O esvair de um amor
Aperto sufocante no peito
Enegreceram-se os momentos de ardente paixão
Imensa raiva e indignação
Ele com outras a o acariciar e beijar
A pele quente e boca rubra que me pertencem…
Esvaindo nosso amor, causando tanta dor
Dilapidando momentos
Exaurindo o que fora tatuado nos olhos e na alma…
(Livro: Furor Letárgico da Alma – Michelle Carvalho)
Ao iniciar esse texto penso nas perdas, no esvair da esperança, da felicidade, perda da liberdade, de um amor, de um ente querido que se vai ou de tantas coisas que nos deixam sem rumo quando as mesmas são levadas de nós.
A sensação é de pleno vazio, de que o chão se abre em um ato único e somos dragados sem possibilidade de retorno, sem qualquer força para tentar mudar isso! Uma letargia que nos consome como milhões de bichinhos sob a nossa pele, pesando os olhos, os ombros, os braços, nos tornando estáticos.
Uns choram copiosamente, outros se tornam estáticos, inertes.
Fato é que estes sentimentos são inerentes aos seres humanos. Somos seres que amam, que sentem, que tem coração e quero deixar bem claro pra você que nunca se sentiu assim, o seu dia ainda chegará e isso é certo! Somos humanos!
O grande “bum” dessa situação é o que você fará com isso no decorrer do tempo, tempo este que pode durar alguns dias para uns, meses para outros ou anos para tantos outros, importando sempre a necessidade de viver esse luto para que as consequências não sejam maiores posteriormente.
Cabe a você a escolha em manter-se afundado em dores eternamente ou usar-se disso como mola propulsora para gerar frutos e desabrochar!
Quantas vezes escutamos que toda perda traz ganhos?
Daí você se pergunta, como seria possível a perda trazer ganhos se eu estou com um vazio imenso da saudade de um ente querido, por exemplo?
E eu te respondo: quantas coisas maravilhosas serão relembradas, quantos momentos felizes passarão por sua mente que lhe trarão um sorriso ao mergulhar nas lembranças boas, esquecendo-se de tudo que não foi tão agradável ao lado daquela pessoa que lhe faz falta. Pense no que ela gostava, no que ela queria fazer para ajudar alguém e não pode e se reerga pautado nestas coisas maravilhosas que você pode executar com alegria de sentir-se útil!
Com certeza você já ouviu que Deus nunca fecha uma porta sem abrir uma janela! Pois é, minha avó sempre falava isso pra mim e eu não entendia por ser muito pequena. Depois não entendia pois estava em meio a uma grande perda, mas quando passo a passo fui colocando em prática a visualização desta janela que me era aberta comecei a ver que pela janela vejo o sol lindo nascendo através do vidro que reflete vida em todo o quarto e, tudo isso acontece com a porta fechada, tudo dependendo do ângulo que nos propõe nosso olhar!
Sempre fui uma romântica assumida e colocava meus sentimentos no papel em cartas muitas vezes não enviadas e em poemas expressando muito do que sentia.
Quando me adveio uma grande perda, esvaía-me em lágrimas até não mais tê-las, pensava ter secado por dentro e redescobri-me ainda mais cheia de sentimentos, desta vez turbulentos.
Sem mais poder me expressar em lágrimas, coloquei os sentimentos no papel, reciclando-os quando saíam de mim, na verdade, reciclando-me!
Reciclei-me em sentimentos novos transformando tudo em linhas, poesias, contos que me renderam meu primeiro livro.
Antes deste livro muitos foram os concursos e premiações, mas este livro teve um sabor especial, um sabor de reviravolta, de renascimento, de ser fênix revivendo das cinzas, de onde pensava que não me reergueria.
Meu primeiro livro, inicialmente, seria para provar algo, mas como o gestar de um livro é longo, quando do lançamento do mesmo, minha vida já havia se transformado de forma gradativa e, em meio a concursos, prêmios literários e tanta coisa boa que sucedeu por meio deste âmbito, fui galgando um novo mundo maravilhoso, repleto de coisas novas e deliciosas jamais sentidas, mundo este que trilho até hoje e não tenho vergonha nenhuma de afirmar que floresci meu lado escritora encorajada por uma enorme perda que sofri.
O desabrochar vem após todo o sacrifício e dor da rosa ao se esforçar para abrir pétala a pétala de seu botão e se tornar ainda mais bela.
A vida é dinâmica em frequentes ondas altas e baixas onde a cada ciclo vivemos a eterna luta de mantermos a esperança e, quando ela parece esvair-se diante de uma perda, é o momento de resgatarmos a nós mesmos, pois o nosso movimento de transformação é a própria esperança!
E aí, vamos florescer?
Michelle Carvalho
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Imagem destacada: Fotografia de Michelle Carvalho