Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIANotícias

Pendotiba ou o pêndulo de babaçu

Série: Histórias de Arariboia

Estava de passagem em Caruaru quando lembrei da queridíssima Niterói. No parque contíguo ao mercado municipal avultavam, além de alguns mandacarus ornamentais, duas frondosas espécies de plantas que amo de paixão. Uma, mais conhecida por esse nosso Brasilzão como cajazeira e, a outra, a tradicional palmeira do coquinho de pindoba. Bem, o pé de cajá me fez recordar dos doces da vovó fabricados com carinho. Já no caso da pindobeira, esse tipo de palmeira me levou direto às lembranças das missas em Pendotiba ilustradas pelas caminhadas do Domingo de Ramos.

Talvez o leitor não consiga ligar o nome à coisa, ou melhor, a causa à consequência. Necessário então desanuviar: houve um tempo, quando na cabeça da criançada da rua, todas as coisas funcionavam por analogia. Se os cajás no parque de Caruaru ofereceram motivos para me fazer lembrar das sobremesas familiares, as pindobas também me remeteram ao tempo de moleque, pois as folhas das palmeiras eram utilizadas nas procissões das Missas de Ramos. Isso mesmo, centenas de fiéis andando pelas ruas de Pendotiba ao som de hinos e preces católicas. Ah, época gostosa, que saudades tenho disso! Lá, bem longe de casa, a saudade batia forte.

Bem, mas há de se confessar, a vida adulta tem lá as suas vantagens. Um desses vantajosos frutos da maturidade é a aquisição do conhecimento. Verdade, tanto assim que, depois dos quarenta anos na cara, tomei ciência da origem do bairro Pendotiba. Decerto, pode acreditar, já de barba grisalha me acerquei da explicação. Sorte sua, caro leitor, pois chega então a você a a informação prontinha, registro territorial Tupi: pindo (palmeira) + tiba (sítio ou lugar), traduz-se por “sítio das pindobas”. Ou seja, o pindobal dos tempos da vovó tem tudo a ver com a fundação do bairro. Incrível, não é? A cidade-sorriso, onde passei a infância, traz a gênese histórica da planta nativa. Exato, palmeiras de coquinhos da pindoba de Caruaru e de Niterói são, em alguns territórios, chamadas de pés de coco de babaçu. Exatamente, as mesmas plantas das nossas procissões niteroienses.

Pois é, engraçado, vovó era tão sabichona e jamais explicou sobre isso. Coitada, duvido que soubesse do assunto. Os cajás interessavam mais, doceira de mão cheia, só a culinária convinha. Enfim, vão-se os tempos, restam as curiosidades, mas fica pois esclarecido. Até mais!

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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