O Paranauê da Vila Paraná e o surgimento do Bairro de Fátima
Série: Histórias de Arariboia
Já ficou dito sobre a Chácara do Vintém e seus morros e vales pouco habitados a comporem essa parte de Niterói. As características fisiográficas frearam, até certo ponto, a especulação imobiliária. Mas eu disse até certo, pois, tão logo a empresa Companhia Proprietária Brasileira adquiriu a região, o empresariado deu ensejo a loteamentos e abertura de ruas. Rasgando morros, cavoucando travessas, delineando vielas, fez-se assim o lugarejo da Chácara do Vintém, posteriormente ser nomeado de Vila Paraná.
A energia elétrica precisava ser encomendada pelos próprios moradores. Iluminação pública nas ruas? Não, de modo algum havia, nunca teve luz elétrica até início da década de 50. Demorou mesmo a desenvolver tecnologia habitacional por lá, por conta disso, talvez o território tenha conservado aquela nostalgia bucólica na memória local. Moradores antigos suspiram, relembram mesmo tudo aquilo, mas só os mais velhos resguardam a nostalgia. De acordo com o livro Niterói Bairros, a construção de residências, na então recém-criada Vila Paraná, seguiu “um ritmo inicial lento já que, apesar de sua proximidade (com o centro), a precariedade de serviços e as características de muitos lotes, com acentuada declividade, exigiam custo alto e apuro técnico nas construções” (p. 32). Porém, uma querela surgiu na região, exato. Quem diria que, em Niterói, católicos e protestantes travariam aí uma disputa? Eis a explicação:
Certa vez, por volta de 1945, alguns membros do antigo Centro de Pró-melhoramento da Vila Paraná, um tipo de associação de moradores, decidiram mudar o nome do espaço em homenagem à santa de origem portuguesa N. S. de Fátima. Pois é, imaginem, deu no que deu. Não pegou bem a ideia para os pertencentes a outras doutrinas. Protestaram os protestantes, ateus desacreditaram e zombaram do propósito, virou notícia na gazeta, enfim, um vuco-vuco administrativo na cidade de Niterói. Resultado? Nem lá, nem cá. E o bairro entrou no registro municipal como Fátima, somente. Isso mesmo, a parte santa do topônimo ficou subentendida aos devotos, e tudo se acertou.
E foi assim, em meio ao rebuliço, com jeito de sátira e um tanto quanto tumultuosa a história, quando, por causa da tal questão de assunto religioso na Vila Paraná, nasceu o Bairro de Fátima.
Referência: CID CAVALCANTI (org.). Lindalva. Niterói Bairros. Niterói, RJ: Cecitec Publicações, 1996