Valdeci Santana

Abstrata

Fonte da imagem: https://www.pexels.com/pt-br/foto/foto-da-pintura-abstrata-multicolorida-1193743/

Abstrata

Amélia não me dá lado porque sou feio!

Amélia de fato merece um sujeito formoso para lhe fazer par. Alguém cuja beleza possa ornar com os encantos de Amélia.

E que elegância eu possuo?

Minha aparência é comum e minha feição é sem sal.

Amélia merece homem de mãos macias, para tatear a aspereza de sua pele, tão bela e casquenta como a carapaça de um jabuti, ou, semelhante aos rugosos troncos de arvores, afinal, são lindos, os jabutis e as arvores.

Amélia tem belos olhos enviesados. Tortos como são tortos os caminhos do destino. Olhos capazes de me espreitar de ângulos distintos.

Perfeitos são os cabelos de Amélia. Esvoaçados e livres como o vento. Secos como meus lábios ficam diante de sua beleza.

Amélia é uma pintura! Uma pintura abstrata. O lindo é sempre abstrato.

Unitário exemplar da perfeição.

Ah! Feliz do homem que puder deslizar os dedos pelos inexistentes contornos de sua cintura, ocultos debaixo das dobras de seu quadril redondo.

Os fartos seios de Amélia apontam o chão. Onde brotam as sementes, onde farta a natureza.

Os dentes separados de Amélia são como vitrais amarelados, que exibem um pedacinho da língua, remexendo dentro da boca larga, de onde vaza uma voz metálica.

Amélia merece homem cheiroso, pois, seu farto nariz não há de se saciar com pouca essência.

Amélia é a tradução da perfeição!

Má sorte essa minha que fui nascer assim, tão feio.

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Valdeci Santana

Escritor. Autor de 4 romances: "As palavras e o homem de bigode quadrado", "A prima Rosa", "Dia vermelho" e "O rei da Grécia" Palestrante, contista e apresentador no programa #Cultura Tv Batatais

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