Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIA

Engenho do Mato: Charles Darwin, Tiririca e a água escondida

Série: Histórias de Arariboia

Pixabay

Dia desses, procurando aprender um pouco mais sobre a ciência dita canônica, me deparei com um livrinho simples e menos procurado, escrito por Charles Robert Darwin, intitulado “O Beagle na América do Sul”. Até aí, nada incomum, não fosse o momento cuja referência à região hoje nomeada Engenho do Mato, em Niterói, me chamaria atenção. Exato, me deparei com registros da passagem do mais importante cientista da biologia universal, bem aqui pertinho, na Serra da Tiririca, divisa entre Maricá e Niterói.

Eu já havia mencionado noutra crônica a existência de um antigo quilombo para os lados do Engenho do Mato, ali mesmo, junto à Tiririca. O já conhecido Quilombo do Grotão, lugar bacana, história de resistência, nascido de antiga fazenda cuidada por um importante personagem sergipano radicado em Itaipu. Reduto onde a natureza avulta. No entanto, o território em questão tem mais história para nos oferecer do que eu poderia esperar, exemplo: uma trilha com nascente na mata, com nome dedicado ao famoso naturalista inglês Charles Darwin. Não acredita? Entendo, eu mesmo não colocaria a mão no fogo. Então, conheça agora essa história e alguns fatos interessantes.

Sabe-se que o naturalista, autor de “A origem das espécies”, andou pela floresta niteroiense e alongou caminhada por Maricá, há cerca de 185 anos. Sim, isso mesmo, passou pela Região Oceânica a caminho Região dos Lagos e imprimiu rastros da sua passagem por lá. A expedição teria deixado, em 8 de abril de 1832, a cidade do Rio de Janeiro, ainda capital do Império do Brasil, em direção ao outro lado da Guanabara. Segundo Selles e Abreu (2002, p. 10), “o naturalista e seu grupo de sete pessoas rumaram na direção de Niterói. Quando cruzavam as montanhas atrás da Praia Grande, nome da cidade de Niterói na época, Darwin escreveu: ‘A paisagem que se descortinava […] era belíssima, pela intensidade das cores em que predominava o tom azul escuro; o céu e as águas calmas da baía rivalizavam entre si em esplendor'”.

Reconheço que o caso me surpreendeu, conheço a história da excursão ao Arquipélago de Galápagos, lá para os lados do Equador. Tartarugas gigantes, iguanas marinhas, vulcões em atividade, exotismo de fazer o visitante perder o fôlego. Porém, confesso, missão oficial do governo inglês tomando a região fluminense como rota, e tudo isso bem aqui pertinho, ah, isso me fez mais curioso e embasbacado.

De acordo com Leonardo Sodré, para o jornal “O globo” (12/12/2017): “A passagem do cientista pelo local fez com que fosse instituído, em 2008, o Caminho de Darwin, num percurso de três quilômetros de extensão, cruzando o Parque Estadual da Serra da Tiririca (Peset) entre o Engenho do Mato e Itaocaia (Maricá). Depois de anos de abandono, o local vem sendo revitalizado graças a uma parceria da Secretaria municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). O trabalho levou à redescoberta de uma nascente de água límpida, que foi batizada com o nome do histórico expedicionário”.

Ademais, necessário ressaltar outro fato importantíssimo: só depois que Darwin conheceu nossa rica e ainda intacta natureza é que o inglês escreveu sua obra revolucionária. Claro, literatura científica mais estudada. Contudo, tal fato só aconteceu após o contato do naturalista britânico com fauna e flora brasileiras, portanto 28 anos após, a revolução da ciência com “A origem das espécies” e a Teoria da Evolução teria vindo a público.

Viu aí, caro leitor, seria isso algum tipo de coincidência? Acaso a expedição haveria sido motivada por um golpe de sorte na histórica viagem do cientista icônico? Não sei, confesso que não sei. Nesses casos de viajantes, prefiro apenas descrever. Mesmo porque, como li, a visita britânica às terras fluminenses foi mesmo oficial. E a trilha do Engenho do Mato carrega até hoje a marca da descoberta.

Pixabay

Referências:

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782002000200002&lng=en&nrm=iso

https://oglobo.globo.com/rio/bairros/nascente-redescoberta-no-engenho-do-mato-tem-trilha-revitalizada-22169602

Mostrar mais

Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: [email protected] e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

Artigos relacionados

Verifique também

Fechar
Botão Voltar ao topo
Fechar
Fechar
%d blogueiros gostam disto: