Valdeci Santana

Os treze mandamentos do amor

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Um dia, no topo de uma montanha, eu vi um homem entalhando palavras numa pedra, cujo luzir cegava os olhos.

Minha curiosidade quis logo saber os detalhes daquele texto que o homem esculpia com tamanho zelo. Envolvido no tilintar do martelo e cinzel, ocultado pelas faíscas luminosas que a pedra expelia, aquele homem não percebeu que eu lia tudo por cima dos seus ombros. O texto era mais ou menos assim:

Os treze mandamentos do amor:

I – Que seja reciproco o amor que lhe confie, pois, o amor é via de duplo sentido, onde os corações frequentemente se atritam, trocando estilhaços e formando novamente dois, mas, com pedaços um do outro.

II – Jamais; em hipótese alguma, tente ignorar o amor. O amor é grande demais para se omitir. Quando omitido, o amor é um tigre que se agiganta e devora a alma que o aprisona.

III – Não tente mensurar o amor. As medidas do amor se ajustam individualmente. Cada alma recebe o amor que lhe convém em peso e medida.

IV – Não tente explicar o amor. Isso há de enlouquecer-te. Tantos sábios tentaram e fracassaram. Não há método, não há conceito e não há explicação. O amor é absolutamente independente e inexplicável.

V – O amor suporta ao temporal de uma briga. À calmaria da saudade. À fúria do tempo. O amor só não suporta a mentira. Se quiseres uma maneira rápida e eficaz de assassinar o amor, minta.

VI – Não tente curar o amor, pois, não há registro de qualquer compêndio ou elixir capaz de, ao menos, suavizar a febre do amor. O amor não tem cura. É uma doença que quando muito, num gesto misericordioso, nos ensina a conviver com ela.

VII – Não desperdice tempo, vasculhando corações alheios, tentando encontrar o amor que lhe caiba. O amor não está nas vitrines. Não encontramos o amor, é ele quem nos escolhe para fazer morada. O amor é um predador, que nos espreita e lança-se sobre nós num salto certeiro.

VIII – Não seja leviano com o amor alheio. Amor é sentimento que quando alimentado torna-se maior que o coração que o abriga. Brincar com o amor alheio é propor uma morte lenta, através de pequenas doses de esperança.

IX – Todo mundo é capaz de amar. Todo mundo ama. Ninguém é imune.

X – O amor não machuca ninguém. Quem machuca são as pessoas.

XI – O amor é animal cativo que, mesmo roubado, sempre há de voltar aos afetos de quem o cativou. Pois, o amor só se abre no mesmo coração uma única vez, sem dar espaço para outros amores. Coração e o amor são cativos um do outro. nada pode separá-los.

XII – Não se escolhe a quem amar. O amor não é seletivo. E ninguém entende seus métodos.

XIII – Se quiseres saber onde mora o amor, trato de lhe mostrar. Vá buscar um espelho.

 

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Valdeci Santana

Escritor. Autor de 4 romances: "As palavras e o homem de bigode quadrado", "A prima Rosa", "Dia vermelho" e "O rei da Grécia" Palestrante, contista e apresentador no programa #Cultura Tv Batatais

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