RACISMO- no Brasil -EXISTE?
Ouvi essa pergunta há muitos anos, precisamente quando ainda era uma menina. A conversa era entre adultos, e uma criança não pode interferir. Gostaria de contar um fato que ocorreu, embora na época eu não sabia nada sobre preconceito e discriminação.
Eu tinha 7 e meu irmão 5 anos, fomos para uma festa de aniversário da filha de um dos patrões de meu pai. Eu estava maravilhada com a decoração e brincadeiras. Uma época em que casamentos e outros eventos aconteciam nas residências, a primeira festa infantil em um clube, foi um luxo!
Tudo estava muito perfeito! Animadores ao vivo, garçons, parquinho…quando diminuíram o som da música e uma jovem senhora chamou em voz alta, todas as meninas para perguntar sobre uma pulseira de ouro que alguém havia perdido. Olhei para meu pulso, estava nu. Era a minha!
Caminhei até a pessoa e disse com a voz tímida: “ Moça, é minha!” “ A pulseira é minha!” Implorei em vão!
Ela lançou-me um olhar escuso da cabeça aos pés e voltar a falar alto: “ Quem perdeu esta pulseira?” Corri a procura de meu pai, pois a minha mãe não foi à festa.
Ele estava conversando, não gostava de ser interrompido. Respeitosamente aguardei, parecia uma eternidade! Ele abaixou-se para que eu falasse ao seu ouvido. Meu pai respondeu que iria resolver… olhei ao redor e ela não estava mais! Fiquei na expectativa de que meu pai que sempre solucionava tudo em casa, fosse de fato resgatar um presente dado pela minha madrinha! O valor sentimental era muito maior do que o peso em ouro! Eu queria muito a minha pulseira de volta!
Durante uma semana, todas as noites, esperava que meu pai trouxesse a minha pulseira.
Um dia na escola, contei para minha professora sobre o ocorrido que meu pai não conseguiu trazer a pulseira, por isso eu estava muito triste. Ela tentou me consolar com a seguinte frase:
“Tadinha, você não tem culpa por ter nascido com essa cor!”
Ivone Rosa