Luis Amorim

A ceia do bispo

É posta a mesa
Com agradável certeza
Na esperada afluência
Dos ilustres representantes
Da terra onde a vivência
Se faz com reverência
Agora como antes
Ao bispo que ilumina
Toda a gente fina
Em seus privilégios
E outra sina
Nos menos egrégios
Em posses visuais
Mas com seus laborais
Contributos essenciais.
É hora de ceia
Na mansão bispal
E tanta candeia
Tem percurso final
Para dar participação
Com sua devoção
Pelo bispo aclamado
Por ser de bom trato
Com todo o povoado
Que não leva prato
Nem qualquer oferenda
Esperando haver merenda
Ou algo que se coma
Em ceia que se soma
Na lista de faustosos eventos
Onde existirão assentos
Espera-se, para todos
Os que terão modos
Tão disciplinados
Previamente solicitados
Para haver boa figura
Sem constante rasura
Em ser que embarace
E dessa forma mace
O bispo atencioso
Com manjar vistoso
No cear mais saboroso.
Tudo pronto
E chegam convidados
Finalmente avistados
Como os primeiros
Que eu conto
A pedido do bispo
Em escritos certeiros
Que bem avisto
Como tarefa fácil
Pois aos mil
Não se chegará
Disse eu a sorrir
Em conversa de descontrair
Com o bispo a anuir
No exagero que não passará
Dali, pensámos nós
A uma só voz.
Entram duquesas
E outras realezas
Nobres e frades
Com suas vontades
De apetites vorazes
Ao passo que os ases
Das corridas de circuitos
Como príncipes de muitos
Também aparecem
Sem que neles tropecem
Pelo menos por enquanto
À procura de canto
Para autógrafo dado
Quando tal for solicitado.
Membros paroquiais
E conselheiros coloquiais
Chegam com antecipação
Aos deputados que na eleição
Última em consideração
Se tornaram vitais
Para os problemas locais
Serem bem resolvidos
Sem saírem esquecidos
Mas podendo ser lembrados
Pelos também apresentados
Como outrora deputados
Que perderam tais funções
E que serão comilões
Como os anteriores
Caso contrário
Não dariam seus humores
Pelo cear que vazio
No fim mostrará
O apetite que durado terá
Enquanto houve comida
A ser servida.
Governantes e assessores
Secretárias e bajuladores
Dos poderes prometedores
Aparecem às cores
Para que se distinga
De que lado pinga
O suor melhor percebido
Já imaginado em partido
No lugar atribuído
Como conjunto remetido
À certa ala
Na enorme sala
Que mais parece salão
A perder de vista
Quando o que se regista
É que a multidão
Não tem cessação
Pois banqueiros
E demais cavaleiros
Da patronal economia
Entraram quando eu abria
Uma nova secção
Na minha contabilização.
Agora, vejo advogados
E juízes aperaltados
Sendo diagnosticados
Pelos médicos arranjados
Com maior simplicidade
Mas sem perderem a vaidade
Também em presença
Com a arte extensa
Que com ou sem licença
Se distribui por realizadores
Alguns endinheirados produtores
E actrizes com parceiros
Que me parecem actores
Com pontuais encenadores
Misturados com escritores
E suas belas flores
Todos com elegantes roupeiros
Como ajustados suportes
Também para suas consortes
Que não sejam famosas
Mas tenham vistosas
Curvas para exibição
Perante quem lhes dá exposição
Num tal mediatismo
A revelar o jornalismo
Que me deixa estupefacto
Pois pensei que neste acto
Eles não estivessem
Mas como não se esquecem
De tudo o que for mediático
Só posso dar conclusão
Que fui lunático
Quando dei mal suposição
À jornalística ausência
Que daria incidência
A uma boa disposição
Ao bispo de excelência
Caso ele soubesse de antemão
O que eu revi em previsão
Já na sua residência
De tanta opulência
Que deixa em conferência
Quem vem para ceia
Para não sair meia
Como pessoa esfomeada
Mas sim de barriga cheia
E bem comentada
Pelo traje de entrada
Em noite estrelada
Com gente de nomeada.
Catedráticos professores
E necessários instrutores
Com menor mediatismo
Mas tão fundamentais
Desde todo o baptismo
Dão seus sinais
Com a esperada assiduidade
Em honra de individualidade
Como bispo que nem dá conta
Onde estará a ponta
Em extremidade de visitas
Algumas bem esquisitas
Outras apenas em humildade
Ou tributo na verdade
Ao senhor que recebe
Quem dele não se esquece
Independentemente das razões
Nas próprias motivações
Como haver quem tanto bebe
Comendo tudo o que lhe apetece.
Todas as profissões
Parecem estar nas adições
Que eu vou controlando
À medida que apontando
Com dificultada destreza
Apenas com a certeza
Que terei má defesa
Caso cumpra menos bem
Tarefa que convém
À estatística de bispo
Que eu não insisto
Como realmente acessória
Não importando a consideração
Que me vem à memória
Sobre esta ocupação.
Operários não faltam
E até me saltam
Para fora da mente
Conjecturas de nada indiferente
Ponto de vista preocupante
Que estaremos perante
Mais gente no salão
Do que com habitação
Na terra em atenção
Pelo bispo tão importante
Pois se assim não fosse
Não haveria radiante
Multidão que se coce
Por fome que lhe roce
Onde ela não é satisfeita
Por nem ser feita
Em quantidade apreciável
Como sucede por aqui
Com prato ofertável
Em ceia tão agradável.
E quando eu penso
Que tudo já vi
Eis que não há censo
Que ainda me valha
Pois o pouco espaço
Já me atrapalha
Por não ter
Sequer pequeno maço
Para tanto escrever
Sobre visitantes vários
Que trazem armários
E até dromedários
Para carregarem comida
Que apetitosa seja percebida
Quando eu dou saída
Pois acabou o papel
E eu perdi a conta
Na chegada da milésima tonta
Alma ou figura de cordel
Que nem parece fiel
À realidade que se conta
Como sendo de monta
Em valor que se aponta
Tal e qual eu fiz
Para o bispo que me diz
Estar orgulhoso de mim
Quando para uma, olha
Como casual folha
Que até está no fim
Da resma que agrupei
E assim mesmo lhe mostrei
Ficando eu admirado
Como ele parece arredado
Do conteúdo enquadrado
No salão povoado
Inclusive com bichos de porte
Que carregam futura sorte
Em alimentos de sobra
Para quem muito cobra
À bispal boa satisfação
Por ter tantos amigos
Vindos de inúmeros abrigos
E quase todos em degustação
Havendo quem só prefira provisão
Para ter condição
De vida em futuro
Quando eu auguro
Que pouco haverá
De alimento por cá
Para satisfazer todos
Ansiando por tais rodos
No tempo que virá.
O cenário até dará
Para escrita mais
Mas não tenho sinais
Da parte do senhor
De que poderei pôr
Tudo em prosa
Dificilmente cor-de-rosa
Mesmo que ele prefira
Poesia que não fira
Mentes mais susceptíveis
Eventualmente consumíveis
Com determinado enredo.
Como ainda é cedo
O bispo traz mais papel
Para eu dar início
Ao anterior indício
Que ele também idealizou
Para o meu papel
De escritor oficial
Do bispo sem outro igual
Que bem se lembrou
Desta comezana
Que ainda abana
O salão de festas
Onde todas as arestas
Estão apinhadas
E até sufocadas
De pessoas e coisas
Bichos e intrigantes loisas
Que não quiseram
Ficar de fora
Na melhor hora
Em que puderam
Viver tudo isto
Para a escrita onde insisto
Com relato que não resisto
A torná-lo fidedigno
E de criatividade digno
Com os dois num belo misto
Para o enredo que visto
Com recursos estilísticos
Que sejam nobres dísticos
Para depois ser visto
Por toda a gente que registo
Com mais alguém imprevisto
A ficar igualmente bem-visto
Lendo “A ceia do bispo”.

