VOCÊ ESCRITOR!

Você, Escritor! – Poema: “Desabafo” – Cintia Guimarães Pereira

Desabafo

(Por Cintia Guimarães Pereira)

Cansada!
Sim, como não estar?
Acordo cedo… às 5h.
Correria, rotina, lanche para o dia, pega ônibus…anda, anda e anda e pega outro ônibus.
Ninguém na BR…que Deus me proteja!
E trabalho.
Trabalho.
Trabalho e muitos, muitos trabalhos!
Segunda, terça, quarta,
Quinta, sexta e também sábado e domingo!
Sábado e domingo????
Mas você não é professora?
E sim, exatamente por ter essa profissão eu trabalho no sábado e domingo.
Cinco lugares diferentes.
Várias escolas, alunos, dinâmicas e pausas.
Muitas pausas!
A aula acabou!
Mas e a continuação do conteúdo?
Terminaremos na próxima semana.
Corre, Cintia…assina o ponto, entrega os diários,
Guarda os trabalhos no armário.
Banheiro.
Corre pro ponto.
Pega as conduções e ufa! Consegui um acento para sentar.
Hora do lanche / almoço ao caminho,
Vamos para o segundo turno do dia.
E chegamos na próxima escola.
Tia, tia ..tiaaaa!
Operação policial, tiro, bomba, medo, choro.
O almoço dos alunos é interrompido.
Corre com o prato na mão. Vem comer na sala!
O recreio não pode acontecer,
Há perigo no pátio.
Senta no chão, não fica na direção da janela.
Medo!
E choro…
Muito choro!
Todos choram.
Eu também choro por dentro.
Mas fiquem tranquilos, queridos. Vai passar!
Calma!
Calma!
Tô com medo, tia!
Não chora! Fique calmo!
Vamos aguardar.
Vai passar!
Guardem o material, os pais estão chegando.
Vão com Deus, cuidado!
Não pára na rua.
O último aluno saiu em segurança com o responsável.
Tia, psicóloga, mãe, porto seguro, ponto de referência, protetora, acolhedora, ouvinte e professora.
Mas não deu tempo de colar nos vinte e nove cadernos a tarefa de casa.
Vamos para casa. De ônibus?
Não! Não tem ônibus.
Caminhando então? Sim.
Então vamos e vamos!
Cheguei em casa, banho.
Que fome! O lanche do almoço foi pouco.
A tarde não deu tempo de comer nada.
Uma pausa no sofá para a alma retornar.
Aiii, tenho que alimentar o sistema!
Levanta do sofá, vai pro PC.
Testes digitados, ok!
Provas corrigidas, ok!
Notas do Simulado lançadas.
Nossa! Ainda bem que vim pro PC.
Ah! Tem a decoração da feira.
Pesquisa decoração, manda no grupo dos alunos.
Ajudo vocês a decorar, pessoal.
Avisos nos grupos do WhatsApp.
Uma escola reunião no sábado,
Outra escola capacitação presencial,
Outra escola feira no domingo.
Domingo? Sim, domingo.
Nossa! Mais sete grupos do trabalho com mensagens.
Vou ler?
105 mensagens, 250 mensagens, 75 mensagens, leio ou não leio?
Mas já são 00h…não vou conseguir ler agora.
Cansada! Muito cansada!
Caramba! Meia noite, já?!
Não jantei, agora não posso jantar. E o refluxo?
Melhor não comer nada.
Vou tomar água, engana um pouco o estômago.
Hora de descansar.
Deitada na cama, a cabeça a mil.
Uma hora da manhã já?!
Ainda tenho um, dois, sete itens pra fazer das escolas.
Pára mente! Preciso dormir!
Meu Deus! Que dia foi esse?!
Essa semana vai ser puxada.
Tenho que ir pra escola no final de semana.
Que horas vou planejar e corrigir as provas?
E hoje ainda é segunda feira.
Preciso dormir!
Mas, professor trabalha sábado e domingo?
Bom, conheça a rotina de um professor que irá saber.
Silêncio na mente! Silêncio!
Silêncio total!
Dormi!
Duas, três, quatro, cinco horas da manhã.
Celular despertou novamente.
Mas já, celular?
Terça-feira.
E começa tudo novamente…

Cintia Guimarães Pereira Cunha 20/10/2022

Fonte da foto de capa: https://pixabay.com/pt/photos/tempo-trabalhar-rel%c3%b3gio-caf%c3%a9-5193038/

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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6 Comentários

  1. Somente quem é professor é que entende essa dinâmica incrível de existir como professor!
    Gostei imenso do texto.

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