Projeto 16 horas de escrita – O Eterno Ciclo – Osvaldo Otero
O Eterno Ciclo
De outros eus, do que fui, eu me povoo.
Asas de sombras roçam-me as faces
E ao redor do meu ser planam, rapaces,
Bandos de abutres em silente voo.
(No vento do meu eu, das vidas minhas,
Pairam também as pombas e andorinhas).
Multidão, legião, mil facetadas
(Im)possibilidades é o que sou:
O que fui, o que serei, o que passou
E o que virá nas curvas das estradas.
(Na estrada da vida, andando a esmo
Um dia encontrarei comigo mesmo).
Tardo momento, hora da verdade
Como encontrar-se frente a um espelho
E descobrir-se fraco, feio e velho,
Se for essa a fria e dura realidade.
(Que surpresa, porém, se o andarilho
Radiar luz e aura e cor e brilho!)
É esta vida, esta rota que me assombra
Pois percebo que apenas replicamos
Os gestos do que fomos e assim vamos
Obedecendo ao que ficou na sombra.
(Cada vez que retorno a este palco
De luz, de mim mesmo me desfalco.)
Quando encerro mais um ciclo na jornada
E no sono final eu desfaleço
Novamente, é então que me conheço:
Mil e uma faces numa só, que é nada.
(Quando cessa, afinal, esta viagem?
Milhões de eus já trago na bagagem!)
O que é, na verdade, a minha essência?
Dispo meu corpo, ao me deitar na morte
E a meus múltiplos fundo-me, consorte
De mim mesmo, buscando a consciência.
(E a aguda dor da descoberta ensina
Que a viagem começa onde termina…)
Osvaldo Otero
Gostei imenso do seu poema, Osvaldo Otero. Encontrei algo em comum com o poema que eu publiquei no Projeto 16 horas de escrita. O meu texto chama-se “Sem palavras”.