FALA AÍ, JUVENTUDE!

Fala aí, juventude! — Ensaio: “Narratologia” — Kauã Geddes

Acervo do autor Kauã Geddes

— Fala aí, juventude! “Coluna destinada à publicação de textos de jovens escritores (até 18 anos). Então, se você é jovem e quiser ter seus textos publicados aqui no portal, basta enviar para: revistaentrepoetasepoesias@gmail.com (por favor colocar as devidas identificações).”

Sobre o autor: Kauã Geddes é aluno do nono ano do Ensino Fundamental da Rede Adventista de Educação. Menino animado, esforçado e cheio de histórias para contar, escrevia narrativas de pequenas aventuras das quais ele próprio e seus amigos participavam. Tudo bem amador mesmo, claro. Certa vez, Kauã teve a ideia de criar um jornal com a turma, posteriormente se interessou em compor roteiros modestos com os quais experimentou sua escrita. Nosso escritor mirim de hoje é modesto, reconhece o mar de informações onde ainda precisa navegar para se tornar um bom escritor. Por isso, ele segue estudando e praticando com afinco. Resultado? Confira você mesmo essa pérola de ensaio, privilégio de quem é leitor da Revista Entre Poetas e Poesias. Aproveite!

                                                      NARRATOLOGIA

Introdução ao conceito

.           Na antiguidade, especialmente na região onde hoje é a Grécia, os primeiros ramos de sociedade primitiva seguiam se estabelecendo. A democracia estava surgindo, e as definições de certo e errado se moldaram. Então, foi necessário para os líderes da época arranjar um método para a disseminação destas idéias, aparentemente democráticas, e discorrer propagandas para o entendimento do povo sobre alguns ideais. Decidiram narrar histórias e construir os primeiros teatros, para que (de forma lúdica) a população entendesse conceitos básicos da importância do pagamento de impostos ou de não cometer crimes.

            Essas histórias, apresentadas nos teatros, tiveram inicialmente dois gêneros. Tragédia e Comédia, apresentando de uma forma mais sombria e melancólica algum acontecimento ficcional ou atração de forma mais alegre, burlesca e alegorizada, respectivamente. Todas elas sempre passando adiante algum ensinamento para os espectadores.

            Um dos grandes estudiosos sobre este assunto de dramaturgia e narrativa foi Aristóteles, este que definiu diversos conceitos que hoje nós conhecemos. Um dos maiores deles nós chamamos de peripécia, que pode ser caracterizado como um “movimento da narrativa”, onde tudo dali para frente muda na disposição enunciativa. A peripécia é a “mãe” do que hoje nos referimos por plot twist, mesmo que sejam coisas um tanto distintas. Outro conceito aristotélico é o de protagonista, além do que chamamos de narrativa clássica, ambos serão elucidados mais adiante

Narratologia: características de uma boa narrativa

            Para determinada narrativa ser considerada boa, não é necessário seguir todos esses preceitos, basta ser agradável ao público. Porém, com vários séculos de estudo, foi-se achando um padrão entre as melhores narrativas de todos os tempos. Essas foram estudadas e ensinadas aos especialistas do meio e escritores de modo geral.

            Inicialmente, é importante oferecer uma introdução à narrativa clássica. A narrativa conhecida como clássica, provém de uma época de aderência católica à maior parte da Europa, foi influenciada (junto a vários outros elementos da arte) pelo conceito de fixidez, unidade e simetria, termos derivados do cristianismo na época. Estes elementos cristão motivaram o nascimento de grandes obras de arte que seguem, vez ou outra, este mesmo padrão até os dias de hoje, como a Monalisa (La Gioconda), de Leonardo da Vinci, por exemplo. As obras dramatúrgicas da época tinham começo, meio e fim bem definidos e claros para o deleite do espectador. Suas bases seguiam os arquétipos de cunho: homem x natureza; homem x homem; homem x Deus.  

            Também vale destacar o conceito clássico que se tornou mais utilizado e conhecido até hoje nas artes de representação: o protagonista, cuja etimologia aponta como “o principal no conflito”. Nesse sentido, protagonistas se caracterizam por serem os personagens principais de qualquer narrativa, sendo o foco central da história o desenvolvimento e a evolução das ações que constituem a trama. Além do protagonista, é necessário que haja pessoas, entidades ou coisas dentre as quais ajudem ele a conseguir o seu objetivo e a sua evolução, mas há também aqueles que o impedem de fazer isso, os antagonistas.

            Atualmente, é impossível falar sobre protagonista sem mencionar os estudos de Joseph Campbell, que em seus livros, analisou as várias narrativas de diversos séculos e descobriu mais um padrão nas melhores delas: “A Jornada do Herói” ou “monomito”, que é a explicação sobre uma característica das melhores narrativas; tanto antigas quanto atuais. Pois ela consegue engajar qualquer ser humano na história, desperta o interesse, e o faz compreender a narrativa de modo mais claro.  O “monomito” ou “A Jornada do herói”, de Campbell, tende a atrair a atenção do espectador de forma que ele mergulhe na narrativa atraído pelas “aventuras” que esses personagens principais participam. Embora hoje ainda vejamos que não é necessário seguir a “jornada do herói” para termos uma boa narrativa aclamada pelo público. O monomito, inicialmente, tinha dezessete passos a serem seguidos pelo protagonista, e que com o tempo foram se tornando irrelevantes (ou fundidos) a outros e se tornaram atualmente apenas doze passos, com dois lineares. O protagonista tem sempre uma problemática de caráter a ser provado — e que é apresentada logo no inicio da narrativa junto ao seu objetivo pessoal, ambos estando interligados, fazendo com que o objetivo do protagonista seja a resolução para sua problemática. Ele é chamado para alguma aventura ou vivência que irá mudar a sua vida, inicialmente ele pode recusar a possível ação. Porém, assim que encontra com um mentor, aquele que vai ensinar e motivar a continuar sua jornada, o protagonista então atravessa o primeiro linear. Na sequência, indo para o segundo linear ele defrontará um mundo desconhecido, o qual o fará vai passar por provações, desafios, conhecerá aliados e rivais, até se deparar com o seu maior antagonista, quando e o vencerá, talvez duas vezes. Assim realizada a ação, ele retornará para o mundo comum com sua problemática plena ou parcialmente resolvida — neste último caso, se o autor desejar dar continuidade à narrativa noutro momento, claro.