Fonte da imagem: Foto do Autor

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Luís Amorim

Luís Amorim, natural de Oeiras, Portugal, escreve poesia e prosa desde 2005. Tem já escritas cerca de 2800 histórias com 106 livros de ficção publicados, entre os quais, um primeiro em inglês, "Cinema I", onde responde por 28 heterónimos (em prosa e poesia). Dos livros em prosa, tem vinte e oito da série “Contos”, “Terra Ausente”, “A Chegada do Papa” e dois livros de “Pensamentos”. Na poesia, igualmente diversas séries de livros têm alguns volumes, como “Mulheres”, “Tele-visões”, “Almas”, “Sombras”, “Sonhos”, “Fantasias”, “Senhoras” e o herói juvenil “Esquilo-branco”. Todos estas obras de poesia citadas, integram os designados contos poéticos, assim identificados pelo autor, aos quais se acrescentam “Lendas”, “Campeões”, “Músicas”, “Turismo”, “Palavras”, "Flores", “27 Flores”, “Todas as Flores” e mais outros sete do universo “Flores”, onde este elemento surge em todos os enredos, como por exemplo “A ceia do bispo e outros contos poéticos”. A escrita também foi posta em narrativas poéticas, “Beatriz” (inspirada na personagem de "A Divina Comédia" de Dante Alighieri), “Paz”, “O Viajante”, “O Sino”, “A Sereia” e “O Mapa”, este com 3016 versos. Ainda a registar em poesia, “Refrões”, “Sonetos”, “Trovas” e quatro volumes de “Canções”. Dois livros foram publicados segunda vez, então com ilustrações de Paulo Pinto (“Almas”) e Liliana Maia (“Fantasias”). Luís Amorim foi seleccionado por 313 vezes com contos e poemas seus em concursos literários para antologias em livros, revistas e jornais em Portugal, Brasil, Suíça, Colômbia, EUA, Inglaterra e Bangladesh. É colunista da revista “Entre Poetas & Poesias” a partir de 2022 e integrante desde 2021 do Coletivo “Maldohorror”, onde histórias suas são publicadas em ambos os sítios, com regularidade. Tem igualmente publicados 32 livros de Desporto (Automobilismo, Hipismo, Futebol, Vela, Motociclismo) e 4 de Fotografia, o que somando aos 106 de ficção, perfaz um total de 142 livros publicados.

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