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Entrevista: Conheça o poeta e prosador gonçalense Erick Bernardes

A Revista Entre Poetas & Poesias bateu um bate-papo descontraído com o cronista gonçalense Erick Bernardes.

Conheça o poeta e prosador gonçalense Erick Bernardes

1. Em qual momento da vida você percebeu que tinha gosto pela escrita?

Bem, não me recordo de ter percebido de fato quando gostei de escrever. Acho que, primeiramente, é uma questão de personalidade, desde que haja estímulo para isso. No meu caso, meus pais incentivavam; minha mãe comprava livros e cadernos bonitos, no intuito de me provocar esse gosto. Recordo, depois de adulto, em um curso gratuito de pré-vestibular, as aulas maravilhosas de produção textual que o nosso amigo (colunista do Diário da Poesia) Jordão Pablo de Pão ministrava. Confesso que o meu gosto pela literatura deu um salto com o estímulo do Jordão. Posterior a isso, entrei para a universidade, fiz mestrado em Estudos Literários onde conheci o professor Paulo César de Oliveira que me aperfeiçoou na técnica dos argumentos, e tenho procurado estudar e praticar mais as narrativas. Na medida que fui escrevendo, me percebi criando o hábito e, assim creio, de estar desenvolvendo (o gerúndio é proposital) a escrita de forma contínua. Como escrevo prefácios, textos de capa e pareceres para uma editora, leio muitos livros (de todas as qualidades) e acabo adquirindo um olhar clínico maior para o quesito estético. Vejo ao redor muitos escritores, e me inspiro nos bons tendo a certeza de que um longo caminho que tenho a percorrer – e isso me estimula a trabalhar o texto de maneira sensível, me colocando no lugar do leitor.

2. O que te motiva a escrever? Que tipo de texto gosta de escrever? Fale-nos um pouco de seus projetos.

Essa segunda resposta é um desdobramento da primeira. Sou estimulado pela vontade de compartilhar com os leitores o meus mundos ficcionais. Contribuir com experiências através da criação literária é decerto muito gratificante. A excelência dos escritores como Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Machado de Assis, por exemplo, me trazem também estímulo. Dos que me provocam o gosto literário entre os contemporâneos, prefiro o Michel Laub, o Bernardo Carvalho e o Milton Hatoun. Ainda nos mais recentes, no caso da poesia, sou admirador dos poetas diaristas Gilvan Carneiro e Zé Salvador, e também dos excelentes Rodrigo Santos, Romulo Narducci e o recém apresentado à comunidade gonçalense Eduardo Maciel. Gosto especialmente também da poesia de Elisa Lucinda. Como artista me considero um ficcionista que busca trazer ao público fragmentos da nossa história e contribuir com a educação. Meus projetos? Uhmm, deixa eu pensar… estou às voltas com a escrita do projeto para (se Deus quiser) o doutorado e, mais para frente, publicar um romance histórico que estou escrevendo. Uma das metas em vistas de se concretizar é a coletânea das crônicas sobre a história dos bairros de São Gonçalo, publicadas na coluna do Jornal Daki, com a competente coordenação de Hélcio Albano; já já virá a público esse trabalho conjunto.

3. O que espera atingir quando alguém lê os seus textos? O que gosta de ler? No âmbito cultural, qual a função da arte na sociedade?

Posso juntar as três próximas respostas em uma só?  Com relação ao que pretendo com a minha escrita, meu objetivo sem dúvidas é divertir o leitor; proporcionar entretenimento de qualidade; criar mundos ficcionais para deleite de quem se dispõe a ler meus textos. Em segundo plano, como um tipo de contrapartida, busco promover a educação através da história dos bairros e lugares do Brasil afora. Vejo a literatura sob a perspectiva do teórico Roland Barthes, pois, para ele, a literatura contém todos os saberes do mundo — e eu vejo a obra literária assim também. Sobre o que gosto de ler? Recomendo que as pessoas leiam o que dá prazer. Ao meu ver, não há nada que se compare ao mergulho numa história divertida e, depois de muito tempo, o recordar do mesmo enredo, só porque era gostoso de ler. Novamente o Barthes entra na minha resposta: a origem das palavras “sabor” e “saber” é a mesma, os significados dos termos decorrem da palavra latina “sapire”. Não vejo como dissociar o saber do texto do sabor da leitura, sabor\saber andam de mãos dadas. Particularmente eu leio de tudo. Acho que, dentro de um poema ou uma narrativa, por exemplo, pode haver de todas as coisas um pouco: filosofia, geografia, história, biologia, enfim, elementos extraídos da realidade e recombinados noutro universo, o literário. No meu livro de contos Panapaná: contos sombrios, majoritariamente as histórias se passam em lugares conhecidos por mim. Situações e experiências ocorridas de fato e exageradas os torcidas com vistas a criar o ambiente fantasmático das histórias. Cito como exemplo o conto “A hora da estreia”, e que nasceu a partir de uma aula que ministrei, junto ao professor Armando Gens, no auditório da FFP-UERJ. Essa aula foi direcionada aos alunos de pré-vestibulares comunitários, e tratava do livro A hora da estrela, de Clarice Lispector. Estavam presentes na aula, no mínimo uns 150 alunos de vários lugares, e foi quando a experiência permitiu ser transfigurada para o conto e isso deu certo. Os outros contos do Panapaná seguem a mesma linha de autorreferencialidade, portanto, não podemos enxergar aí um tipo de aprendizado via leitura de entretenimento? É esse também o papel da arte na educação, conforme sua pergunta, é essa a função da arte na sociedade e, considerando que a família e a escola também são peças fundamental nessa engrenagem social, vejo a sociedade, escola e família, como parte de um todo. Em suma, numa casa onde a arte se faz presente, e é estimulada desde cedo, o conhecimento cresce junto da criança ou adolescente, uma coisa mescla à outra na formação do cidadão.

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Redação

A Revista "Entre Poetas & Poesias" surgiu para divulgar a arte e a cultura em São Gonçalo e Região. Um projeto criado e coordenado pelo professor Renato Cardoso, que junto a 26 colunistas, irá proporcionar um espaço agradável de pura arte. Contatos WhatsApp: (21) 994736353 Facebook: facebook.com/revistaentrepoetasepoesias Email: revistaentrepoetasepoesias@gmail.com.br

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