Uma grande característica das obras é o conjunto dos arquétipos de personagem, ou seja, características de determinado personagem que definem a função dele na narrativa. Talvez a mais conhecida e clara delas seja o vilão, na narrativa é aquele que deseja a todo custo impedir o protagonista de conseguir o que ele quer, não importa o motivo, e não importa o meio do qual ele vá usar. O antagonista é tudo ou todo aquele que impede o personagem de atingir o seu objetivo. O vilão sempre é o antagonista, porém, o antagonista nem sempre é um vilão. Em algumas obras, podemos observar grandes amigos do protagonista agindo como antagonistas, simplesmente porque não sabem que estão atrapalhando o seu crescimento pessoal. Há também os aliados, que podem ou não ser o mentores dos personagens. Chama-se de aliado a todo aquele amigo do personagem que o ajuda a conquistar o “elixir” (objetivo). Aliados também podem ter a função de apresentar o mundo desconhecido ao protagonista, explicando como aquele mundo funciona e, indiretamente, esclarecendo também ao expectador. Há casos cuja apresentação é feita pelo mentor, o personagem para o qual a função de dar suporte ao personagem se revela absoluta. O mentor prepara o personagem para os desafios e lutas que surgirão no mundo desconhecido. Também temos (em determinados casos) o interesse amoroso do personagem que, dependendo da trama pode contar com o surgimento de homem ou mulher amada que venha ou não exercer papel antagônico. Os arquétipos apresentados neste parágrafo são os mais comuns nas narrativas, porém, nem todas as obras lançarão mão desse artifício discursivo — e eles não são os únicos aparentes na trama, vários outros tipos de personagem podem surgir, de acordo com a necessidade para a narrativa em questão.

O Melodrama

         Durante a revolução francesa, algumas peças teatrais começaram a ser apresentadas fora de qualquer teatro, em praças públicas. Deste modo, as apresentações ficaram acessíveis para qualquer um, sejam os sans-cullotes (não aristocratas)ou os nobres. Porém, houve um problema na logística das apresentações. As exposições eram extremamente lotadas, causando dificuldade no entendimento daqueles que ficassem mais distantes do palco. Além do que as pessoas dali tinham níveis intelectuais diferentes, logo, nem todos entendiam as mesmas interpretações.

            Por conta disso, os organizadores destes eventos precisavam encontrar uma maneira para que, independente da distância e do nível de educação da pessoa, fosse possível a todos entender o que estava se passando na cena. Então, a solução foi pedir para que os atores exagerassem na demonstração representativa dos sentimentos em cena. Gritando, berrando, pulando e correndo, tudo serviu de método para que demonstrassem, ao máximo, as emoções dos personagens em cena. Compreensão para todos os públicos, e assim surgiu o melodrama.  

            O melodrama é um recurso artístico utilizado até hoje, principalmente em obras como novelas e peças de teatro, onde a idéia de democratização contextual da narrativa por meio do melodrama é muito aplicada, justamente, pelo fato dos “não aristocratas”, ou seja, pessoas provenientes de países emergentes, e que nem sempre conseguem entender ou se identificar com personagens e emoções mais complexas. Também podemos achar o melodrama em alguns elementos mais atuais, séries e filmes populares, por exemplo. Atualmente o recurso melodramático se caracteriza por mostrar os personagens tendo emoções mais intensas, de forma que todo o ser humano entenda; geralmente por meio de brigas de família, traição amorosa, dentre outras estratégias. Tais características são encontradas, não raro, nas famosas novelas mexicanas, porém não se restringindo a algo tão fútil ou banal assim. O melodrama pode agir de uma forma bem sutil, que ainda assim é capaz de prender a atenção do espectador, fazê-lo entender completamente as ações que denotam os possíveis sentimentos dos personagens. 

            Deste modo, havendo assim alguns desses elementos apresentados durante o texto, é possível ter uma narrativa concreta, compreensível para o público espectador ou leitor. Contudo, vale ainda informar, a obra não precisa necessariamente se prender a todos estes quesitos acima elencados.

Mostrar mais

Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

Artigos relacionados

3 Comentários

  1. Passando aqui para dizer que amei ler o Kauã Geddes. Seu vocabulário riquíssimo e informações muito interessantes. Pra mim é uma imensa alegria saber que esta revista abre espaço para novos talentos.

  2. Gostei de ler o ensaio do Kauã Geddes. O texto tem conteúdo e é muito bem escrito. Parabéns, rapaz! Espero ler outros ensaios seus.

  3. Kauã foi muito sagaz na sua descrição! Jovens talentos como ele serão nossos formadores de opinião muito em breve! Ao transcorrer pela comunicação social temporal ele nos esclarece a bisão pré moldada dos padrões necessário que hoje a mídia, a igreja, as crenças, a publicidade e até as relações inter pessoais utilizam para seus sucessos! Parabéns Kauã! Que esse seja o primeiro de muitos sucessos

Botão Voltar ao topo