Renato Amaral

Crônica Aprendizados de um abraço

Imagem de Bessi por Pixabay

Aprendizados de um abraço

 

O abraço antes de qualquer coisa é uma das maiores demonstrações de afeto existente. Num abraço existem incontáveis motivos por trás de um simples movimento de abrir de braços. Nesse gesto está contido um afável cumprimento ou até a despedida do derradeiro suspiro. Eu poderia ficar horas aqui discorrendo sobre formas de abraços e de se abraçar. Poderia falar sobre o abraço materno, primeiro enlevo que nos aquece o coração, ou do paterno que transmite a proteção que muitas vezes nos falta. E há também o dos avós que vêm doce como mel e os dos amigos de infância que duram até a velhice. Não poderia esquecer os que são dados na alcova, mas é melhor que cada um guarde o seu em segredo. Mais fácil ainda seria falar também daqueles abraços em que poderíamos morar dentro deles. A banda de música Jota Quest já cantou que “o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço”, e nosso querido poeta contemporâneo e atemporal, Belchior, nos mostrava a poesia do abraço em forma de música cantando “Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar. Que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar…”.

Creio firmemente que o abraço é um afago na alma, um refrigério ao coração. Nessa vida eu já recebi, ofertei e troquei milhares (com certeza) deles. Para ilustrar melhor o motivo de escrever essa crônica, quero contar três casos de abraços que mudaram minha vida e guardo com carinho em minha memória. Três abraços que me ensinaram muitíssimo em determinado momento da minha trajetória.

O caso inicial ocorreu logo no princípio da minha adolescência, no primeiro dia de aula na quinta série do Colégio Estadual Manoel de Abreu, em Niterói. Recém chegado à cidade e à escola no meio do ano letivo, me vi perdido até encontrar um norte na doce e enérgica Maria (desde sempre mãezona de todos). Após os cumprimentos cheios de vergonha e timidez, Maria me recebeu com um abraço tão acolhedor, que dali em diante me senti em casa. Provavelmente ela não se lembre, pois a sua natureza é a de acolher. Recentemente no encontro da nossa turma da época da escola, após mais de vinte anos pude reencontrar Maria, e novamente receber aquele abraço que dispensa comentários. Se eu nunca a disse, agora ela saberá que seu abraço foi na medida certa de tudo que eu precisava.

O segundo fato aconteceu quando já morava no interior do Rio de Janeiro, precisamente na cidade de Paraíba do Sul. Fiz uma das amizades mais lindas que já tive nessa vida com a queridíssima Ana Lúcia. Aninha, como eu a chamava tinha um abraço tão sincero que cumpria seu propósito de afeto. Em compensação eu não tinha essa reciprocidade em forma de abraço. Muito minha amiga, Aninha um dia que nos abraçávamos parou e disse: “Renatto, por que você não abraça forte. Com vontade!”. Graças a essa observação amiga, eu aprendi que o abraço tem que ser intenso, ter retribuição, troca, carinho e demonstração de afeto genuíno. Aninha também só descobrirá que modificou uma parte de mim após ler essa crônica.

A terceira lição vem de Chico Xavier, que dispensa apresentação. Um dia vi depoimentos de mães destroçadas por perdas de filhos, entes queridos e até da própria fé, que encontraram consolo nos braços do médium. Dizem que suas palavras de alento e seu abraço conseguiam apascentar as dores da alma. Aprendi emocionado que o abraço restitui, energiza, consola e transmite paz ao espírito de quem o recebe.

Desde então eu abraço todos os meus amigos, pois assim consigo chegar o mais próximo possível o meu coração no coração de quem o recebe!

Abrace sempre e receba com muito carinho meu abraço!

 

Por Renatto D’Euthymio

Instagram: @renattodeuthymio

E-mail: renattodeuthymio@gmail.com

 

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Renatto D'Euthymio

Renatto D'Euthymio, carioca de Santa Tereza, dividindo residência entre São Gonçalo - RJ e a pacata e inspiradora, São José do Calçado no Estado do Espírito Santo. Estudante Rosacruz, técnico em Radiologia, flamenguista fanático e apaixonado pelas filhas Rannya e Rayanne. Cultiva desde criança uma paixão pelos livros e seus gênios. Autor do livro de poemas Solilóquio Antes e Depois da Forca (2020) e do livro de humor O Tabloide Jocoso (2021). Premiado em dezenas de concursos literários (Poesia, Crônica, Conto e Microconto), e publicado em Antologias e Coletâneas. É tão ligado à Literatura que de vez em quando não se contém e atreve-se a rabiscar algumas linhas.

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