Cristiano Fretta

Revista Sepé: é necessário apoiar

Revista Sepé: é necessário apoiar

Alberto Manguel, em seu excelente Encaixotando minha biblioteca, faz um verdadeiro louvor ao livro impresso. Tendo como mote sua mudança de uma casa medieval em Loire, na França, para um apartamento em Nova York, a obra é composta por ótimas digressões sobre o objeto livro. Manguel precisava – imagine o tamanho da logística! – transportar nada menos do que 35 mil volumes para o outro lado do mundo. E é no ato de retirar da estante, encaixotar, desencaixotar e recolocar em outras estantes os seus milhares de livros que Encaixotando minha biblioteca nos cativa. Se fosse um meio virtual, não haveria nenhuma necessidade de uma trabalhosa logística, mas, sem dúvida, toda carga histórica e emocional que está atrelada a um volume físico se perderia. Aliás, é por ele não gostar de devolver nem emprestar livros que o autor nos diz que:

Talvez por isso não me sinta confortável numa biblioteca virtual: você não pode verdadeiramente possuir um fantasma (embora o fantasma possa possuí-lo). Desejo a materialidade das coisas verbais, a sólida presença do livro, seu formato, tamanho e textura. Compreendo a conveniência dos livros imateriais e a importância deles na sociedade do século XXI, mas para mim eles equivalem a relações platônicas. Talvez isso explique por que sinto tão profundamente a perda dos livros que minhas mãos conheciam tão bem. Sou como são Tomé, quero tocar para crer.

É inegável a praticidade e a consequente democratização que o livro digital – seja ele no já antigo Domínio Público ou nos modernos Kindles – pode nos proporcionar. No entanto, também é inegável que o livro impresso está alicerçado em no mínimo três milênios de tradição; desde a utilização do papiro, no Egito antigo, a leitura passou a ser vista como algo para muito além da simples visão: é necessário também o tato e, claro, o olfato – quem nunca cheirou um livro? Dessa forma, o livro digital pode ser considerado uma novidade bem recente se levarmos em conta a invenção da escrita.

A Revista Sepé, editada pelo incansável Lucio Carvalho, é daquelas coisas que dá gosto de se ver. Com o objetivo de divulgar autores ao sul do país, a revista sempre se mostrou um espaço extremamente democrático e aberto a novos autores. Dessa forma, por meio dos meios digitais, consolidou um público leitor e conseguiu, além de fixar seu nome no hall das belas iniciativas das letras rio-grandenses, também dar forma e coesão à produção local.

A Sepé é uma revista digital, mas que agora precisa encontrar a milenar tradição do livro impresso. É por isso que, em parceria com a Diadorim Editora, foi lançado o projeto Contos da Sepé, que tem por objetivo transformar em um belo volume impresso o texto de 50 escritores – entre os quais me incluo – que colaboraram com contos na revista. É uma edição que naturalmente representará a diversidade da produção literária no Rio Grande do Sul.

É necessário, portanto, levar a Sepé ao livro impresso. Para tanto, é necessário apoiar a revista por meio do Catarse. Somente monetizando o projeto – como tudo na vida – é que poderá se dar luz a uma edição que, sem dúvida, será histórica nas letras sulinas contemporâneas.

Apoiar a Sepé pode parecer pouco, mas é muito: mais do que nunca, o Brasil precisa de iniciativas que valorizem a Arte. Sem dúvida, o apoio a esse importante projeto literário de Lucio Carvalho é uma maneira de não só valorizar os escritores sulinos, mas também de colocar a literatura no lugar que lhe é assegurada: em meio aos seus leitores – de preferência em um livro impresso, guardado na estante.

Participam da antologia os seguintes escritores: Ademir Furtado, Adriana Bandeira, Anna Mariano, Antonio Prates, Antonio Schimeneck, Athos Ronaldo Miralha da Cunha, Augusto Darde, Carolina Panta, Catia Schmaedecke, Claudio B. Carlos, Claudio Noronha, Cristiano Fretta, Dani Langer, Eloar Guazelli, Fabrício Silveira, Flávio Ilha, Giovani Thadeu, Graziela Jacques Prestes, Gustavo Lagranha, Gustavo Melo Czekster, Hitallo Dalsoto, Iuri Müller, Jair Portela, João B. Cabral, Jorge Rein, Letícia Copatti Dogenski, Letícia Möller, Lucia Nogueira Leiria, Luciana Paiva Coronel, Marcelo Martins Silva, Marcos Weiss Bliacheris, Marga Cerdón, Maria da Graça Rodrigues, Maristela Scheuer Deves, Maximiliano da Rosa, Maya Falks, Meire Brod, Miguel da Costa Franco, Milene Barazzetti, Naida Menezes, Nei Duclós, Nelson Rego, Pablo Morenno, Paulo Damin, Rochele Bagatini, Simone Saueressig, Tailor Diniz, Tatiana Cruz, Tiago Maria, Valéria Surreaux e Vera Ione Molina.

 

Link para apoio:  https://www.catarse.me/contosdasepe

 

Fonte da imagem: cedida por Lucia Carvalho.

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Cristiano Fretta

Cristiano Fretta é mestre em Letras pela UFRGS, músico, compositor e professor de Literatura e Língua Portuguesa em escolas privadas de Porto Alegre. É autor das obras "Chão de Areia", "Tortos Caminhos", "A luz que entrava pela janela" e "Crônica de um mundo ausente". Também colabora com as revistas digitais Parêntese, do grupo Matinal Jornalismo, Passa Palavra e com o jornal Extra Classe. Nasceu e mora em Porto Alegre

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