Valdeci Santana

O homem invisivel

fonte da imagem: https://www.pexels.com/pt-br/foto/dois-homens-caminhando-perto-de-um-predio-de-concreto-1545494/

O homem Invisível

O homem invisível acordou bem cedo.

Beijou a testa da mulher que dormia.

E silenciosamente, pra não acordar o dia.

Despiu-se da carapuça da miséria

E vestiu a armadura da coragem.

Caminhou na friagem,

Levando sobre os ombros,

A marmita da esperança.

E o sorriso das crianças.

No ponto da aglomeração,

Espera a carruagem.

Onde gente sonolenta medita as dividas.

E as noites mal dormidas.

Pela janela, o homem invisível,

Com seu olhar sensível,

Observa a vida.

Cheia de gente colorida

E mordomias tecidas na riqueza.

E com muita tristeza,

Clama a Deus

Que abençoe os planos seus

E finde sua pobreza.

No trabalho ele é invisível.

Massa de manobra!

Mão na massa.

Suor na obra.

O homem invisível sentiu frio

No estômago vazio.

Em casa os filhos comem o boi diário

Em pratos rasos

Num ordenado precário

E cheio de atrasos.

O homem invisível regressa à noite

O lombo surrado do açoite.

Do intenso sacrifício

Que exige o oficio

Volta pra sua comunidade invisível

Frequentada pelos trágicos números da estatística

Nas ruas trafegadas pela negligência.

E com paciência

Esbarra em espectros desorientados

Esquecidos pelo estado.

Consumidos pelas ruínas que habitam.

O homem invisível cai na calçada

Numa emboscada que não era sua

Lua prateada

Corpo estendido na rua.

Nasce mais uma família destruída

Por uma bala perdida,

De um projétil,

Que por mais talentoso que seja

Quem o maneja

Sempre encontra, como selo fértil,

Um homem invisível.

 

 

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Valdeci Santana

Escritor. Autor de 4 romances: "As palavras e o homem de bigode quadrado", "A prima Rosa", "Dia vermelho" e "O rei da Grécia" Palestrante, contista e apresentador no programa #Cultura Tv Batatais

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