Cristal da Alma
Ao tentar proteger meu avesso
Dos olhares alheios
Vejo que não me olho
Por medo de reconhecer
Minhas amarguras retalhadas
Desencontradas da esperança
Ao respirar e encarar
Minhas desavenças e lutos
Pintei a amargura de alaranjado
O que superei virou entardecer de aprendizado
No que me transformei
Amanheci em esperança!
(Michelle Carvalho)
Certa vez li em um livro a simbologia “cristal da alma” e pensei em muitas coisas…
Quanta preciosidade carregamos na nossa alma e como ela é frágil!
Na fragilidade da alma carregamos nossa essência que nos faz quem somos, mas nela também se encontra o local mais precioso onde carregamos nossas grandes lutas para buscar a paz.
Passar pelos conflitos diários, intensos e complexos sem arranhar, escurecer, deteriorar ou quebrar nosso cristal essencial, demostra nossa verdadeira vitória!
É nesse lugar do cristal, no âmbito mais interno que se mostram as pessoas mais interessantes, e é lá que somente deixamos chegar quem confiamos e que desejamos ter, afinal nosso verdadeiro lado é o avesso. Construído, reconstruído, rachado, empoeirado, costurado, mas o que mostra como somos de verdade.
No lugar da fragilidade encontramos as dores, cicatrizes e as sementes brotando de esperança em um enlace inexplicável onde a semente é regada por lágrimas que fecundam a força de ser melhor, afinal, nestas junções que nos tornamos renovados na equidade equilibrada de florescer sem deixar de carregar a bagagem que realmente importa.
Muitos vivem no passado da dor, em um luto que veio antes mesmo da perda, vindo de uma atitude forçada imposta por outrem quando necessariamente tínhamos que crescer e não queríamos deixar de ser quem éramos.
Em uma junção de perdas sucessórias e gradativas, a desorientação vai crescendo e demonstrando-se no que nos cercam, na bagunça externa da casa, do ambiente que não evolui, que atravanca no medo de evoluir e perder o pouco que anda permanece do que se perdeu.
Mas a vida é feita de ciclos, de lutos, de tempos e de reformulações onde a renovação do ambiente influencia nos desdobramentos do que precisa ser curado lá no cristal da alma.
Iniciemos o apagar das dores pintando nosso ambiente com o alaranjado brilhante de Adélia Prado, para que sua casa pareça um eterno amanhecer de esperança e entendendo que o entardecer da despedida do que se passou também é composto de outro tipo de alaranjado, um alaranjado róseo que transmuta o amor pelo que foi vivido como experiência e aprendizado.
Permitamo-nos despedir do dia com a música da esperança que nos cerca, desvencilhando-nos dos tampões gerenciados pelo medo e pela dor que nos paralisam, tonteiam, petrificam. Rasguemos esses tampões e estiquemos os braços para acalentar nossa alma frágil que deseja ser feliz.
Em tantas vezes não desejamos desacelerar para não enxergarmos toda essa realidade que nos cerca e fugimos de encarar, para não encontrarmos nossas profundezas, nossos avessos, nossa essência demaquilada, sem apertos que disfarçam imperfeições. As dores, os cacos desconstruídos, os lutos perpetuados e não superados, a falta de evolução para os alaranjados brilhantes do amanhecer da vida nova.
Por isso falamos tanto que não temos tempo, para ocupar a mente e não pensar do lado de dentro. Contudo quando organizamos todas essas desavenças inquietas podemos dizer também como a querida Adélia Prado e continuar sem tempo, porém por outro aspecto: “Não tenho tempo algum, porque a felicidade me consome!”
Michelle Carvalho
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