo, não sabia que fui vítima, só sabia que tinha doído, que tinha sido ruim.

Ele falou: “isso é normal na primeira vez, faço isso porque gosto de você, só fazemos isso com quem amamos, não conta para ninguém, se contar você vai destruir a sua família”. Como alguém que ama pode machucar outro?! Para mim o amor é genuíno! Depois disso fazia o possível para ficar o mais longe possível dele. Minha família não desconfiava sobre o motivo de eu ter medo de homens quando se aproximavam de mim, até do meu pai eu tinha medo, quando ele ia me tocar achava que ele ia fazer igual ao “tio”, me machucar.

FUI VÍTIMA!

A culpa não é da vítima, nunca! Independente do estupro ou da origem da violência, a culpa não é da vítima! Peço as pessoas que não entrem no mérito de culpa exclusiva da vítima. Para mim é óbvio que não temos culpa embora pareça tão óbvio para a população que temos culpa. Quando escutamos e lemos que a mulher “deu motivo” para o estupro, penso: “Qual foi então o erro da criança?”, “A roupa infantil que usava?”.  Sempre que acreditem que a culpa é da mulher lembrem-se das crianças abusadas, dos homens que foram e são abusados sexualmente e simplesmente parem de acreditar que a culpa é da vítima. A culpa é de quem agiu e violou o direito da mulher/homem/criança. Vamos ajudar ao invés de julgar quem já sofreu algum tipo de abuso!

(Esse texto é de Leticia Oliveira, escritora, estudante de agropecuária, cuidadora de idosos e crianças e apaixonada pela arte. Veja mais sobre a autora no instagram: @versifiqueiamor)

Participe também dessa coluna! Envie o seu texto (de desabafo ou reflexão) para o email lmsn_91@hotmail.com ou entre em contato pelo instagram @luiza.moura.ef. A sua voz precisa ser ouvida! Juntos temos mais força! Um grande abraço e sintam-se desde já acolhidos!

Luiza Moura.

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Luiza Moura

Luiza Moura de Souza Azevedo é de Feira de Santana. Enfermeira. Psicanalista e Hipnoterapeuta. Perita Judicial. Mestre em Psicologia e Intervenções em Saúde. Doutora Honoris Causa em Educação. PhD em Saúde Mental - Honoris Causa - IIBMRT - UDSLA (USA); Doutora Honoris Causa em Literatura pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos. Possui MBA em gestão de Pessoas e Liderança. Sexóloga; Especialista em Terapia de Casal: Abordagem Psicanalítica. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Enfermagem do Trabalho. Especialista em Perícias Forenses. Especialista em Enfermagem Forense. Compositora e Produtora Fonográfica. Com cursos de Francês e Inglês avançados e Espanhol intermediário. Imortal da Academia de Letras do Brasil/Suíça. Acadêmica do Núcleo de Letras e Artes de Buenos Aires. Membro da Luminescence- Academia Francesa de Artes, letras e Cultura. Membro da Literarte- Associação Internacional de Escritores e Artistas. Publicou os livros: “A pequena Flor-de-Lis, o Beija-flor e o imenso amarElo” e "A Arte de Amar. Instagram: @luiza.moura.ef

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2 Comentários

  1. Uma história triste. Infelizmente existem “homens” que tiram a dignidade das pessoas com esse tipo de atitudes. Me nego a chamá-los de homens pois homens de verdade relacionam-se com adultos e não abusam crianças. As crianças são uma benção, uma criação divina e foram feitas para serem amadas independentemente da questão. Facto é que os abusadores não têm consciência do mal que causam para a vítima, deixam na pessoa um trauma difícil de reparar. Para casos do género deve-se denunciar, embora haja “impunidade” em certos casos, se todos abraçamos está causa, ministrar palestras em escolas, educar as crianças sexualmente penso que ajudaria em parte a mitigar casos do género.

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