Carina Lessa

Verbos Anômalos

No princípio era o verbo…

                Celso Cunha me ensinou algo mais ou menos assim:

– Verbos irregulares são verbos anômalos, aplica-se a última denominação a verbos como estar, haver, ser, ter, ir, vir e pôr, cujas profundas irregularidades não se enquadram em classificação alguma.

Caberiam bem num corpo vivo, amoroso, mas em tempos sombrios acabaram mutilados. Sangram uma arte da barbárie, que está a serviço da degradação do outro. Quando nada mais nos resta, a barbárie chega à arte.

Quantos verbos anômalos cabem num processo de desumanização?

E tudo foi projetado sob as luzes divinas.

Luzes, luzes, garotada!

Sê as margens freudianas do fracasso.

Sê a irascibilidade contemporânea.

Sê a regularidade do riso.

Crianças em fase de aquisição da linguagem reconhecem bem o perigo:

– Sesse uma única vez.

Mas quem era o princípio? Vocês estavam lá?

O homem deita no chão tranquilamente como quem ri das flechadas costumeiras, como quem já não perde tempo observando os atiradores.

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Carina Lessa

É ficcionista, poeta, ensaísta e crítica literária. É graduada em Letras, mestre e doutora em Literatura Brasileira pela UFRJ. Atua como professora de graduação e pós-graduação nos cursos de Letras e Pedagogia da Unesa. É membro da Associação de Linguística Aplicada do Brasil e da ABRALIC.

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