Desabafos & DiscussõesLuiza Moura

“Diálogos que não se Ouvem”

Esse título vem entre aspas porque é uma homenagem a uma obra quase não conhecida de um fabuloso padre, político, professor da década de 70, em uma cidade do interior da Bahia, já falecido, que conheci na minha infância, o qual escrevia livros mediante metáforas muito provocadoras. Em uma de suas obras, Demócrito (1970) traça um diálogo entre a “estrada velha” e a “a estrada nova”. De um lado, a estrada nova contava com uma alegria estonteante de quem assume olhares de admiração e novidade; do outro, a estrada velha, mesmo em seu abandono, via-se sábia e reconhecia sua utilidade. No entanto, agora esburacada servia apenas para encurtar algum destino, aos olhos de muitos.

Cada uma das estradas, a seu modo, descreve suas utilidades no contexto em que vivem. O grande ápice desse diálogo ocorre quanto a estrada nova se coloca “acima” das qualidades da estrada velha, chamando-a de caduca e esta diz: “Até nisso, tu provas que és produto dos homens atuais, com tuas maneiras de pensar e de agir. Se a verdade te favorece, te protege e combina com teu modo de agir, tu a procuras, tu a apoias, defendes e exaltas, com todas as suas forças; mas se essa mesma verdade te castiga, te condena, te contraria tu foges, silencias e a sepultas para seres sempre vencedora”. Retruca a estrada nova: “Mas os homens gostam é de mim…”. Em resposta, a estrada velha conclui: “Sim, concordo, porque tu sabes esconder por detrás da beleza, da facilidade, do bem-estar e do prazer, as ilusões que os cegam e os abismos sem conta que os acompanham”.

Qual seria a sua história? Seríamos uma estrada nova ou uma estrada velha? Não haveria o que aprendermos em ambas?

Certamente o que importa na nossa estrada da vida é o “Diálogo” que manteremos com: a existência de paradas obrigatórias, de sinalizações, de manutenções, de desvios, de inaugurações, de adequação da velocidade, de passar por buracos, de chuva e sol intensos, de experiência, de enfrentamento da realidade, de ponderação, entre outros, além de acreditar ou não que chegará ali em algum lugar… o seu lugar. Engraçado que mesmo sendo estrada nova e velha ambas convivem com a “Solidão”. No caso da estrada nova, os olhares, as admirações, os elogios mesmo que passageiros e movidos pelos interesses do que ela pode oferecer, encobre a solidão ali presente, pela simples necessidade de ser “reconhecida”. Já para a estrada velha, essa percepção de solidão traz reconhecimento das limitações e valorização de Si mesma. Ela ainda se vê útil e sabe que é! Não necessita dos elogios e flashes midiáticos, pôsteres e Tv.

Diálogo é uma interação com você mesmo

Muitos já ouviram as expressões do tipo “quem tem ouvidos para ouvir ouça”, “eu falo e você não escuta” e tantas outras que nos indicam que podemos não estar prestando atenção ao que alguém nos fala ou mesmo aquela leitura é ignorada. Tudo bem, sabemos que nem sempre dar ouvidos a alguém ou a um escrito nos interessa. Tenho tanta energia, muito o que fazer que prefiro aprender “vivendo o momento”. Bom já parou para pensar que o risco de você não interagir consigo pode ser perigoso? Certo, mas viver é um perigo! Concordo, desde que cada um que conceba esta afirmação possa produzir resultados em si de forma consciente. É tão bom quando estes resultados revelam você em seu equilíbrio emocional, por exemplo.

Caberia uma sinalização aqui: aparentar uma coisa aos olhos de todo o mundo é bem diferente da realidade que somos. E que bom que podemos pensar sobre isso, não é?! Qual sentido teria escrever esse texto se não provocasse uma concordância ou discordância em mim, em você… Interaja, desconforte-se, exercite-se no seu melhor e estará em diálogo com a estrada que você é e deseja ser. Assuma-se, reconheça erros, planeje acertos, ame-se, detenha-se se for preciso, mas viaje pelas estradas na busca de suas conquistas. Trabalhe o novo no novo, o velho no velho, pois “Ninguém põe vinho novo em odres velhos. Se alguém fizer isso, os odres arrebentam, o vinho se perde e os odres ficam estragados”. (Mateus, 9: 17).

Você pode dialogar com a solidão e se escutar

Para muitos filósofos, como Nietzsche, a solidão é um diálogo humano sensato e necessário. Para ele, este é o local perfeito para amar a vida como ela é. Não se trata de “autoflagelação” é uma oportunidade de sair da condição em que vive pela autoaprendizagem. O Grande Poeta Hainer Maria Hilke em “Cartas ao Jovem poeta” descreveu com sabedoria a necessidade de dialogar e escutar, tendo a solidão como instrumento não de isolamento prejudicial e sim de conhecimento íntimo de si. “Se o próximo lhe parece longe, os seus longes alcançam as estrelas, são imensos. Mas a sua solidão há de dar-lhe, mesmo entre condições muito hostis, amparo e lar, e partindo dela encontrará todos os caminhos”.

Esse é o nosso maior desafio: Diálogos precisam ser contextualizados e ainda cabem ser sentidos, pensados e vividos (LACAN) acreditando sempre que é possível compreender “os diálogos que não se ouvem” e processá-los a nosso favor.

Uau! Quantas leituras poderemos fazer desse diálogo! Eu prefiro falar que essa conversação nos indica que quanto mais caminhamos o mundo caminha conosco. Porém, se pararmos nos veremos sozinhos, já dizia A. J. Cronin. Assim, estar sozinho é diferente de viver momentos de solidão.

Então, sendo estrada velha ou nova, existem “Diálogos que não se Ouvem” em você?

(Esse texto é de Edmara Maltez, professora, consultora acadêmica e educacional, psicanalista e psicoterapeuta em formação.)

Participe também dessa coluna! Envie o seu texto (de desabafo ou reflexão) para o email lmsn_91@hotmail.com ou entre em contato pelo instagram @luiza.moura.ef. A sua voz precisa ser ouvida! Juntos temos mais força! Um grande abraço e sintam-se desde já acolhidos!

Luiza Moura.

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Luiza Moura

Luiza Moura de Souza Azevedo é de Feira de Santana. Enfermeira. Psicanalista e Hipnoterapeuta. Perita Judicial. Mestre em Psicologia e Intervenções em Saúde. Doutora Honoris Causa em Educação. PhD em Saúde Mental - Honoris Causa - IIBMRT - UDSLA (USA); Doutora Honoris Causa em Literatura pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos. Possui MBA em gestão de Pessoas e Liderança. Sexóloga; Especialista em Terapia de Casal: Abordagem Psicanalítica. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Enfermagem do Trabalho. Especialista em Perícias Forenses. Especialista em Enfermagem Forense. Compositora e Produtora Fonográfica. Com cursos de Francês e Inglês avançados e Espanhol intermediário. Imortal da Academia de Letras do Brasil/Suíça. Acadêmica do Núcleo de Letras e Artes de Buenos Aires. Membro da Luminescence- Academia Francesa de Artes, letras e Cultura. Membro da Literarte- Associação Internacional de Escritores e Artistas. Publicou os livros: “A pequena Flor-de-Lis, o Beija-flor e o imenso amarElo” e "A Arte de Amar. Instagram: @luiza.moura.ef

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