Desabafos & DiscussõesLuiza Moura

Diálogos Inconscientes Sobre o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

–  O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado…

–  Que tem?

–  É um conto para ser pensado. Por analogia, em todos os aspectos de nossa vida.

–  E porquê?

–  Narra do amor entre um Gato e uma Andorinha.  Um amor impossível…

– E não o é impossível?

– Isto depende da sua definição de impossível. Já antes foi dito: “O impossível é questão de opinião”…

– Nada a ver…

– Haver de existir ou a ver de enxergar?

– As duas coisas. A ver de enxergar, por nada de sensato concebermos entre o amor de um Gato com uma Andorinha além do absurdo, e nada a existir além do universal e aceitável instinto de que gatos comem andorinhas. Isto o conto bem nos explica também…

– Correção, sem querer cortar sua fala: quem bem justifica ou explica da impossibilidade desse romance entre os dois, gato e passarinho, são as pessoas daquela sociedade, ou da nossa, que se posicionam com fundamentados discursos, contra toda a forma mais autêntica e louvável do verdadeiro amor…

– Que seja. Pois então, como eu dizia, antes de o ser interrompido: que andorinhas nasceram para serem por gatos comidas e gatos para comerem andorinhas.

– Mas nisto não estaríamos limitando a natureza do gato em tão somente existir ou terem nascidos para comerem andorinhas? Onde fica a razão pois além dos instintos?

– E pode haver razão na expressão do que diz ser você amor entre um gato e uma andorinha?

– Acredito que sim?

– Por quê?

– Pode haver alguma razão no amor entre dois homens?

– Homoafetivos, você quer dizer? Sim! Pode.

– E porquê não haveria de existir razão entre o amor de um gato e uma andorinha?…

– Me deixou pensativo agora… Sem palavras. Faz de certa forma algum sentido. É possível?…

– Ao homem, não é dado, se pormos em discussão, os fins que justificam os meios, capacidade de superar os próprios instintos, por exemplo, em detrimento de um grande amor?

– Se por alusão a Nietzsche em Assim falava Zaratustra; Sim! É possível… Tu se refere ao super-homem de Nietzsche, não é?

– Sim! O homem superando os seus instintos à luz das vivências orgânicas. Logo, é bem possível que tenha o gato muito se sacrificado, assim como a andorinha, em todas as suas orgânicas vivências, para viverem aquele amor impossível.

– Mas na situação em que tu me apresenta, está falando de um super-gato. Um gato, capaz de superar além dos limites da natureza biológica o instinto da fome! Se consultássemos Marcelo Caixeta (2007), diria ele, em sua obra Neuropsicologia dos transtornos mentais, que “O determinismo biológico deve estar acima, ter preponderância sobre o ‘livre-arbítrio’ psicológico.” Para Caixeta, “O orgânico é mais primitivo, mais ‘forte’, tem mais pregnância do que o que é social.”

– Não precisamente…

– Então me explique. Como ser possível um gato namorar uma andorinha e não comê-la após uma longa noite de amor! Aceito que comam seus maridos as viúvas negras e que semelhante a este caso o deveria ser a Lei Maria da Penha: Serem os parceiros comidos vivos após violentarem suas companheiras. Mas em relação ao gato, não entendo muito onde queira com este assunto chegar!

– Pretendo chegar ao ponto que é possível a todo e qualquer indivíduo, por mais impedido que esteja, amar e ser amado em toda e qualquer forma de amor que disseram ser para ele impossível. Assim como fizeram com o gato e a andorinha, levando o gato a pedir à cascavel de uma vez por todas, consolo para dor que lhe causaram, ao se deixar convencer pela opinião pública, que gatos e andorinhas não convivem.

– Estou entendendo, mais ou menos. Continue!…

– Por analogia cada um de nós pode ou não, esteve ou não em algum ponto da vida, desempenhando o papel do gato…

– Ou da andorinha?…

– Correto!

– De que forma?

– De todas as possíveis formas que possamos imaginar! Amores impedidos por diferença de idade. Posição social. Condição financeira. Distância geográfica ou meramente afetiva dado o orgulho e demais sentimentos que corrói o coração de almas indignas de serem ou se sentirem amadas…

– Indignas? E o amor é condicionalidade?

– Não foi o que disse…

– E então!? Não é para quem oferece condições à base de escambo?

– Não. É para quem se faz merecedor!

– Falas desta forma por ser da sua natureza conciliar a realidade externa para com a realidade interna a fim de evitar maiores conflitos e o desencadear de neuroses maiores que as já existentes, não é?

– Por certo que sim! Esta tem sido a minha real natureza. Tanto quanto a natureza sua a todo instante, inferindo em minha essência a cisão do certo e errado, como agora o fazes ao se fazer de juiz entre amores qual nos diz a sociedade serem de todo impossível existir!

– Peço perdão, não é minha intenção me fazer de juiz moral. Zelo pela continuidade de nossa passível harmonia.

– Eu sei…

– Sabe?

– Sim… Tanto quanto se conflitos de ideias em nós existisse, não mais de neurose mas seríssima psicose ambos padeceria!

– Concordo. E o gato, onde fica?

– Já nos esquecíamos  do gato… Eu respeito mas discordo do seu julgamento!

– E então!?…

– Tu fez referências de Marcelo Caixeta, a fins de justificar o seu juízo! É justo, o Senhor que aqui é o juiz.

