Natureza
A língua é minha escrava. Sorte mesmo tem quem pode caminhar com ela às escondidas. Muitas vezes arregaça as pernas. Há tanta vontade de dizer que escorre enjambement para o verso seguinte. Não há fronteiras. Vem uma mão cuidadosa, feroz, e me esfrega um sintagma em cavalgamento.
A continuação se faz necessária. Ansiosa por ascese, enquanto lábios se encontram e recebo o tapa na cara, tento manter o controle do corpo. Fracasso. Ela me maldiz e logo vem por trás me mostrando também a masculinidade. Nasce o rigor das águas, não sem antes passar pela altivez da cachoeira. Engana-se quem imagina a dureza do estilo no encontro fortuito das palavras eretas, imponentes, compridas e grossas. Há lantejoulas pequenas, mas tão duras que são capazes de devastar uma alma, pude experienciar em extravagantes passeios.
Ela gosta mesmo de me enganar, vive escondida dos açoites. Uma hora é o tronco seco queimando na floresta, em outras tantas, é a doce clorofila pigmentando as enervações das folhas virgens. Absorve tanta luz que pode refletir cores variadas, desde a violeta a mais tenra vermelha.
O tecido obtém um composto orgânico, vivo e intermitente. Se carregada de álcool, dizem, a substância é eliminada sem moderação.
A concentração maior de clorofila fica a cargo das plantas sombreadas, aumentam o cumprimento* das ondas e dos sulcos em mesma proporção.
O sulco da boca pode ser uma fenda, uma cesura que reveste a margem livre e permite a entrada de uma sonda sem grande resistência. Nasce daí muita conversa palatável e eu já não sei mais o que dizer.
*cumprimento (Michaelis)