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Preguiça
Tenho preguiça de rebater grosserias com falsas sutilezas.
Se acaso percebo uma narrativa patética, examino bem o conteúdo de quem a defende, e me calo. Não para economizar saliva, mas, energia.
Tenho preguiça de confrontar gente ignorante. Um imbecil desce-me menos amargo do que um ignorante.
Acho cansativo tentar acompanhar os rodopios da moda, que gira, gira e cai sempre no mesmo lugar.
Tenho preguiça de consultar o serviço meteorológico. Quando quero saber se vai chover, olho para o céu.
Também tenho preguiça de consultar meu horóscopo. E me arrisco sair à rua sem saber o que vai acontecer.
Dá uma indisposição danada, discutir coisas que eu não sei, com quem sabe menos ainda.
Vontade eu tenho, de usar minha pequenez para sabotar alguém, mas, lembro-me do quão difícil é limpar uma consciência suja, e me dá preguiça.
Tenho preguiça de explicar que o conceito de felicidade não é universal, é individual. E que para ser feliz eu não preciso ter, só preciso ser.
Tenho preguiça de tentar me vender nas gondolas exigentes da sociedade.
Tenho preguiça de explicar que vamos todos para o mesmo lugar, só que por caminhos distintos. E que cada um de nós é uma estrela, cujo lume se destaca, sem a necessidade de eclipsar a estrela vizinha.
Queria também tentar explicar tanta coisa, mas, há tanta gente explicando tanto. Além do mais, tenho preguiça…
