Cristiano Fretta

O Livro e a Vida – Parte 4: “A era dos extremos”

  Eu queria me aprofundar no século XX. Havia uma quantidade inacreditável de coisas sobre as quais eu não tinha o mínimo conhecimento. Na faculdade, eu ouvia falar de Guerra Fria, Holocausto, Revolução Russa, Woodstock, Vietnã, sabendo que havia, nessa diversidade toda, uma unidade que significava século XX. Quando eu lia Drummond, sentia que toda essa “consciência de seu tempo” estava presente em cada linha dele, embora não soubesse explicar exatamente o que era essa consciência.

Fui ao sistema de busca da biblioteca da UFRGS e digitei “história século XX”. Uma quantidade incrível de bibliografia se revelou na minha busca, mas um dos livros me chamou a atenção: “A Era dos Extremos”, de Eric Hobsbawm. Algum professor já o havia citado em aula. Fui até a estante em que ele se encontrava e não tive dúvidas: era aquilo que eu precisava. Minha vontade, no entanto, era ter o livro para mim, para poder riscá-lo à vontade. Foi por isso que eu o comprei no Submarino, gastando quase todo o dinheiro que eu tinha na minha conta, fruto de algumas aulas particulares.

Quando, cerca de uma semana depois, o livro chegou, não pude esconder o meu contentamento. Minha mãe me olhou abrindo a embalagem e perguntou: “livrinho novo?”. Eu sorri. Ao tirar o plástico da linda edição da Companhia das Letras, percebi a qualidade do papel e das imagens. O livro tinha muito material iconográfico!

 Foi assim que eu, afoito e feliz, me lancei ao estudo daquilo que a própria obra chamava de “O breve século XX”. Compreendi como nunca a 1ª Guerra Mundial, a Revolução Russa, o surgimento das vanguardas, a inevitável Segunda-Guerra, a ascensão dos fascismos até chegar aos choques culturais dos anos 60, com seus hippies e homens na lua. Aquele era o meu tempo, e eu me sentia repleto dele.

Andando com o livro para lá e para cá, eu me sentia cada vez mais inteligente, pairando um pouco acima da população em geral. O nome disso é arrogância de graduando, e não foi sem um pouco de felicidade que eu a cultivei com a companhia de Eric Hobsbawm.

Ainda hoje, quando faço indicações de obras para formação de repertório cultural a ser utilizado em redações modelo Enem, “A era dos Extremos” ocupa lugar de destaque. Tudo o que estudei sobre século XX nos próximos anos teve como modelo do raciocínio dessa obra como alicerce. Eu gostaria que todo mundo a lesse!

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Cristiano Fretta

Cristiano Fretta é mestre em Letras pela UFRGS, músico, compositor e professor de Literatura e Língua Portuguesa em escolas privadas de Porto Alegre. É autor das obras "Chão de Areia", "Tortos Caminhos", "A luz que entrava pela janela" e "Crônica de um mundo ausente". Também colabora com as revistas digitais Parêntese, do grupo Matinal Jornalismo, Passa Palavra e com o jornal Extra Classe. Nasceu e mora em Porto Alegre

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