O homem invisivel
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O homem Invisível
O homem invisível acordou bem cedo.
Beijou a testa da mulher que dormia.
E silenciosamente, pra não acordar o dia.
Despiu-se da carapuça da miséria
E vestiu a armadura da coragem.
Caminhou na friagem,
Levando sobre os ombros,
A marmita da esperança.
E o sorriso das crianças.
No ponto da aglomeração,
Espera a carruagem.
Onde gente sonolenta medita as dividas.
E as noites mal dormidas.
Pela janela, o homem invisível,
Com seu olhar sensível,
Observa a vida.
Cheia de gente colorida
E mordomias tecidas na riqueza.
E com muita tristeza,
Clama a Deus
Que abençoe os planos seus
E finde sua pobreza.
No trabalho ele é invisível.
Massa de manobra!
Mão na massa.
Suor na obra.
O homem invisível sentiu frio
No estômago vazio.
Em casa os filhos comem o boi diário
Em pratos rasos
Num ordenado precário
E cheio de atrasos.
O homem invisível regressa à noite
O lombo surrado do açoite.
Do intenso sacrifício
Que exige o oficio
Volta pra sua comunidade invisível
Frequentada pelos trágicos números da estatística
Nas ruas trafegadas pela negligência.
E com paciência
Esbarra em espectros desorientados
Esquecidos pelo estado.
Consumidos pelas ruínas que habitam.
O homem invisível cai na calçada
Numa emboscada que não era sua
Lua prateada
Corpo estendido na rua.
Nasce mais uma família destruída
Por uma bala perdida,
De um projétil,
Que por mais talentoso que seja
Quem o maneja
Sempre encontra, como selo fértil,
Um homem invisível.