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Entrevista: Conheça o escritor gonçalense Erick Bernardes

Erick Bernardes é o autor de três volumes do livro "Cambada - Crônicas de Papa-Goiabada"

Desde que a humanidade existe as histórias são passadas, oralmente, de geração para geração. A modernidade chegou, as redes sociais tomaram conta das nossas vidas e as memórias deixaram de ser contadas em torno de fogueiras para serem contadas em livros ou em vídeos. Saber como seu bairro foi formado, tudo que passou por ali e fatos históricos, é uma tarefa a ser contada por poucos. O município de São Gonçalo no Rio de Janeiro tem o seu escritor e historiador, Erick Bernardes, que lançou nos últimos anos três volumes do livro “Cambada – Crônicas de Papa-Goiabada”, contando justamente as histórias locais. Então, conheça Erick Bernardes.

1. Apresente-se.

Meu nome é Erick Bernardes, sou Mestre em Estudos Literários pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e doutorando em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sou autor do livro Panapaná: contos sombrios e dos livros Cambadas I, II e III: crônicas de papa-goiabas e do cordel Voz de prisão: Graciliano Ramos e as Memórias do cárcere. Também colaboro com as Revistas Entre Poetas e Poesias e Suplemento Araçá, além de ser cronista do Jornal Daki. Sou acadêmico pesquisador da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) e acadêmico da AGLAC (Academia Gonçalense de Letras Artes e Ciências). Atuo esporadicamente como ensaísta em revistas acadêmicas: Alumni, Soletras, Entrelaces, Mafuá, E-scrita, Kalíope, dentre outras.

2. O que é o ato de escrever para você? Como é seu processo de criação?

A escrita, na minha concepção, é a forma de me comunicar com o mundo, oferecer às pessoas minhas ideias e estar disposto a escutar. Uma via de mão dupla: necessidade de falar ao outro e doação, ao mesmo tempo. Meu processo de composição não segue lógica alguma, posso escrever quando acordo, num pedaço de papel. Talvez em um breve tempo de folga, abrir o computador e digitar um conto ou poema. Contudo, importante reconhecer, é hoje o bloco de notas do celular o meu maior aliado quando quero escrever, a praticidade me fisgou. Se eu decidir escrever, sempre sai algum texto de criação. Não creio em inspiração. Ponho fé e realizo o trabalho literário.

3. Você é um prosador reconhecido. Como a prosa chegou na sua vida?

Fico grato pelo atributo de “reconhecido” (risos). Bem, a leitura desde criança me estimulou, fábulas, contos, gibis, enfim, mexeram com minha vontade. Já criança eu escrevia parcamente umas “coisinhas”. Porém, necessário admitir, foi a Faculdade de Formação de Professores da UERJ que ofereceu base para elaborar textos com cuidado. O curioso é que eu comecei a escrever na graduação, para revistas acadêmicas, artigos críticos e ensaios teóricos. Tive professores de excelência que me conduziram na prática das pesquisas. A prosa artística profissional veio depois. Isso me permitiu compor conscientemente, com estratégias de captação da atenção do leitor, pois eu analisava esses tipos de manejos estilísticos em prosa na faculdade. Se eu tivesse que me definir, diria que sou um crítico literário errante metido a prosador ficcionista. Sem falsa modéstia, há uma longa estrada nessa arte, sei nada ainda sobre ser um escritor nesse mundão de gente grande.

4. Você, nos últimos anos, contou diversas histórias sobre o município de São Gonçalo. Como nasceu essa ideia?

Olha… Isso partiu do meu primeiro livro, um volume de contos chamado Panapaná: contos sombrios. E o impulso de propaganda foi dado por você, Renato, quando publicou matéria de página inteira no Jornal Diário da Poesia e me ofereceu o espaço para lançar oficialmente o Panapaná. Como o livro de contos é majoritariamente contextualizado na geografia gonçalense, percebi que a ideia agradou. Em contato com Hélcio Albano, incansável editor do Jornal Daki, combinamos de levar a público, todo domingo, uma história sobre SG, e deu certo, mais até do que o esperado. Tão logo completaram quarenta crônicas no Jornal Daki, decidimos confeccionar o livro, o primeiro (o vermelhinho), nem imaginava que se tornaria uma série de nome Cambada. O certo é que o livro ganhou as escolas e leitores de todas as idades, repetimos a fórmula, Cambada II e III surgiram nos anos seguintes.

