Luis Amorim

A capela do monte

Gostava de lugares bastante altos, de preferência no topo das montanhas, onde pudesse estar à vontade e observar tudo à sua volta, as pessoas, fauna, flora e tudo mais que tivesse o privilégio de ver e melhor idealizar, pois o que não conseguisse recolher visualmente, sempre poderia imaginar. Assim, para alargar horizontes, resolveu construir uma capela bem no cimo do monte, dos mais altos que por ali sorria à plena envolvência, não se esquecendo de colocar uma bela imagem sua numa das paredes. Guardou em especial um lugar interior só para si, onde pudesse descansar, reflectir o necessário e orar sem restrições, na companhia do vento, ouvindo-o no cativador diálogo e pensando consigo. Mas nem sempre a própria interiorização tinha contextos positivos, uma vez que aconteciam longe, mas com a sua percepção, numerosas perdas, conflitos, disputas e naturais dores que tinham infeliz existir, socorrendo-se das suas orações para tentar que houvesse uma mudança definitiva para o lado do bem que fosse duradoura. Enquanto isso, havia quem a visse à distância ou intuísse sobre o seu real paradeiro e rezasse com ela, ainda que o conversar na presença do vento, fosse mais eficaz no topo do monte, onde se ouvia melhor o seu caminhar, por vezes em forte ventania, ao redor da capela, sempre pronto a cumprimentar com reverência a senhora e estar na sua companhia durante algum tempo, situação repetida todos os dias. Era quase uma veneração em culto para com ilustre habitante do monte, de quem estava mais para baixo, distante no acesso, mas bem perto na devoção, tal como o vento que ela sempre ouvia silenciosamente quando não conversava com ele. Crianças algumas até pediam aos seus pais se não seria melhor arranjar-lhe um companheiro para não viver tão sozinha, ao que a resposta não tardava na certeza de não ser preciso, uma vez que sozinha ela nunca estava, devido à companhia de toda a gente, a rezar com ela ou apenas sabendo da sua vivência com a proximidade constante do vento, esse notável ouvinte, quando não for ele a dialogar, para a senhora o ouvir tranquila e sossegada.

Fonte da imagem: Foto do Autor

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Luís Amorim

Luís Amorim, natural de Oeiras, Portugal, escreve poesia e prosa desde 2005. Tem já escritas cerca de 2800 histórias com 106 livros de ficção publicados, entre os quais, um primeiro em inglês, "Cinema I", onde responde por 28 heterónimos (em prosa e poesia). Dos livros em prosa, tem vinte e oito da série “Contos”, “Terra Ausente”, “A Chegada do Papa” e dois livros de “Pensamentos”. Na poesia, igualmente diversas séries de livros têm alguns volumes, como “Mulheres”, “Tele-visões”, “Almas”, “Sombras”, “Sonhos”, “Fantasias”, “Senhoras” e o herói juvenil “Esquilo-branco”. Todos estas obras de poesia citadas, integram os designados contos poéticos, assim identificados pelo autor, aos quais se acrescentam “Lendas”, “Campeões”, “Músicas”, “Turismo”, “Palavras”, "Flores", “27 Flores”, “Todas as Flores” e mais outros sete do universo “Flores”, onde este elemento surge em todos os enredos, como por exemplo “A ceia do bispo e outros contos poéticos”. A escrita também foi posta em narrativas poéticas, “Beatriz” (inspirada na personagem de "A Divina Comédia" de Dante Alighieri), “Paz”, “O Viajante”, “O Sino”, “A Sereia” e “O Mapa”, este com 3016 versos. Ainda a registar em poesia, “Refrões”, “Sonetos”, “Trovas” e quatro volumes de “Canções”. Dois livros foram publicados segunda vez, então com ilustrações de Paulo Pinto (“Almas”) e Liliana Maia (“Fantasias”). Luís Amorim foi seleccionado por 312 vezes com contos e poemas seus em concursos literários para antologias em livros, revistas e jornais em Portugal, Brasil, Suíça, Colômbia, EUA, Inglaterra e Bangladesh. É colunista da revista “Entre Poetas & Poesias” a partir de 2022 e integrante desde 2021 do Coletivo “Maldohorror”, onde histórias suas são publicadas em ambos os sítios, com regularidade. Tem igualmente publicados 32 livros de Desporto (Automobilismo, Hipismo, Futebol, Vela, Motociclismo) e 4 de Fotografia, o que somando aos 106 de ficção, perfaz um total de 142 livros publicados.

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