João Rodrigues

João Gildo – o precursor do sorvete em Reriutaba

A luz elétrica ainda não havia chegado na cidade, mas a energia de João Gildo não dependia da eletricidade. Seu sangue de comerciante borbulhava nas veias, e as ideias fervilhavam em sua cachola. Só faltava um gatilho para impulsioná-lo à realização.

Foi nos anos 50 que tudo começou. Ainda sob a luz da lamparina, João Gildo abriu uma bodega, que mais tarde passaram a chamar de mercearia. Sabão em barra, óleo (muitas vezes vendido na colher), arroz, açúcar (que poderiam ser vendidos fracionados – meio quilo, uma quarta…), pilhas de rádio, maisena, rapadura, pão, fumo, cigarros, brilhantina (vendida na colher) e mais tantas outras coisas do cotidiano do pequeno consumidor.

Com o passar do tempo, novos produtos foram surgindo, e o nosso comerciante, é claro, atualizava o freguês, o que tornava seu comércio referência. Se não tivesse um produto hoje, não demoraria muito e… lá estava ele na prateleira.

Nos anos 60, com a chegada da luz elétrica em Reriutaba, o tino de comerciante foi acionado. O que será que poderia ser feito de diferente naquela cidade quente de interior que atrairia e fidelizaria ainda mais fregueses? Nada melhor que algo que pudesse refrescar a garganta das pessoas. Foi daí que ele teve a ideia de produzir sorvete, algo completamente diferente e atraente (perdoe-me as rimas, caro leitor). Pois é, em 1968, João Gildo comprou sua primeira máquina de fazer sorvete e não parou mais. Os reriutabenses foram às alturas (um ano antes de os norte-americanos irem à lua)!

E como um bom comerciante sempre aproveita o progresso para evoluir também, em 1974 ele comprou um prédio em frente à Igreja Matriz, bem centralizado, e foi então que passou a ser mais conhecido. Eu mesmo passei lá muitas vezes, quando estudava no RM. Adorava aquele cheiro de sorvete, o barulho da máquina, o colorido dos picolés. Me lembro também dos pacotes de cigarros Hollywood, Continental, Arizona e tantos outros dispostos em suas miniprateleiras, e sobre o balcão havia um pote de balas que girava. Eu achava aquilo tudo tão chique!

Com o sucesso, foi preciso que alguém o ajudasse. Seu filho Jorge com a esposa Chiquinha, nora de João Gildo, passaram a trabalhar com ele. E a sorveteria transformou-se num point da cidade.

Mas João Gildo não era apenas comerciante, era também um cidadão que amava o esporte, e chegou a fazer parte da diretoria de um time da cidade. Por isso, foi homenageado em um Campeonato Municipal, o qual levou o seu nome, merecidamente.

E enquanto escrevo esta crônica, minha mente retorna aos anos 80, época em que eu passava por lá uma vez ou outra, e se delicia com os saborosos sorvetes de nosso inesquecível João Gildo.

 

Nota: Esta crônica foi baseada em uma entrevista feita por Leomário Muniz Passos, com Jorge e Chiquinha (filho e nora de João Gildo, respectivamente), para a peça “Reriutaba: 100 anos de Fulanos, Beltranos e Cicranos”.

 

João Rodrigues Ferreira

 

Crédito da Imagem: https://pixabay.com/pt/images/search/sorveteria/

Mostrar mais

João Rodrigues

Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba-Ceará, João Rodrigues é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estácio de Sá – RJ, professor, revisor, cordelista, poeta e membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e da Academia Virtual de Letras António Aleixo. Escreve cordéis sobre super-heróis para o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo