Camboinhas e os meus castelos de areia
Série: Histórias do Brasil (Texto XV)
Não é de se admirar que, depois de crescidos, somos capazes de nos defrontar com desconstruções de alguns mitos e, não raramente, resistimos em desacreditar na informação pretérita. Um desses mitos a cair por terra é a explicação de que a Praia de Camboinhas teria esta referência devido aos arbustos de mesmo nome e característicos da região de Niterói. Sim, arvorezinhas bonitas e nativas da restinga. Mas não, embora exista essa arborização peculiar, a coincidência se revela prima do equívoco, pois o caso é outro. Então vamos à desconstrução dessa quase lenda histórica.
Lembro de andarmos muito para chegar à Praia de Camboinhas. Mas, quando íamos no Chevete de papai, por vezes o superaquecimento do motor atrasava nosso banho de mar paradisíaco. Claro, né! Na Praia Camboinhas não passa ônibus. Tampouco há facilidades para quem vem de fora fazer seu piquenique alegre sem pensar em poluição. Éramos os famosos farofeiros, mas fazia tão bem ao espírito, oh, como fazia! Mamãe estudou biologia e afirmava orgulhosa e convicta: “Camboinhas possui esse registro devido à vegetação característica do lugar. A planta cientificamente registrada como Myrciaria Tenella, da família das Myrtaceae, é um importante vegetal para a produção de mel. Pois é, meu filho, principalmente as abelhas sem ferrão chamadas mandaçai e jataí, essas adoram o pólen da flor de camboinha”.
Bem, após a explicação da senhora minha mãe, dúvida alguma eu teria sobre a origem do bairro. Pois é, caros leitores, mas veio a maturidade e a decepção: mamãe errou, coitada! Camboinhas tem história diferente e é de criação oficial. Um encalhe de navio culminou na apropriação do nome. Explico: houve um tempo em que toda aquela região fora denominada de Itaipú. Sim. Simples assim. Contudo, já no ano de 1958 o navio chamado Camboinhas encalhou nas areias da referida orla. Entretanto, é bom ressaltar, só o pequeno trecho onde o casco da embarcação se alojou foi de fato apelidado assim. Isso mesmo, Camboinhas constituiu nome do barco gigante. Porém, melhor esclarecer, só depois da abertura do canal que liga o mar à lagoa é quando a nomenclatura Camboinhas designou de vez toda a extensão. Incrível, não é? Desnecessário comentar a decepção que tive. A memória desmoronando feito castelo de areia. Planta alguma tem culpa nisso.
Por fim, e sem mais delongas, juro a você, eu achava a biologia estudada por mamãe lá em casa algo mais que suficiente. Mas não, me enganei. Isso prova uma coisa: tal como nas fábulas e parábolas infantis, tirei da história de arbustos e navio uma lição: certeza de nada tenho nessa vida. Sou um ser em desconstrução, inconsistente, um típico castelo de areia ao vento, e só agora me dei conta.