Nada me pareceu mais conspícuo do que aquela égua moderna que julga recolher-se a casa de um amigo. Fica ali a espreita enquanto decido se devo me consternar sozinho ou sair para a rua, de modo que possa abater as causas ganhas. É que a égua não tinha a menor noção de que caíra em profunda amargura. Tudo isso eu vi porque me deixei levar pelas tendências da moda, olhava as calçadas e as praças a céu nu, malgrado a ventania política, em profundo desamparo.
Ora, mal sabem que me desentranharam a mau gosto em 15 de novembro, tomei um susto! Acordei e julguei ainda estar em Semana de eleições, mas estava tudo confuso. O jeito foi vestir-me e sair de casa. Dizem que chamada dos mortos nos anima, às vezes, vem até com dose pátria e pária, um sentimento meio doido e fresco para quem entende de castas. Fui sentindo que me queriam os olhos, pesadelo foi… Fiquei com preguiça, mas saí assim mesmo.
Ainda meio tonto, abateu-me uma espécie de chafariz carioca, quer dizer, da Carioca… foi o que me disseram. Não sei que lugar é esse, mas valeu um banho de séculos, afinal estava meio deitado, eu diria, desde o século XVI. Julguei ver a doce Olivia sob efeito mágico! Olhava para todo lado e via Olivia, tão singela! A esta altura, os senhores hão de ter notado a vilania da minha imaginação. Não acordei em tempos de fadas… por todo lado vós virdes mesmo cocotes desgrenhadas esperando uma penada dos ofícios de Camões. Voltei para a égua, pedi que intercedesse feito minha mãezinha, julguei ver um beco cheio de cancelas… Pura ilusão! A verdade, creio, é que minha doce Olivia virgem de mel ainda vive por essas bancadas. Mais vale um gracejo do que um enigma, logo, antes que me tirem o sono e me apontem as apólices, afofo o terreno para as vacas, carrego minha donzela casta e a imagino empinando os paninhos em suas lavagens.
(Imagem disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/animal-vacas-gado-mam%c3%adfero-parir-3536058/)