5. Continuando com as histórias, você lançou 3 volumes do Cambada – Crônicas de Papa-Goiaba. Conte-nos um pouco sobre cada.

Sim, o supracitado livro vermelho, o primeiro Cambada, explicava o motivo de eu tomar o caranguejo como símbolo do gonçalense. A explicação está no prefácio, e as crônicas falam de Luz del Fuego, Palacete do Mimi, Luiz Caçador, Venda da Cruz, Salgueiro, por exemplo. Sempre focado na oralidade, a riqueza das narrativas das pessoas do lugar. Se eu encontrar algum documento ou escrita historiográfica para corroborar a crônica, melhor. No entanto, não é uma preocupação da minha pesquisa. O Cambada II, veio na cor azul, como homenagem ao caranguejo guaiamum. Continua a fórmula de levar conhecimento de modo prazeroso e divertido ao leitor. Histórias do Morro do Castro, Brasilândia, Jardim Miriambi, Legião, etc. Em pelo menos metade desses lugares eu visitei de ônibus, no intuito de conhecer as pessoas do entorno. Agora saiu do forno o Cambada III, na cor branca, com o símbolo preto, em alusão ao simpático caranguejo marinheiro, típico do mangues daqui. Este mais recente volume oferece ao público narrativas sobre Mundéu, Bichinho, Marambaia, Buraco do Pato, Favela do Gato e muito mais. É bastante bairro para contar história.

6. Como é ter contato direto com o leitor? A interpretação que o leitor tem dos textos é igual a proposta da escrita?

Ah, isso é imprescindível, meu caro. Não poucas vezes são os leitores que me ligam ou se encontram comigo na rua e me ofertam as histórias. São preciosidades, nem me faço de rogado, ouço as histórias e as escrevo depois – e se o leitor que me proporcionou a narrativa permitir, transformo ele em personagem. Uma delícia de experiência. Quanto às interpretações dos leitores… sim e não, quero dizer, na maior parte das vezes ocorre como o previsto. Entretanto, em alguns poucos casos o retorno é inesperado. Mesmo assim, eu uso a experiência na construção das crônicas: de uma reclamação de leitor pode surgir outra composição interessante num outro momento.

7. Você pensa em se aventurar em outras escritas, outros livros, fora da temática do município?

Sim. Eu tenho vontade de publicar meus ensaios acadêmicos sobre Graciliano Ramos e Bernardo Carvalho. Uma livro sobre a história do cordel é uma possibilidade próxima. Tenho uma quantidade boa de material para isso. Também possuo alguns projetos de romance de ficção científica, mas para um longuíssimo prazo.

8. Você é professor. Como você vê seus alunos se desenvolvendo na escrita?

Na prática é uma minoria que demonstra interesse real. Mas aqueles que se interessam me animam a instruí-los, a desenvolver a escrita. Uns se destacam e seguem firmes, outros enveredam por atividades distintas, contudo, é gratificante ver meus alunos produzirem com qualidade.

9. Planos para o futuro.

Acho que ficou quase tudo na pergunta número sete. Mas posso complementar afirmando que pretendo concluir meu doutorado, continuar as pesquisas, estudar a arte da poesia de cordel, criar mais parcerias e, quem sabe, chegar ainda mais aos corações das pessoas com a escrita leve e produzida com carinho.

10. Contatos e como as pessoas podem adquirir seus livros.

Quem quiser adquirir os livro Cambadas I, II e III encontrará na Livraria Ler é Arte, pelo tel. (21) 2088-7322, pela Editora Apologia Brasil (21) 97124-4527 e diretamente com o autor (21) 98571-9114, ergalharti@hotmail.com ou @Cambada123

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Redação

A Revista "Entre Poetas & Poesias" surgiu para divulgar a arte e a cultura em São Gonçalo e Região. Um projeto criado e coordenado pelo professor Renato Cardoso, que junto a 26 colunistas, irá proporcionar um espaço agradável de pura arte. Contatos WhatsApp: (21) 994736353 Facebook: facebook.com/revistaentrepoetasepoesias Email: revistaentrepoetasepoesias@gmail.com.br

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