Pendotiba ou o pêndulo de babaçu
Série: Histórias de Arariboia
Estava de passagem em Caruaru quando lembrei da queridíssima Niterói. No parque contíguo ao mercado municipal avultavam, além de alguns mandacarus ornamentais, duas frondosas espécies de plantas que amo de paixão. Uma, mais conhecida por esse nosso Brasilzão como cajazeira e, a outra, a tradicional palmeira do coquinho de pindoba. Bem, o pé de cajá me fez recordar dos doces da vovó fabricados com carinho. Já no caso da pindobeira, esse tipo de palmeira me levou direto às lembranças das missas em Pendotiba ilustradas pelas caminhadas do Domingo de Ramos.
Talvez o leitor não consiga ligar o nome à coisa, ou melhor, a causa à consequência. Necessário então desanuviar: houve um tempo, quando na cabeça da criançada da rua, todas as coisas funcionavam por analogia. Se os cajás no parque de Caruaru ofereceram motivos para me fazer lembrar das sobremesas familiares, as pindobas também me remeteram ao tempo de moleque, pois as folhas das palmeiras eram utilizadas nas procissões das Missas de Ramos. Isso mesmo, centenas de fiéis andando pelas ruas de Pendotiba ao som de hinos e preces católicas. Ah, época gostosa, que saudades tenho disso! Lá, bem longe de casa, a saudade batia forte.
Bem, mas há de se confessar, a vida adulta tem lá as suas vantagens. Um desses vantajosos frutos da maturidade é a aquisição do conhecimento. Verdade, tanto assim que, depois dos quarenta anos na cara, tomei ciência da origem do bairro Pendotiba. Decerto, pode acreditar, já de barba grisalha me acerquei da explicação. Sorte sua, caro leitor, pois chega então a você a a informação prontinha, registro territorial Tupi: pindo (palmeira) + tiba (sítio ou lugar), traduz-se por “sítio das pindobas”. Ou seja, o pindobal dos tempos da vovó tem tudo a ver com a fundação do bairro. Incrível, não é? A cidade-sorriso, onde passei a infância, traz a gênese histórica da planta nativa. Exato, palmeiras de coquinhos da pindoba de Caruaru e de Niterói são, em alguns territórios, chamadas de pés de coco de babaçu. Exatamente, as mesmas plantas das nossas procissões niteroienses.
Pois é, engraçado, vovó era tão sabichona e jamais explicou sobre isso. Coitada, duvido que soubesse do assunto. Os cajás interessavam mais, doceira de mão cheia, só a culinária convinha. Enfim, vão-se os tempos, restam as curiosidades, mas fica pois esclarecido. Até mais!