– E então!?…

– Louvavelmente, Vossa Excelência pontua que: ” São várias as vivências, orgânicas primárias; normais, às quais podem ser submetidos os seres humanos: sede, fome, sexo, domínio, defesa, agressividade, instinto laboral (…)”, e que; “Muitos dos seus desvios, são encontrados nas vivências patológicas” (CAIXETA, 2007, p. 23).

– Perfeito, sim falei isto. E mais. Que qualquer desvio no comportamento normal destas vivências orgânicas, implicam em sérios transtornos mentais. De certo, que a fome, o sexo, o domínio, a agressividade, o ódio além doutros como parte da vivência orgânica o que é instintiva do gato, desviados do que por natureza deve/deveria lhe representar a andorinha: comida, o passa ser considerado como sério problema de transtorno psiquiátrico. O mesmo vale para a andorinha. Que diria Freud deste amor dos dois, já o consultou?

– Quis deixá-lo de fora.

– Por que o fez?

– A fim de se evitar assunto do tipo: A sexualidade infantil do gato e da andorinha!

– Seja mais específico!

– O período de Latência Sexual da Infância e suas Rupturas; As manifestações da Sexualidade Infantil; O Alvo Sexual da Sexualidade Infantil; As manifestações sexuais masturbatórias e tantas outras…

– O fez bem. Embora de tudo possa Freud explicar nem de tudo se pode avaliar. Amor não é coisa que se avalia. Amor se sente. Ou se vive! Mas por favor, conclua!

– Certamente. Como pois eu dizia; Vossa Excelência, brilhantemente pontuou a impossibilidade de gato e andorinha se amarem com base nas considerações de Caixeta acerca das vivências orgânicas, para defender a tese que o determinismo biológico o é superior ao livre-arbítrio psicológico. Mas Vossa Excelência não consultou CALLEGARO (2011), em respeito das vivências orgânicas!

– Prossiga, e conclua!

– “Os sentimentos são a expressão mental consciente de todos os outros níveis da regulação homeostática, composto por mapeamento dos estados corporais desencadeados por estímulos, acompanhado pela percepção de pensamentos com certos conteúdos e de um modo de pensar (Callegaro, 2011, p. 43. Adaptado de Damásio, 2004, p.44).

– Fascinante explanação. Compreendi. E estarrecido fiquei. Adoraria pois, em poucas palavras, que em cima desta posta citação, desse-me a sua compreensão!

– O impossível é questão de opinião. E acrescento: Amamos uma pessoa não pelo o que sentimos, mas pelo que nos faz ela sentir. Tudo é estímulo, tudo é mapeamento mental. Percepção de pensamentos dado à natureza dos estímulos, que estimulam não somente o nosso coração, mas a nossa vida. O gato e a andorinha superaram a barreira dos seus instintos, para viver um amor não por rebeldia às leis sociais impostas pelas pessoas ou pela própria natureza, mas por terem sido ambos estimulados mediante suas vias neurossensoriais, de uma forma, que outros, de suas espécies, jamais os estimularam, algo que nem de perto poderia a própria ciência explicar.

– E por que não se casaram?

– Porque nesta relação, um amou menos que que o outro, embora medida não possa existir para o amor. E necessário seria que ambos se amassem na mesma medida! Como a mesma intensidade. Isto não abriria no coração da andorinha espaço para opiniões de outras pessoas relativos àquele verdadeiro amor!

– Muito bom. Muito bem. Embora se verdadeiro fosse ao fim não teria chegado. Concorda?

– Claro. Não é o amor que tudo supera?

– É o que dizem… É o que dizem!

(Esse texto é de Robson Santos Silva, hipnoterapeuta pela UNICELSP, estudante de psicologia pela UniAges, psicanalista em formação, artista plástico, saxofonista e compositor. Realiza atendimentos de hipnoterapia em Aracaju-Se e Paripiranga-Ba. Uma frase de Gilberto Gil como norte de sua vida: “Minha ideologia é o nascer de cada dia e minha religião é a luz na escuridão”. Uma frase que o define: “Quem se descreve se limita.” Então sejamos ilimitáveis. Assim o diz… E indescritíveis!)

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Luiza Moura.

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Luiza Moura

Luiza Moura de Souza Azevedo é de Feira de Santana. Enfermeira. Psicanalista e Hipnoterapeuta. Perita Judicial. Mestre em Psicologia e Intervenções em Saúde. Doutora Honoris Causa em Educação. PhD em Saúde Mental - Honoris Causa - IIBMRT - UDSLA (USA); Doutora Honoris Causa em Literatura pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos. Possui MBA em gestão de Pessoas e Liderança. Sexóloga; Especialista em Terapia de Casal: Abordagem Psicanalítica. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Enfermagem do Trabalho. Especialista em Perícias Forenses. Especialista em Enfermagem Forense. Compositora e Produtora Fonográfica. Com cursos de Francês e Inglês avançados e Espanhol intermediário. Imortal da Academia de Letras do Brasil/Suíça. Acadêmica do Núcleo de Letras e Artes de Buenos Aires. Membro da Luminescence- Academia Francesa de Artes, letras e Cultura. Membro da Literarte- Associação Internacional de Escritores e Artistas. Publicou os livros: “A pequena Flor-de-Lis, o Beija-flor e o imenso amarElo” e "A Arte de Amar. Instagram: @luiza.moura.ef

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2 Comentários

  1. Belas palavras, realmente o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta…palavras citadas em coríntios.

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