A capela do monte
Gostava de lugares bastante altos, de preferência no topo das montanhas, onde pudesse estar à vontade e observar tudo à sua volta, as pessoas, fauna, flora e tudo mais que tivesse o privilégio de ver e melhor idealizar, pois o que não conseguisse recolher visualmente, sempre poderia imaginar. Assim, para alargar horizontes, resolveu construir uma capela bem no cimo do monte, dos mais altos que por ali sorria à plena envolvência, não se esquecendo de colocar uma bela imagem sua numa das paredes. Guardou em especial um lugar interior só para si, onde pudesse descansar, reflectir o necessário e orar sem restrições, na companhia do vento, ouvindo-o no cativador diálogo e pensando consigo. Mas nem sempre a própria interiorização tinha contextos positivos, uma vez que aconteciam longe, mas com a sua percepção, numerosas perdas, conflitos, disputas e naturais dores que tinham infeliz existir, socorrendo-se das suas orações para tentar que houvesse uma mudança definitiva para o lado do bem que fosse duradoura. Enquanto isso, havia quem a visse à distância ou intuísse sobre o seu real paradeiro e rezasse com ela, ainda que o conversar na presença do vento, fosse mais eficaz no topo do monte, onde se ouvia melhor o seu caminhar, por vezes em forte ventania, ao redor da capela, sempre pronto a cumprimentar com reverência a senhora e estar na sua companhia durante algum tempo, situação repetida todos os dias. Era quase uma veneração em culto para com ilustre habitante do monte, de quem estava mais para baixo, distante no acesso, mas bem perto na devoção, tal como o vento que ela sempre ouvia silenciosamente quando não conversava com ele. Crianças algumas até pediam aos seus pais se não seria melhor arranjar-lhe um companheiro para não viver tão sozinha, ao que a resposta não tardava na certeza de não ser preciso, uma vez que sozinha ela nunca estava, devido à companhia de toda a gente, a rezar com ela ou apenas sabendo da sua vivência com a proximidade constante do vento, esse notável ouvinte, quando não for ele a dialogar, para a senhora o ouvir tranquila e sossegada.
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