Alerta: Spam suspeito!
Costumavam dizer que o seguro morreu de velho. E, de fato, um grau saudável de desconfiômetro é necessário para sobreviver à enxurrada de golpes aos quais vivemos submetidos neste mundo conectado. Quem nunca recebeu o alerta de “spam suspeito”, ou “possível fraude” no seu celular? Que fique aqui bem entendido: não tenho aversão às tecnologias digitais, embora prefira uma postura moderada de entusiasmo. Se, por um lado, é incontestável que nunca estivemos tão próximos, nem jamais foi tão fácil acessar diversos dados, por outro, essa proximidade, muitas vezes, é enganosa e a informação questionável. Seja como for, recentemente, vivi uma experiência bem anedótica, capaz de ilustrar a necessidade de ressuscitar o dito popular e manter a mente alerta.
Estava visitando parentes fora do Rio, quando me chegou uma mensagem de pessoa de total confiança. Ela havia recebido o anúncio de uma grande loja, oferecendo dois produtos por menos de 10% de seu valor de mercado. Segundo me disse, se tratava de uma reparação pela perda de processo judicial, em resposta a publicidades carregadas de ideias estereotipadas e preconceituosas sobre os papéis e comportamentos sociais de homens e mulheres.
Logo de cara, achei aquilo estranho. Minha interlocutora, no entanto, garantiu que o fato tinha sido, inclusive, publicado num jornal respeitável e de grande circulação no país. Chegou a me enviar as imagens da notícia e o link para o site da tal loja.
Em geral, não clico em links. Suspeito por princípio, ainda mais quando a oferta é escandalosamente boa. Tenho a prática de investigar, na internet, referências para o fato anunciado como verídico, em busca de fake news. Afinal, a experiência nos diz que é mais provável esse tipo de mensagem ser um golpe, algo para pegar incautos. Desta vez, agi de modo contrário ao meu costume, influenciada pela certeza da mensageira. Por sorte, o problema não residia no endereço em si. Acessá-lo demonstrou ser inofensivo.
A página visitada era perfeita. Todo o visual pertencia ao estabelecimento. A informação do jornal também parecia verdadeira, ao menos na formatação. Ainda questionando sua veracidade, compartilhei a notícia com os demais da casa. Ninguém se interessou pelas ofertas. Então, baixada a adrenalina, comecei a analisar o anúncio.
O primeiro que percebi foi a disparidade entre o valor real e o proposto para ambos os produtos. Em segundo lugar, se destacavam a forma de pagamento (PIX) e a urgência na adesão à proposta, pois havia número limitado de unidades. Como assim? PIX não tem volta, nem devolução. E lojas grandes costumam oferecer várias opções para pagar, com maiores vantagens, sem dúvida, nos depósitos em dinheiro, débito ou PIX. Ali, só havia um caminho. Conversando com as pessoas à minha volta, ainda ponderamos que nenhuma ação judicial contra grandes corporações costuma finalizar-se em primeira instância. Além do mais, que forma estranha de reposição de perdas e danos morais era aquela! Parecia mesmo algo para atrair vítimas.
Chegamos à conclusão de que não havia consistência em tudo aquilo. A própria remetente da mensagem, pouco depois, voltou a entrar em contato, dizendo que havia investigado com maiores detalhes e descoberto a fraude. Ou seja, mais um golpe entre tantos a que estamos submetidos, com recursos elaborados, a fim de criar verossimilhança.
Imagino quantos infelizes terão caído no conto. E, também, como há verdadeiros especialistas em psicologia, arte, comunicação e escrita, a fim de compor cenários tão tentadores, se voltando para a contravenção e o crime. Cheguei a recordar um personagem de uma série satírica, cuja fala recorrente diante de um bandido vencido era algo como: “se ele tivesse usado seu talento para o bem, e não para o mal…” A coisa é manter o desconfiômetro, de fato, bem ligado e calibrado.
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Link da foto em destaque: autoral.
Sempre bom ligar o “desconfiômetro”😉
Josileine, a gente muitas vezes nem se dá conta… O povo é criativo para armar arapucas! Bjs
Vivemos mesmo uma enxurrada de golpes, todo cuidado é pouco…
Muito bom o seu texto, nos remete às armadilhas que vivemos em nosso cotidiano, ao mesmo tempo em que acompanhamos o desenrolar da história.
Obrigada, Cristina, por compartilhar!
Oi, Mônica. Bom ver você por aqui! De fato, um tema recorrente, atual e que nos afeta a todos não é? Obrigada pela força e pelo comentário.