Renato Amaral

Crônica Atitudes simples que enchem o coração.

Imagem: Arquivo Pessoal

  • Detalhe que a foto foi tirada no momento passado na crônica. Enviado para o Whatsapp da minha amiga para mostrar a tranquilidade da rua as três da manhã do dia 08/04/2020.

 

Há bem pouco tempo, nessa pandemia que nos atingiu em cheio e mudou a vida de muitas pessoas eu tive inúmeros casos que talvez conte em algum momento.

A grande maioria dos que me conhecem sabem que trabalho em um Hospital de grande porte e durante todo esse tempo, principalmente de incertezas, eu estive na linha de frente contra o Covid-19. Muitas das vezes o meu jeito de extravasar todo aquele misto de sentimentos fora através do papel, onde derramei contos, crônicas e incontáveis poemas (alguns bem doridos).

Hoje venho contar uma história acontecida logo no início desse caos, onde sobravam tristezas, mortes e incertezas. Estávamos nos acostumando a situações novas, uma delas era o lockdown e eu fazia um malabarismo louco para chegar ao hospital e retornar ao meu lar após os plantões. Durante o trabalho, não raro presenciava, muito medo, pranto e fila de carro funerário. Foram dias angustiantes e sem perspectivas. Mas em um dia pós plantão, que eu particularmente estava péssimo, piorou um pouco mais quando vi a rede social de uma pessoa próxima ao meu convívio. Por causa de política, essa pessoa protestava em suas redes contra o lockdown e em uma foto pedia para as pessoas irem para o trabalho, ir para a rua. Aquilo caiu como uma bomba em minha cabeça. Naquele momento pensei: ”Ora, não é possível que ela não esteja vendo às pessoas morrerem no “atacado”. Que insanidade” Como mandar as pessoas trabalharem, sabendo que naquele momento a única forma de conter o vírus fosse o isolamento social e como resultado salvar vidas. Ademais, essa mesma pessoa do post inconveniente, tem a carteira de trabalho em branco. Nunca trabalhou em toda a sua vida. Sei que não deveria, mas aquela atitude me feriu na alma, pois ela sabia de tudo que eu via e vivia no Hospital. Eu ia para todo plantão cumprir meu dever, mas sabendo que poderia ser o último. Quisera eu poder ficar dentro de casa em segurança com os meus. O resultado foi que nessa noite do ocorrido eu tive uma crise de ansiedade. Às três da manhã estava me sentindo sufocado dentro de casa. Peguei um banco e fui para a varanda respirar um ar fresco. Mas Deus em sua bondade infinita enviou um anjo para me salvar. Ao abrir o celular vi que minha amiga do hospital estava de plantão naquele dia, se encontrava online. Rafaelle Rocha, minha irmã de coração começou a conversar comigo e após ouvir todos os meus lamentos conseguiu me acalmar com suas palavras e me deu forças para não desanimar. Suas palavras foram um bálsamo para meu coração aflito e amedrontado. Logo após aquele desabafo eu consegui pegar no sono e minar a ansiedade que me assolava.

Ao longo dessa pandemia tive inúmeros percalços, mas esse foi o primeiro e não há como esquecer. Sorte a minha ter me aparecido um anjo àquela hora da madrugada, não consigo imaginar como ficaria sem aquela ajuda,

Obrigado, minha irmãzinha Rafa!

 

Por Renatto D’Euthymio

Instagram: @renattodeuthymio

 

 

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Renatto D'Euthymio

Renatto D'Euthymio, carioca de Santa Tereza, dividindo residência entre São Gonçalo - RJ e a pacata e inspiradora, São José do Calçado no Estado do Espírito Santo. Estudante Rosacruz, técnico em Radiologia, flamenguista fanático e apaixonado pelas filhas Rannya e Rayanne. Cultiva desde criança uma paixão pelos livros e seus gênios. Autor do livro de poemas Solilóquio Antes e Depois da Forca (2020) e do livro de humor O Tabloide Jocoso (2021). Premiado em dezenas de concursos literários (Poesia, Crônica, Conto e Microconto), e publicado em Antologias e Coletâneas. É tão ligado à Literatura que de vez em quando não se contém e atreve-se a rabiscar algumas linhas.

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